Por volta do ano 750 a.C. havia um profeta, provavelmente um homem da tribo de Issacar. Nesta época, Israel havia se dividido em dois reinos pela insensatez de Roboão, filho de Salomão. O profeta do qual falamos vivia no Reino do Norte de Israel. Seu nome era Oséias, e o Deus Todo-Poderoso o enviara para expor o pecado do povo, para que pesasse sobre eles a quebra da Aliança: eles haviam se tornado corruptos em suas vidas e no culto que prestavam - se esqueceram do Senhor que os resgatou.
Muitas eram as vozes dos falsos mestres, e suas bocas estavam cheias do engano. Aos homens diziam: Vinde, cultuemos ao Deus que nos tirou da terra do Egito, vinde o cultuemos com danças, façamos sacrifícios para termos prosperidade e saúde, fertilidade e riquezas, cultuemos nos novos altares que erguemos, com os novos sacerdotes a quem servimos, ouçamos seus profetas que nos trarão revelações e oráculos. Com os postes-ídolos o cultuemos. Que separação há entre Deus e os seus servos espirituais, entre Deus e a natureza? Cultuemos ao Senhor pelos Baalim. Que separação há entre Deus e os seus servos espirituais? Cultuemos conforme aprendemos com nossa tradição, como aprendemos com as revelações que nossos profetas dão, como nosso rei tem comandado, como nossos irmãos cananeus tem feito pelos séculos! Porque não fazê-lo? Não vêem que somos prósperos, que o reino tem paz e nós saúde? Deus se agrada de nosso novo culto, Ele quer que deixemos o culto que herdamos de nossos pais. Não estavam eles presos às Escrituras e ignorando que Deus é vivo? Esse era o chamado para o engano, essa era a tentação que assediava o povo de Deus, e por esse caminho seguiram tantos que a verdadeira religião se tornara quase invisível.Mas o clamor do profeta Oséias era o clamor de um verdadeiro profeta, e o vemos pela harmonia entre ele e os outros verdadeiros profetas que passaram por Israel. Sua pregação era: Voltai, ó Israel, à fé genuína em que andou vossos pais, à Aliança que nossos pais guardaram. Como o ensino do profeta Jeremias, sua doutrina ressoava: “peguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma”. [Jr. 6:16] E sua profecia era a de julgamento: “farei cessar todo o seu gozo, e as suas festas, e as suas luas novas, e os seus sábados, e todas as suas festividades... diz o SENHOR, porque semeiam vento e segarão tormentas; não haverá seara; a erva não dará farinha; e, se a der, come-la-ão os estrangeiros. Não derramarão libações de vinho ao SENHOR, nem os seus sacrifícios lhe serão agradáveis; seu pão será como pão de pranteadores, todos os que dele comerem serão imundos” [Os. 2:11, 8:7, 9:4]. Desprezando a mensagem do profeta, o povo que se chamava pelo nome do Senhor entregava-se às suas festas, regozijava-se em suas festividades, olhava para a nova teologia e para a nova liturgia que havia criado e cria que estava justificado diante de Deus, esperando dEle as recompensas por seus novos hábitos e sua nova compreensão do universo [Os. 2:5-17, 4:11-15, 9:1-5, 10:1-8, 2 Rs. 23:4-9]. Esses ímpios israelitas acreditavam que a riqueza e a prosperidade do reino era um sinal de que Deus aceitava esse culto renovado que eles prestavam - e o reinado de Jeroboão, quando Oséias começou a profetizar, era um reinado próspero [Os. 2:5,8,13]. No entanto, ainda que a nação desfrutasse de inúmeras vitórias e o povo vivesse a opulência, isto não era um sinal da aprovação do Senhor; antes, Deus suportava-os até que se enchesse a medida de Sua Santa Ira. A abundância que eles pensavam vir de Deus como benção para um povo que O agradara, Deus lhes deu para provar seus corações, e Deus mesmo a varreria; e a nova igreja que criaram, impregnada de justiça própria e tolerância com a mentira, Deus considerou um insulto.Enquanto isso, ao redor do Reino de Israel, a guerra siro-efraimita eclodira. O Reino da Assíria ameaçava engolir os reinos da região, subjugando-os ao seu império. E o rei Peca, rei de Israel, não recorreu ao Senhor; antes, “sem entendimento” buscou a Síria e o Egito [Os. 7:11]. A corrupção da religião afasta o coração de Deus; quem confia ao homem o controle da Igreja, confia ao homem tudo o mais. Quão infeliz é a decisão de trocar a proteção do Rei Eterno pelo abrigo instável de mil reis humanos ou o conselho dAquele que criou o universo pelo conselho de mil sábios! “Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!” [Jr. 17:5] O Rei da Assíria “não poderá curá-los, nem sarar a sua chaga.” [Os. 5:13], porém o Senhor é “Deus e não homem, o Santo no meio de ti” [Os. 11:9], “Ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará” [Os. 6:1].
