Explicando Adão e Eva para o homem pós-Cristão - Parte 1

Introdução

Este texto faz parte de uma série de estudos cujo objetivo é expor o Livro de Gênesis de modo que o homem desta chamada “era pós-cristã” possa compreendê-lo. Muitos dos problemas na interpretação do Livro de Gênesis estão no fato de que o leitor mediano traz a mentalidade pós-cristã típica para a leitura, carregando com ela todos os seus pressupostos que vão da pseudo-ciência dos documentários e séries televisivos de qualidade duvidosa até um iluminismo cientificista que mistura Nieztche, Karl Barth e Voltaire.
Os capítulos selecionados desta obra, que apresentaremos a partir do Jardim Clonal de Dezembro, enfocam algo mui precioso para a Sã Teologia: as figuras de Adão e Eva. O objetivo é expor essas figuras para o homem pós-cristão, estabelecendo paralelos e contrastes entre sua visão de mundo e aquela sustentada pela Bíblia.
Que o Senhor, fonte da verdadeira sabedoria manifestada na Cruz, abra-nos as mentes pelo Seu Santo Espírito, de modo que se nos revele a Palavra dEle, em Cristo Jesus e na Escritura, segundo seus mútuos testemunhos, levando-nos, doce e graciosamente, cativos aos Seus pés.

A Incapacidade Científica
Muitas pessoas criticam o Livro de Gênesis da Bíblia porque julgam os eventos ali narrados distantes da realidade que conhecem ou das teorias científicas que adotaram. Todavia, qual a justificativa para afirmar que o seu conceito de realidade ou que determinada teoria científica é o mais adequado para interpretar as informações contidas na Escritura? Não há uma justificativa real, mas um conjunto de idéias preconcebidas baseadas na predileção por determinada teoria ou filosofia – não há nada fora da mente do próprio incrédulo em que se baseie a lógica de seu julgamento, portanto, não há sequer lógica real quando o tal questiona a historicidade do Gênesis. Por exemplo: Um cristão professo, adepto de uma teologia liberal, nega que Adão tenha sido um homem real em um tempo real – aplica-lhe algum tipo de alegoria e justifica-se afirmando que a comprovada Teoria de Darwin já pôs o ponto final na discussão sobre a origem da vida. Quando confrontado a explicar como a Teoria da Evolução sustenta o que propõe, tal homem de aparência cristã repetirá alguns conceitos cristalizados que a mídia, ou alguém de boa lábia lhe ensinou. Contudo, não somente a realidade dos fatos envolvidos na coleta de dados da pesquisa cientifica é questionável, e tal dito cristão não tem como comprová-los, quanto (o que é pior), o método científico é, per si, falso. Analisemos porque afirmo que o método científico é falso: Imagine que um cientista descubra um determinado elemento químico. Ele realiza testes e obtém uma série de resultados similares; então cria uma equação que descreve o comportamento desse elemento. Tal equação não gerará sempre exatamente os resultados que um teste real geraria (porque é impossível prever todas as condições possíveis que influenciariam o tal elemento), mas, por aproximação, a equação que o cientista criou gera resultados similares àqueles dos testes. Além disto, ela não é a única equação possível para estes resultados, mas é apenas a equação que, arbitrariamente, o cientista escolheu. Ora, já neste ponto inicial da pesquisa vemos que não se trata da realidade, mas da arte do cientista em adequá-la aos seus instrumentos e idéias, uma aproximação de uma série de subprodutos similares aos objetos reais: a ciência não trabalha com provas, refutações ou fatos conclusivos, ela apenas, segundo o destacado epistemologista ateu Peter Lipton, “pesa as evidências e julga a probabilidade”. Agora preste atenção ainda mais neste detalhe: Tomando o resultado dos testes realizados por causa de uma hipótese, o cientista elabora um resultado geral – a citada equação, por exemplo. Com base neste resultado outro cientista cria uma teoria que afirma a hipótese como realidade – o que isto significa? Que o método científico tenta alcançar a verdade através de uma sucessão de dados falsos, que se aproximam da realidade. Mas ainda pior é a estruturação do argumento que baseia o método científico:
1) Se A, então B.
2) B.
3) Portanto A.
Para entendermos melhor isto, vejamos os seguintes exemplos desta estrutura lógica com a qual a ciência trabalha:
1) “Se 100 vezes eu pressionei este botão azul e a luz azul acendeu 100 vezes, então este botão acende a luz azul; veja, esta luz vermelha acendeu quando pressionei este botão vermelho, portanto, se eu pressioná-lo 100 vezes a luz vermelha acenderá 100 vezes”
2) “Se a roupa do meu bebê ficou exposta à Lua Cheia enquanto secava e neste dia meu bebê teve cólica, então a Lua Cheia sobre a roupa do bebê causa cólica; hoje, repentinamente meu bebê teve cólica de novo, portanto, a roupa dele ficou exposta a Lua Cheia e ninguém deve ter percebido.”

