Esta é a última edição desta série de estudos sobre a relação entre a visão de mundo da sociedade descristianizada e a cosmovisão bíblica. Já mostramos as falhas da visão de mundo pós-cristã, e como seu fundamento científico não é tão confiável quanto seus proponentes afirmam ser. Já mostramos também o que a Escritura é suficiente e necessária para todo Cristão, que a Palavra está intimamente relacionada com o ser de Deus e que é o meio apontado pelo Senhor para a operação a Redenção em Cristo no coração dos homens e conseqüentemente, na sociedade. Agora, estabeleceremos um diálogo que partirá do conhecimento da Escritura em direção à cultura que nos permeia, com o objetivo de esclarecer o profundo e espiritual sentido de Gênesis e sua perfeita racionalidade, usando (e buscando equipar os Cristãos para que saibam usar) linguagem e comparações acessíveis ao homem contemporâneo.
Um Esboço de Gênesis
Primeiro, devemos compreender parte do proveito da posição desta narrativa, como primeiro capítulo da Escritura. Dizem os incrédulos: Seria melhor começar de outra forma, este relato da criação não me convence; alguns deles (ainda com menos temor e mais tolice) até sugerem: Poderia começar com provas sobre a existência de Deus e com métodos que permitissem comprovar isto. Porém a Escritura nos diz que sem fé é impossível agradar ao Senhor e que “é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11:6). Assim, a Escritura requer que quem se aproxima de Deus creia que Ele existe; quem se achega à Bíblia deve assumir, anteriormente, que Deus existe e que Ele recompensará esta busca – de outra forma é inútil aproximar-se da Escritura, pois o homem incrédulo, quando de coração endurecido, não será capaz, pela sua natureza perversa, de submeter-se ao que o Senhor ensina em Sua Palavra. Antes, o incrédulo, com seu entendimento entenebrecido, entra em uma disputa com o texto da Bíblia, julgando-se mais sábio e, com curiosidade maligna, inquire a Escritura para destruição e não para aprendizado. Por isso a Escritura, em seu primeiro versículo, diz apenas “No princípio, criou Deus...” - para que o coração humano não seja incitado ao erro de enveredar-se em pecaminosa curiosidade, mas para que seja simplesmente instruído a crer em Deus como Verdade inicial para reflexão sobre a cosmovisão Bíblica. Munidos desta compreensão obtida pela luz de Hebreus 11:6 e Gênesis 1:1 podemos perceber o início da Escritura como algo mais do que uma simples narrativa da Criação do universo, pois, em Gênesis:
1) Moisés emparelhou e diferenciou, propositalmente, as antigas narrativas (Gênesis 5:1, cf. Números 21:14) da Verdadeira Criação (possivelmente preservadas por profetas antediluvianos como Enoque, e pósdiluvianos da descendência de Noé) e as figuras e linguagens do antigo Oriente próximo. Desta forma, relatos míticos como o Enuma Elish, a Epopéia de Atrahasis e a Epopéia de Gilgamesh, são corrigidos e contrabalanceados pela Verdade da Escritura. O fato de que haviam essas histórias sobre a Criação no Oriente próximo, e de que elas guardavam certa semelhança com a base sobre a qual Moisés escreveu Gênesis, demonstra como antigas narrativas da Verdadeira Criação foram preservadas não só junto aos Hebreus, mas a todos os povos. Porém, em tais relatos míticos estrangeiros, os homens acrescentaram e alteraram a Verdade para favorecerem seus pecados. Moisés, em Gênesis, resgata a Verdade antiga mantendo a comparação com os mitos da época – de um modo que nem a Verdade foi subtraída em nada, nem a Escritura foi composta de uma forma completamente alheia ao povo. Aparentemente isto cria um hiato entre a linguagem de Gênesis e a nossa cultura, que não possui mais os símbolos e figuras dos Hebreus e do antigo Oriente. Contudo, segundo a inspiração do Santo Espírito, Moisés teceu Gênesis na forma de uma defesa da concepção de vida Cristã contra as diversas formulações filosóficas representadas por estes mitos, representações filosóficas que são basilares aos diversos sistemas de pensamentos não-Cristãos, inclusive aos que existem hoje. Como já notamos, essas mitologias haviam derivado da Verdadeira história da Criação e, por