E o profeta Oséias lhes disse estas palavras, assim foi sua profecia, segundo o Espírito Santo o inspirou a falar. Zelando pela Igreja de Israel, pelo Nome do Altíssimo, Oséias condena o adultério da nação – recorrer ao homem em lugar de recorrer ao Senhor é pecado de idolatria; trazer para a religião verdadeira princípios que não foram prescritos por Deus mesmo é, igualmente, pecado de idolatria; mesclar a adoração ao Senhor com aquilo que o enganoso e perverso coração humano [Jr. 17:9] cria e incita é abominação contra o Santo de Israel. Tendo sido entregues ao erro, o rei, os príncipes, os profetas e os sacerdotes guiaram o povo, e creram na mentira [2 Ts 2:11 ] e o Senhor “os entregou à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração” [Rm. 1:24]. Por amarem o que é torpe eles se tornaram torpes [Os. 9:10], e assim eles “praticam a falsidade; por dentro há ladrões, e por fora rouba a horda de salteadores. Com a sua malícia, alegram o rei e com as suas mentiras, aos príncipes. Todos eles são adúlteros. No dia da festa do nosso rei, os príncipes se tornaram doentes com o excitamento do vinho, e ele deu a mão aos escarnecedores.” [Os. 7:1,3-5].
A este profeta, Deus ordenara que figurativamente se casasse com uma prostituta, uma mulher de prostituição e tivesse filhos de prostituição [Os. 1.2]. Assim, quando diante do povo Oséias proclamava sua mensagem e expunha a si como marido de uma adúltera, ali era vividamente visível a dor e a angústia daquele que amava a infiel. Essa era a mesma dor e o mesmo clamor por Justiça que o Senhor tinha em relação à adúltera Igreja de Israel, que se afastara dAquele que a tirou da terra do Egito, para se submeter à mente daqueles que eram espiritualmente semelhantes aos egípcios, partilhando das mesmas trevas. Nisto a gravidade da mensagem profética de Oséias é destacada. Como todo profeta, suas palavras são palavras de dor, são o ensino de que o pecado gera morte e que o arrependimento do que crê que Deus somente é a sua justiça, gera a vida. Como todo profeta, Oséias contende com aqueles para quem profetiza; ele personifica a voz da ira de Deus anunciando a destruição sobre os que não se convertem. Adivinhos e feiticeiros prevêem o futuro para o proveito, entretenimento e provação dos homens [Dt. 13; 18, Mt.16.16 ], mas profetas verdadeiros anunciam o Juízo e a Salvação, pela revelação de Deus. Verdadeiros profetas são intérpretes da Lei e atalaias de Cristo. Assim, o objetivo da profecia de Oséias, como de toda profecia, é anunciar redenção, trazer humildade ao coração dos homens, humilhá-los ante a Deus e assim conduzí-los para Sua Luz. A Igreja Verdadeira vive da voz profética: é a profecia que exorta o verdadeiro Cristão à fidelidade revelando a natureza de Deus, e nos anuncia a esperança do porvir. A pregação do Evangelho é a voz profética do Velho Testamento na Nova Aliança; “Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho” [Hb. 1.1]. E, Oséias, como a Igreja deve fazer, não usa de retórica e eufemismos para diminuir a rudeza do ensino, nem se fixa em coisas amenas e bendições ou em anedotas e historietas agradáveis, nem busca exaltar o melhor lado do homem e atraí-lo com subterfúgios para as coisas do espírito, nem convida os homens para festividades melhores do que as do falso culto. Oséias não perde seu tempo agradando homens, não há meias palavras, ouvimos nele a admoestação do Senhor: Como uma mulher infiel e adúltera, é esse povo. Como a pior das meretrizes se enche de abominações e descaradamente volta para seu marido, esse povo se entrega a prostituições e depois Me buscam. Me chamam pelo nome de seus falsos deuses, e se