Percebem a incongruência de usar esta ordem de pensamentos? Ela facilmente nos conduz à conclusões absurdas! Esta forma de raciocínio é o que se chama de falácia formal: ela tenta passar uma informação como verdadeira apesar dos argumentos serem insustentáveis. Que diremos então, de uma falácia baseada em dados que não correspondem à realidade? Como é esta a natureza do método científico (pura indução e especulação), concluímos que: Como o método de pesquisa científica atual se baseia em empirismo e especulações, e toda lei científica é baseada em raciocínio falacioso – note, um argumento falacioso é um argumento falso – então, toda teoria científica, e as conclusões que vierem dela, são igualmente falsas, no sentido de que não são uma representação verdadeira do Universo.
Karl Popper, célebre autor que escreve sobre a filosofia da ciência, diz: “Pode ser até mesmo mostrado que todas as teorias, incluindo as melhores, têm a mesma probabilidade, a saber, zero”. Bertrand Russell, matemático, logicista e inimigo do cristianismo – cito mais um anti-Cristão para provar que o que aqui ensino não é partidarismo Cristão – diz, a respeito das falácias inerentes ao método científico: “Se eu fosse promover tal argumentação, certamente pensariam que sou louco, todavia, ela não seria fundamentalmente diferente do argumento sobre o qual todas as leis científicas são baseadas”.
Repito: O método científico usa informações falsas para abastecer argumentos falaciosos. Assim, (sinto desapontar os adoradores da idéia científica) não há outra coisa a fazer exceto admitir que a ciência deixada por si só é pervertida e vã. Os cientistas mesmo sabem disto, quando são honestos. Cito mais uma vez Karl Popper que, por sua vez, cita Einstein a respeito da sua teoria, referindo aos seguintes dizeres de Einstein: apesar de ser “uma melhor aproximação da realidade do que a teoria de Newton”, “sua teoria era falsa” até quando todos os resultados eram os esperados. A causa dessa falsidade não é, segundo Popper e Einstein, um erro na teoria, mas resultado da natureza da ciência. Com o mesmo sentido, Sir Martin Rees, presidente da Royal Society (sociedade que reúne os principais cientistas da Inglaterra), conclui, em seu livro Cosmic Habitat, que algumas questões fundamentais da existência acabam “além da ciência”. Logo, para o bem da humanidade, de sua própria racionalidade, e do destino Eterno de sua alma, é bom recuar um passo antes de depositar na ciência uma confiança e uma esperança que os grandes cientistas mesmo admitem que não lhe cabe.

A Boa Ciência versus o Cientificismo
Não é estranho que a ciência seja assim pois, de outro modo, não poderia negar-se como comumente se nega, com suas teorias caindo e sendo constantemente substituídas por outras. A ciência é mutável e esta é a sua beleza, e o homem que conhece esta beleza e o tipo de conhecimento que a ciência gera não se torna um defensor aguerrido das suas teorias, nem as usa para amoldar sua compreensão de mundo, mas busca o lugar delas no cenário já composto. A ciência extrai seu conteúdo da natureza, e a natureza proclama a Deus sem levar a um perfeito conhecimento dEle – a natureza faz Deus conhecido sem, no entanto, expressar-se em termos científicos, Cristãos ou panteístas. Se homens têm reconhecido o Deus Cristão na natureza, eles só o têm feito porque Deus se revelou a eles primeiro, pelo poder do Santo Espírito operando o Evangelho; o homem a quem Deus não tocou se fixa na ignorância de Seu Ser. Assim, se a natureza não impõe uma visão teísta sobre a ciência, também cabe à ciência não impor uma visão científica sobre o conhecimento de Deus. A boa ciência comunica, a respeito de Deus, o mesmo que a natureza comunica. Mas a boa ciência tem sido contaminada por mero cientificismo. O cientificista, por seus erros e exageros, limita seu olhar sobre o universo adotando o mote “não há verdade fora da verdade científica”. Isso o guiará ao naturalismo (a negação do sobrenatural porque não se pode prová-lo empiricamente), ao materialismo (a negação de que algo transcendente exista), ao evolucionismo filosófico (a aplicação do darwinismo a todas as áreas humanas), ao humanismo científico ou à outros extremos perniciosos. Essa ciência infecciosa está nos livros escolares, documentários, filosofias políticas e filmes de ficção; ela é religiosa, no pior sentido do termo – seus adeptos são fariseus super-iluministas, grotecos fundamentalistas de raciocínio obscurecido. O cientificismo é inimigo de todo verdadeiro conhecimento, tanto o científico quanto o Cristão.
Não cometamos injustiça: ainda existe a boa ciência, que não emite vereditos sobre o que não é capaz de alcançar, porque não tira conclusões de onde não é possível tirar. Não há inimizade entre a boa ciência e a Escritura, pois a boa ciência submete a Criação ao homem, segundo o mandato de Deus. Aprendemos, exatamente do Livro de Gênesis, que o Criador do Universo é também o Senhor da Ciência e da Tecnologia. Em Êxodo 35:31-32a lemos: “E o Espírito de Deus o encheu de sabedoria, entendimento e ciência em todo artifício, e para inventar invenções...” assim também no versículo 35 e no capítulo seguinte, como também se depreende de Gênesis 4:20-22 onde Jubal, Jabal e Tubalcaim inauguram gerações de criadores de gado, músicos e mestres de toda obra de cobre e ferro. Há ainda Gênesis 2:9-15 que descreve o Jardim do Éden como possuindo metais preciosos e pedras preciosas para o deleite e trabalho do homem. A boa ciência revela a comunicação do Criador através da Criação, e glorifica-O com humildade e reverência, tomando para si o belo e conhecido dito do grande astrônomo chamado Kepler: “Ó Deus, graças Te dou por me haveres permitido pensar os Teus pensamentos depois de Ti”. Por isso, o mote da boa ciência é: “A verdade está fora da ciência, mas nos é permitido tocar na orla de seu manto”.