isso, podemos afirmar que suas verdades essenciais devem seus elementos à Verdade Revelada de Deus. Portanto, ocorre entre Gênesis e estes mitos de Criação, o mesmo que demonstramos, na Edição número onze, ocorrer entre a cosmovisão Cristã e a Científica: a Ciência acaba devendo ao mundo Cristão e à natureza de Deus todas as suas bases. Como os homens torcem as conseqüências dessas premissas para fugirem da condenação que o desenvolvimento lógico delas anuncia (condenação para todo o que não se submete ao Senhor), as visões de mundo produzidas por eles são sempre autocontraditórias. Por exemplo, no capítulo 1, os versículos 1, 3, 9, 11, 14, 20, 24 e 26 nos dão base para destruirmos os argumentos das filosofias panteístas (acreditam que seu deus e o universo são uma só coisa), e os versículos 14-18 nos instruem sobre como eliminar as premissas das cosmovisões que idolatram, direta ou indiretamente, os corpos celestes. É deste ponto que concluímos que Moisés nos legou mais do que um simples relato da Criação: Gênesis formula a base apologética da defesa da Fé Cristã – a descrição de um padrão interno à Fé, um padrão que inicia com um salto de confiança ao assumir como verdadeira uma proposta Revelada por Deus na Escritura, uma proposta que sustenta a lógica do sistema, permite a dedução de outras verdades e se retroalimenta das evidências do sistema (pelo fato do sistema não se refutar em nenhuma de suas partes).
2) Há uma repetida e constante descrição dos termos da Aliança ou Pacto firmado pelo Soberano Rei do Universo com Seu Povo Escolhido. As narrativas de Gênesis ilustram a Lei de Deus (que regula a Aliança) através da aplicação histórica e do relato da origem de cada preceito. Em Gênesis 2:2-3 temos o princípio Sabático; em Gênesis 17:9-14 temos, na circuncisão, o princípio da confissão pública e corporativa de fé na admissão de um homem ao Povo da Aliança, assim como o princípio de que cada membro do Povo pertence plenamente ao Senhor – que será o provedor de seu crescimento. Note, ainda por paralelismo, que os versos do capítulo 1 de Gênesis também denotam esta noção Pactual de Deus; especificamente elas introduzem o conceito de que Deus age segundo a figura de um Suserano, ou seja, de um poderoso Rei cuja nação se apodera das relações exteriores de uma nação menor, para segurança e provisão da mesma, fazendo dela uma nação de servos e de seu rei, um vassalo. Nos três primeiros dias da Criação, Gênesis relata Deus forjando um reino a ser dominado. São criados os céus empíreos - a habitação do trono de Deus e dos Santos anjos, a imensidão do espaço exterior e a massa desforme que seria moldada em nossa habitação (isto só no versículo 1). Segue-se a criação da Luz (Gênesis 1:3) - uma superestrutura de luz ainda não instanciada em nenhum veículo (o sol e as estrelas só seriam criados no quarto dia) porém já nomeando o dia e a noite segundo a separação que Deus faz entre esta luz e as trevas que “haviam sobre a face do abismo” (Gênesis 1:2). O Senhor cria ainda, em seqüência, o firmamento (Gênesis 1:6), os mares e a terra seca (Gênesis 1:9) e a vegetação (Gênesis 1:11). Estes elementos representam a Provisão de Deus em suprir um reino, um ambiente a ser governado, uma nação de servos. Nos três dias seguintes, o Senhor provê os governantes: luzeiros para “governarem o dia e a noite” (Gênesis 1:18); os animais para multiplicarem-se, dominando seus ambientes (Gênesis 1:20-22), e o homem para dominar “sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam” (Gênesis 1:26;28; Salmo 8:6-8). Assim o Senhor aproxima-se da própria Criação, desde seus primeiros momentos, de forma Pactual. Deus faz-se a Majestade dominante (Salmo 8:1;3) e evidente sobre toda a Criação, a quem empresta Glória na qual é louvado. Como poderoso Rei, Deus institui governos e leis sobre o reino dominado, onde cada governador é seu vassalo. Vemos, no Salmo 19 nos versículos de 4 a 6, Deus sendo louvado pela obediência do sol em cumprir seu caminho diário, segundo o Senhor o instituiu a fazê-lo. Da mesma forma como o sol governa o dia (Gênesis 1:20) e, como vassalo, submete-se em seu domínio ao Deus Criador, segundo os