gloriam em suas obras perversas. Pois se já foram chamados pelo meu Nome - Filhos de Deus, eis que hoje Eu repudio essa Igreja, Eu vomito o meu povo da minha boca e não mais serão chamados de meus filhos. Como uma mulher adúltera, o povo, os sacerdotes e até os profetas estavam pervertidos. Eles haviam deixado a maneira pura, simples, a antiga vereda, a maneira correta de servir ao Senhor; eles haviam deixado o Espírito e a Verdade, deixado o culto prescrito pela Lei para elaborarem um culto segundo a sua mente e criatividade, segundo o espírito humano. Foram atraídos pelo incenso estranho de Nadabe e Abiú, pereceram na contradição de Coré, amaram o engano de Balaão. Eles construíram uma falsa religião centrada neles mesmos e não se separaram do mundo apóstata – adotaram em seu meio doutrinas dos ímpios cananeus e revestiram os costumes ímpios com uma aparência de religião verdadeira. Eles contaminaram o Povo de Deus, encheram a Casa do Senhor da mesma imundície que evocou a ira de Deus contra os povos que Ele expulsara da terra de Canaã. Eles amaram a obscenidade e a vontade da carne, e o fizeram cheios de misticismo, seduzidos pela falsa oportunidade de experimentarem uma nova relação com Deus, escolhendo viver segundo o que sentiam ser religião mais próxima de Deus – eles não julgavam segundo a reta doutrina mas segundo o que lhes parecia ser melhor; e eis onde erraram, pois obscurecidos em suas mentes carnais, julgando segundo sua própria experiência e sentimentos, concluíram que Deus lhes era Mestre e Proprietário, mas não o viram como o Legislador, Juiz e Justificador, Misericordioso e Longânimo.“Retornarei, e tirarei meu trigo em seu tempo, e meu vinho novo em seu tempo determinado.” [Os. 2.9] são as palavras do Senhor que o profeta diz, e nelas ouvimos o Senhor dizer: Adúlteros e ímpios, recebestes com prazer o bem que vos dei, recebereis vós com o mesmo prazer o mal que vos farei? Ou amastes mais ao pão que multipliquei e ao vinho que vos dei do que a mim? De súbito virá sobre vós a espada; de uma só escorregarão. O que vos tenho dado, tornarei de volta a mim, até a minha Palavra e a minha Aliança tirarei de vós. Duros de coração e hipócritas, buscastes aos homens abomináveis e ao povo que eu rejeitei para ouvirdes de mim, e não me buscardes a mim mesmo? Não sabeis que o que procede da carne é carne e o que procede do Espírito é espírito? Semeastes na carne, na carne colhereis, ao ensino de homens ouvistes, à concupiscência da carne se dobrarão.
Quão perverso é o homem que se alegra nas bênçãos divinas, contudo não se alegra em Deus mesmo! Os que assim agem dão glória à criatura em lugar do Criador, e abandonam a autoridade do Senhor, pois na verdade se curvam ante às operações e ao poder de Deus e não ante a Deus mesmo. São como os demônios que crêem em Deus e temem, mas não vivem segundo a vontade do Altíssimo. Falta-lhes a compreensão verdadeira de Deus. E é assim que todo homem seduzido pelo misticismo pagão se porta, ainda que o misticismo se apresente travestido de verdadeira religião ou misturado com esta. “Pela força eu levarei minha lã e meu linho” [Os. 2.9], lhes condena o Senhor. Assim lhes diz: Impropriamente vós tendes usufruído dos meus dons, para seus próprios deleites tendes usado minhas bênçãos. Com essas coisas tendes coberto a vossa nudez. Contudo, Eu mesmo resgatarei o que sem vos pertencer tendes mantido convosco, pois até a meu Nome e a minha Palavra vós tendes tentado manter cativo. Tudo isto vos tomarei, todo dom e toda bênção, e correreis aos ímpios e escarnecedores para receberdes o que amardes, e se fará visível a vossa vergonha e patente o vosso adultério!