termos de uma Aliança criada e mantida somente por Deus, assim Adão foi instituído governador sobre a Criação, para submetê-la consigo mesmo ao domínio de Deus, segundo os termos de uma Aliança criada e instituída por Deus. Contudo, Adão foi feito à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26). Ele foi feito representante perfeito e ideal de Deus, corpo e alma, feito para relacionar-se com o Criador, para compreender e responder ao Pacto que Deus firmou com ele, andando em santos caminhos e reinando de forma benevolente. Diferente de tudo o mais na Criação, o ser humano foi criado como ser pessoal e autoconsciente, e não era impelido por nada em sua natureza, nem para obediência nem para desobediência. Teologicamente, chama-se a Aliança de Deus com Adão de Aliança das Obras, porque a permanência do estado de plenitude em Cristo, desfrutada por Adão, dependia de uma perfeita e absoluta fidelidade ao Senhor. Não havia misericórdia para o pecador, apenas condenação irrevogável: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 3:17). E Adão quebrou este Pacto com o Rei e Deus Eterno, tomando o fruto oferecido por Eva (Gênesis 4:6); nisto ele selou uma outra Aliança que perdura até hoje: a comunhão da carne com Satanás, o “deus deste século” (2 Coríntios 4:4). Que infeliz este Pacto com o príncipe da morte e das trevas! Porque em Adão todos caímos (Gênesis 6:5; 1 Coríntios 15:22; Romanos 5:12,19), pois, sendo ele governador de toda Criação, seu Pacto com Satanás foi um conluio entre o império das trevas e o domínio do homem intentando uma rebelião contra o Reino da Luz. Neste rebelião a própria Criação manifesta o caráter do Maligno e oculta a perfeição da Glória de Deus para a qual foi feita (Gênesis 3:17-19). Porém toda esta rebelião é imediatamente abortada quando, para Glória de Seu Santo Nome, Deus revela, na falência da Aliança das Obras, o Pacto da Graça. O Senhor não destrói Adão e Eva imediatamente, mas conserva-os na promessa da revelação futura do Mistério da Piedade que Redimirá a Criação e esmagará o astuto Enganador que seduziu Eva à desobediência (Gênesis 3:15). O conhecimento da Divina Aliança da Graça é o fio que conduz ao entendimento da Soberana ordem do Senhor em executar Seu plano de Redenção através da história. Somente na compreensão de que o Senhor é Javé, o Deus da Aliança que age por amor ao próprio Nome, repousa a confiança na Provisão e cuidados d'Aquele que preparou e preservou um reminiscente puro no meio de Israel corrupto e que tem feito todas as coisas cooperarem para a congregação e santificação de uma comunidade eleita e separada que peregrina pela terra rumo à Jerusalém Celestial. Somente na compreensão da Aliança da Graça de Deus podemos vislumbrar a perfeição da obra de Cristo, o “Mediador de uma nova aliança” (Hebreus 12:24) na qual todos as sombras do Velho Testamento se tornam claras em seu sentido, e a Graça se manifesta desvelada. Na Aliança da Graça o pecador pode se aproximar de Deus, confiado em Cristo, tendo o sacrifício dEle por expiação de seus pecados e tendo a perfeita obediência do Senhor (que venceu onde Adão falhou) como garantia da herança com os Santos na Glória, segundo a união de todos os Cristãos no Corpo de Cristo.
Alguns questionamentos comuns a respeito de Gênesis
Tendo já vislumbrado parte da profundidade de significados do Livro de Gênesis, lembrando que em tantos outros aspectos já nos confrontamos com a perversão do conhecimento humano em comparação com a perfeição do conhecimento Divino, peço ao Senhor que cada leitor esteja, cada vez mais, adquirindo uma mente espiritual, segundo a Graça de Cristo Jesus, para compreender quão mesquinhas são as questões levantadas pelos altivos homens pós-Cristãos contra este Livro da Escritura. Contudo, para que não se nos acusem de não termos respostas, e para munirmos nossos Cristãos de pontos de contatos úteis em conversas comuns com não-Cristãos, pontos que podem levar às questões mais profundas que denunciam o pecado e mostram a necessidade de arrependimento do pecador. Por estes motivos, responderemos alguns destes questionamentos:
1) Foram seis dias literais de Criação?
A forma de interpretação bíblica que se fez presente em todas as igrejas sadias na História, (a qual foi exaltada pela Reforma) é aquela que toma o texto no sentido mais natural possível, segundo a linguagem da época em que foi escrito, segundo a intenção do autor e o contexto da Escritura e do povo a quem aquela Escritura foi direcionada e, ainda, segundo o estilo literário da porção avaliada. Por isso, é importante notarmos aquelas diferenças enunciadas na última edição de nosso periódico, a respeito dos estilos do livro de Apocalipse e do livro de Gênesis. Apocalipse é enunciado como profecia simbólica, muitas vezes puramente alegórica. Gênesis, no entanto, sempre que referido na Escritura, é referido como livro histórico (Mateus 19:4-6, Marcos 10:6-8, Atos 17:26, Romanos 1-2,5:12-21,16:20, 1 Timóteo 2:13, 1 Coríntios 11:8, etc.). Não é difícil percebê-lo quando vemos que existe uma progressão no livro, relatando Adão e Eva (cuja existência é questionada pelos aduladores do cientificismo), depois Caim e Abel, Sem e daí aos povos Semitas até a vida de Abraão (que é historicamente inquestionável) e daí em diante – não há uma divisão no livro, ele simplesmente segue a narrativa de Adão até as 12 tribos de Israel; e quando vemos que não há na Escritura casos onde elementos decididamente reais (como Deus, o dia, a noite, a luz, os animais, etc.), sejam citados em um sentido casual misturados com elementos simbólicos (por exemplo, Deus não aparece como Deus em nenhuma parábola, mas é representado simbolicamente, como quando é representado como o “dono da vinha” ou como o “pai do filho pródigo”). Gênesis é, claramente, um livro histórico. Assim podemos entender Gênesis simplesmente de maneira literal (desde que, é claro, atente-se e pondere-se o uso de figuras de linguagem comuns, como o antropomorfismo). Os dias da Criação, por exemplo, quando estudados cuidadosamente, nos conduzem a concebê-los como dias literais. A palavra yom, que em hebraico significa dia, é usada, quanto aos dias da Criação em Gênesis, exatamente com seu sentido mais óbvio: de um dia. Um dia de 24 horas? Sim, como vemos pela repetição da frase tarde e manhã em todo relato da Criação. Se, como alguns, influenciados por idéias liberais (muitas vezes sem sabê-lo), têm afirmado, esses dias equivalessem a “Eras Geológicas” (períodos de milhões de anos) então teríamos uma grande dificuldade em explicar o que é uma “manhã” e uma “tarde” em uma era geológica. Este é um outro exemplo de interpretação da Escritura com base na Ciência; a concepção sobre a Bíblia é alterada para se amoldar à Ciência. Porém a Ciência é falha, como estabelecemos no início deste estudo e, enquanto alguns cientificistas dão a própria vida para defenderem uma Terra com bilhões de anos, outros apresentam teorias que apontam para um planeta com não mais que 10.000 anos de existência. Soma-se ainda, ao argumento a favor de que Gênesis ensina uma criação em seis dias de 24 horas o fato de que Deus descansa no sétimo dia. Teria Deus descansado durante toda a “sétima Era”? E o que significaria isto, que era foi esta? E, se Deus descansou durante um período indeterminado de tempo, sem relação proporcional com os outros períodos de tempo (pois uns seriam maiores do que os outros), que sentido tem evocar este fato para estabelecer que nós descansemos um período proporcional de dia de 24 horas em cada sete dias de 24 horas baseados no fato de Deus ter descansado um dia em sete? (cf. Êxodo 20:8-11).
2) Porque Deus criou o mundo em seis dias e não instantaneamente?