Quão apropriada é esta condenação para os nossos dias! Estamos cercados de homens que se ocultam sob a falsa religião, mas que não buscam nada além de agradar a si mesmos usufruindo impropriamente dos dons de Deus e pervertendo a religião com misticismos, supertições e tradições humanas. Eles enchem seus lábios para falar de Deus, e até de nosso Senhor Cristo Jesus, mas estão cegos para seus próprios pecados, porque ainda não lhes sobreveio o julgamento. Força, vigor, riqueza, saúde, tudo havia em Israel quando Oséias lhes anunciava a ira de Deus, e nem por isso estava nestas coisas um sinal da aceitação diante do Pai. Que os hipócritas chorem e se lamentem em sua prosperidade, que os aduladores se humilhem em seus êxitos, que os grandes caiam por terra diante do Altíssimo, porque sua derrocada não tardará! Se humilharem-se e buscarem ao Senhor, se submeterem-se a sua Palavra, se abandonarem os preceitos de homens, se derem ao Senhor toda a glória e refugiarem-se somente nEle, Sua Santa Ira não os alcançara. Caso contrário, tudo o que podem esperar é fogo, trevas e dor.
Que possamos ouvir as palavras de Oséias, e atentar a ele, e ao Espírito Santo que o inspirou a falar. Zelando pela Igreja de Israel, pelo Nome do Altíssimo, é Oséias mesmo, cujo sangue ainda fala como falou o sangue de Abel; é Oséias mesmo que condena o adultério dos que se chamam Igreja de Cristo, como outrora condenou o de Israel. O machado está a raiz da árvore, e esta será derribada se não produzir fruto: todo que professa o nome de Cristo mas é espiritualmente adúltero, ou é moralmente adúltero, ou tem ânimo dobre, está encerrado sob uma aparência de religião e não conhece a Verdade. Não se deixem enganar pela sutileza do ensino relativista moderno: todo o que recorre ao homem em lugar de recorrer ao Senhor, todo o que deposita sua fé última no homem e não no Senhor, todo que o faz é pecador e idólatra; todo o que traz para a religião verdadeira princípios que não foram prescritos por Deus mesmo é, igualmente, pecador e idólatra; todo o que mesclar a adoração ao Senhor com aquilo que o enganoso e perverso coração humano [Jr. 17:9] cria e incita comete abominação contra o Santo de Israel. Em Israel, tendo sido entregues ao erro, o rei, os príncipes, os profetas e os sacerdotes guiaram o povo, e creram na mentira [2 Ts 2:11 ] e o Senhor “os entregou à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração” [Rm. 1:24]. Hoje nossos governantes, os pretensos profetas, os sacerdotes que devoram os rebanhos de Cristo, crêem na mentira e o Senhor os têm entregue à toda sorte de vergonha pública e de desejos perversos. Nossos líderes têm se esvaziado da Palavra de Deus e aberto suas portas para doutrinas místicas, pagãs e centradas no homem e, por amarem o que é torpe eles se tornaram torpes [Os. 9:10], assim eles “praticam a falsidade; por dentro há ladrões, e por fora rouba a horda de salteadores. Com a sua malícia, alegram o rei e com as suas mentiras, aos príncipes. Todos eles são adúlteros. No dia da festa do nosso rei, os príncipes se tornaram doentes com o excitamento do vinho, e ele deu a mão aos escarnecedores.” [Os. 7:1,3-5].
Ah, Povo de Deus! Temam o julgamento que Oséias anuncia, pois se Deus foi severo com os ramos originais da Oliveira, quão mais podemos nós, ramos enxertados, sofrer a Sua Ira! Fujam do meio dessa igreja adúltera, enquanto há tempo, voltem à Palavra enquanto se pode achá-la!
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