É muito comum as pessoas questionarem: caso Deus seja onipotente, porque Ele demorou 6 dias para criar o mundo? A resposta é muito simples. Como em tantas outras partes da Escritura, Deus acomodou Seu poder e ação ao entendimento humano porque desejava comunicar-nos algo. No versículo 1, vemos que o Senhor criou os céus instantaneamente (que céus, como já dissemos, é muito acertadamente compreendido como os céus empíreos, a esfera de existência celestial onde habita o Senhor e Suas hostes de Anjos). Foram feitos imediatamente perfeitos. Não havia necessidade de um criação temporal dos céus porque eles não foram feitos para que os contemplássemos e, meditando neles, aprendêssemos sobre o Criador. Porém a terra foi feita para isto, nosso mundo foi, desde o princípio, formado com o objeto de ser uma Revelação sobre o Criador, um Livro escrito em matéria que, quando lido pela imagem de Deus no homem, falasse do próprio Deus, Sua Glória e Seu poder. Portanto, Deus criou o mundo em seis dias para comunicar-nos realidades espirituais e instruir-nos no conhecimento dEle.
3) Como era o mundo na época da Criação?
A Ciência e a Escritura concordam que a Terra também era um lugar muito diferente na sua juventude. Porém os dogmas racionalistas e materialistas do cientificismo forçam a explicação e a investigação dessas hipóteses ao campo do observável nos dias de hoje. A Escritura, no entanto, trazendo testemunho da Criação, afirma o que o cientificismo não poderá alcançar jamais, e desenha um cenário intrinsecamente mais consistente e crível do que qualquer coisa alardeada pela falsa ciência até os dias de hoje! E isto é de tal maneira impressionante que, por exemplo, a ordem de Criação dos corpos celestes e das leis físicas, foi aceita pela Ciência exatamente como narrada em Gênesis, por necessidade lógica e teórica, apesar de não ser possível comprová-la empiricamente. No primeiro versículo, Deus cria, a partir do nada, os “céus” e a “terra”. Esta Terra era “vazia e sem forma” e estava sobre um abismo. Entende-se daqui uma massa estranha, emergente de um caos inóspito, por ação do Criador; esta massa estava solta sobre o vazio espacial. Esta indefinição é referida por Moisés também como “águas”, no sentido de que essa ordem primordial é tão indistinta quanto uma coleção de mares invadindo e ajeitando-se sobre uma terra antes represada ou como uma massa mole de argila nas mãos de um habilidoso escultor. Sobre esta massa o Espírito de Deus inspira a ordem, e Ele mesmo a preenche e sustém. Na medida que a Criação prossegue, mais e mais ordem se expressa, seguindo-se, entretanto, este princípio observado: a ordem é lógica e necessária, é demonstrada em uma crescente complexidade e estabilização e expressa-se na Providência e Sabedoria de Deus em usar tanto meios diversos, quanto em agir imediatamente sobre o mundo. O resultado primário é uma terra paradisíaca em todos sentidos, tanto na geografia quanto no clima, tanto na distribuição dos animais quanto na ausência de violência expressa no fato de que todos se alimentavam apenas de vegetais. Possivelmente, havia menor variedade de animais, de modo que Adão pudesse dar nomes a todos eles e de modo que todos estivessem presentes no Jardim. É como se cada animal de hoje possuísse um antepassado que era o protótipo geral de todos os animais semelhantes a ele; por exemplo, é como se todos seres aparentados do cavalo possuíssem um protótipo eqüestre que era o cabeça, o primeiro, o concentrador genético, de todos os animais desse tipo. Ao menos é o que se pode entender da expressão hebraica baramin, usualmente traduzida como tipo ou espécie (Gênesis 6:19), e pelo contexto do Livro. Adão mesmo era o protótipo genético de todos os seres humanos; porque ele era o cabeça da espécie, e dele vieram todas as raças: brancos, negros, amarelos. Ele continha em si toda a informação primordial necessária para derivar estas raças. Além disso, algo mais era diferente: não havia doenças, nem mal algum. Todos eram extremamente longevos, creio que tanto os homens (que poderiam viver 9 séculos!) quanto os animais. O que poderia ocasionar que alguns se tornassem verdadeiros gargantuas, como o chamado behemot – um enorme e fortíssimo ser parecido com um dinossauro descrito no Livro de Jó, capítulo 40. Tudo isto, porém, se degenerou pela contaminação do pecado que adentrou o universo por ocasião da desobediência de Adão e Eva - surgiram venenos, doenças, catástrofes ambientais. A Criação se volta contra o próprio homem, que deveria ser seu regente. E a morte reinou sobre a terra.
4) Com quem os filhos de Adão e Eva se casaram?
Adão era um homem que, segundo os padrões que a ciência atual criou, talvez fosse considerado até mesmo como outra espécie humana. Ele não possuía nenhuma falha genética, seu DNA não conhecia mutação. Ele era perfeito em tudo. Nele não havia doenças ou síndromes hereditárias, nem tendências ao desenvolvimento de doenças quaisquer. Na verdade, como respondemos na pergunta anterior, não havia nem sequer doenças antes de Adão pecar. Porém, não nos confundamos, havia dor. Por ocasião da queda, Deus fala a Eva: “multiplicarei as suas dores de parto”, portanto já havia dor antes da queda, havia algo a ser multiplicado. O que, aliás, faz com que compreendamos que a dor, de modo geral, não é algo ruim em si mesmo (mas algo que já fazia parte da boa criação de Deus). Contudo, as dores se tornaram aflitivas ao ser humano, como tantos outros “cardos e espinhos” que surgiram por conseqüência da desobediência. Voltando à questão levantada, é por causa da pureza genética (e da longevidade citada acima) que entendemos com quem os filhos de Adão e Eva se casavam: eles se casavam entre si. Não geravam prole defeituosa porque, pela total pureza genética de Adão e Eva, pela ausência completa de defeitos e qualidades negativas em seu DNA, seus filhos não tinham como herdar tais coisas. Portanto, não havia uma maior probabilidade de que uma determinada doença ou tendência destrutiva se manifestasse pelo casamento intra-familiar. Pela decadência da humanidade, conforme os frutos do pecado se tornavam mais evidentes na Criação decaída, é que foram surgindo degradações genéticas e doenças que impossibilitaram o casamento intra-familiar.
Conclusão
Depois desta longa jornada nestes embates sobre Gênesis, tenho a impressão de que passamos mais tempo expondo as bases de nossa Fé e suas aplicações, em contraste com a falta de bases da metodologia cientifica e de seus filhotes, do que falando efetivamente sobre Gênesis. A causa disto é que o problema dos falsos Cristãos, dos Cristãos débeis e das igrejas adoentadas, não está na Escritura em si, nem no que a Escritura diz. O problema está em seus espíritos. Porque suas mentes não se renderam de forma plena aos pés da Cruz, suas almas não abandonaram os sonhos e as lembranças do Egito - são pessoas que não desistiram de suas próprias idéias e experiências para aceitarem a Escritura como regra suprema e veredito final sobre todas as questões da existência. Ainda pensam como escravos e ainda querem as panelas de carne e os deuses cegos e manipuláveis daquelas terras malditas. E este não é exatamente um problema da era pós-Cristã: é simplesmente a constante ressurgência da tentativa de sintetizar o pensamento Cristão com alguma filosofia de determinada época - a ressurgência da covardia de não querer enfrentar o mundo, de não querer carregar a Cruz, de não querer perder tudo por amor a Cristo. Foi esta doença espiritual que acometeu os Coríntios no mais terrível grau, e contaminou aos Colossenses e aos Gálatas causando consideráveis perdas. Foi esta lepra interior que arrastou a igreja, séculos depois, em direção às pressões para alegorizar Gênesis de modo que se encaixasse na filosofia de Aristóteles – e lembremos que esta sincretização, especificamente, foi um forte assentamento para construção do trono Papal do Anticristo.
Por isto, convoco todos os amados leitores, sejam incrédulos, Cristãos fracos ou Cristãos já firmados em Cristo e na Palavra; convoco que contemplem Cristo em Gênesis, que contemplem comigo o anúncio final e constante do descanso eterno dos Santos. Basta seguir a estrada dos atos Soberanos de Criação e vê-lO, após seis dias de trabalho, demonstrar-nos a consumação dos séculos na figura do sétimo dia – o Sabbath do Senhor, o descanso de Deus. Porque tem existido um descanso prometido desde o sétimo dia da Criação (Gênese 2:2), um descanso no qual todas as gerações de desobedientes impenitentes jamais conseguiram entrar (Hebreus 4:6), ficando sem esperança, mas no qual aqueles que crêem serão bem vindos, para a vida (Hebreus 4:3). Ora, se mesmo Adão, arrependido, foi recebido na Graça, por causa de Cristo, porque hesitaria algum de nós em buscar perdão e retidão junto ao Senhor, com sincero arrependimento e humildade? Porque somos, se cremos na Salvação que vem do Senhor, convidados a aguardar com esperança e regozijo o cumprimento das promessas de Gênesis, de que nos uniremos com Cristo no nosso lar celestial (1 Pedro 2:11), para o qual devemos olhar constantemente enquanto marchamos, purificando-nos de toda malícia (por sabermos que seremos como o Senhor Jesus quando ele se manifestar). O crente, conhecendo as coisas que o esperam na eternidade, a si mesmo se purifica ... como é puro o Senhor (1 João 3.3). Se somos mesmo do Amado, reconhecemos a Soberana vontade de Deus, que nos dirige, como dirigiu a Adão, para unir-se com Ele no Seu descanso, para habitar com Ele em um incessante Sabbath. Ouvimos a Sua voz, e não nos escondemos, mas adoramos por cada Palavra da Escritura, que é Sobrenatural, que é Soberana em Deus, e vive em nosso Redentor para selar cada Filho da Aliança da Graça numa mesma união no Corpo de Cristo, preparando-nos para quando seremos, como Eva a Adão, apresentados como Noiva pura e imaculada ao amado Noivo (Apocalipse 21:2,9). Alimentemo-nos da esperança de Gênesis e busquemos em oração e súplica por todos os Santos, em toda dedicação e meditação na Palavra, lembrarmo-nos noite e dia de que nossa celeste esperança se equilibra em um prato, como uma balança, no contrapeso da aflição e do conflito contra o mundo, sendo ambos firmados, pelo centro, pendentes da Cruz de Cristo. Cristãos, portemo-nos como Igreja Militante que somos, não evitando a batalha, mas denunciando poderosamente o pecado e devastando, pelo poder da Palavra de Deus, todos os inimigos de nosso Senhor. Não aceitemos o clamor do mundo humanista a respeito de neutralidade religiosa e de sermos politicamente corretos, mas como Abraão, pela fé nas promessas do Senhor, edifiquemos altares na Canaan dos pagãos. Temamos todos, a Escritura é clara e a Lei de Deus perfeita: ou afirmamos, a todo custo, a mensagem do Evangelho e a condenação do pecador (exatamente como a Bíblia diz), ou estaremos dando ouvidos à mesma sedução que a Serpente instilou, quando no Éden: É assim que Deus disse? Ah, é certo que a Igreja não morrerá se comer do conhecimento do mundo. Deus sabe que no dia em que dele comerdes seus olhos se abrirão e vocês reinarão sobre toda a terra!
Não ouçamos a voz da Serpente! Que todo homem se afaste deste vil tentador! E seja, todo nosso coração e forças, ao Senhor Deus somente, porque dEle é toda justiça, e toda grandeza, e todo poder, e a sabedoria, e o louvor para sempre. Não atribuamos a nada, nem a ninguém, aquilo que é somente de Deus – porque toda a Glória pertence só ao Senhor que fez os céus, a terra e tudo o que neles há. Tanto nas mais impressionantes obras que nos conta Gênesis, quanto nas coisas menores e cotidianas, tenhamos compreensão de que tudo permanece ante a face do Altíssimo e, se não o Glorificamos em cada uma dessas coisas, nós as enchemos de trevas, e invertemos seu propósito; perdemos o reconhecimento da preciosidade de cada uma delas e pecaminosamente resistimos ao Espírito de Deus e deixamos de dar ao Autor da vida o Seu devido louvor.
Sujeitemo-nos ao Senhor, em todas as coisas, para louvor da Glória de Sua Graça, sempre. Amém.
1 comentários:
Olá
Vi seu link no blog do meu amigo Teóphilo Noturno e vim conhecer. Gostei muito. Vou segui-lo. Aproveito para apresentar o meu blog, o Genizah, e recomendar uma visita.
Graça e Paz
Danilo
http://genizah-virtual.blogspot.com
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