Os versículos seguintes dos textos sinóticos dos Evangelhos, examinados em nosso presente estudo, continuam falando dos sinais e dos tempos proféticos. Mais uma vez ressalto que os Judeus em geral esperavam que com o advento do Messias, acompanhado de algum cataclismo, seria estabelecido o Reino Teocrático em Israel e a nação governaria sobre todos os povos do mundo; eles esperavam que esta era de ouro, este mundo porvir, fosse imediatamente e plenamente introduzido com o advento do messias, que destruiria toda a presente ordem dos séculos. Entretanto, biblicamente, iluminados pelo Espírito com a mais clara luz do Novo Testamento, aprendemos nestes nossos estudos que o mundo porvir, sendo de natureza espiritual, é um Reino supranacional e invisível, uma nação santa espalhada por toda a Terra (e além dela, nos domínios celestiais onde habitam os Cristãos já falecidos), composta de todos os homens chamados pelo Evangelho e unidos, pela Fé, a Cristo Jesus, o Rei e Sumo-sacerdote de nossa confissão; e que, portanto, o Reino de Cristo e o mundo vindouro são uma realidade presente, não introduzidos pela destruição da primeira Criação, mas pela Nova Criação (fruto da obra Redentora de Cristo Jesus), aplicada pelo Espírito de Deus nas almas dos homens que Ele chama eficazmente ao arrependimento e à fé. É muito triste quando, à semelhança da cegueira daqueles Judeus, os homens que professam ser Cristãos em nossos dias, têm seus olhos voltados para os poderes políticos, as riquezas e o fluxo das nações, quando têm seus olhos fixos na beleza das construções dos seus luxuosos templos, na pompa e ritualismo das suas cerimônias e nos números das multidões que atraem com seus artifícios criados para entreter e exaltar os homens. É triste porque a Escritura nos deixa claro que o vero templo está em Cristo Jesus, que os Cristãos devem habitar, viver e reunir-se humildemente; que a presença de Deus está na Palavra retamente pregada do púlpito, ministrada nos sacramentos e vivida pelo povo. Devemos ter nossos olhos no Reino de Cristo, e não naquilo que é passageiro e temporal; devemos desejar e buscar a substância da vida Cristã e não nos contentarmos com as sombras e os restos que agradam aos pagãos. Veja que o mundo porvir sobrepõe-se à presente era, eles coexistem para que, tendo sido chamados por Cristo enquanto habitando a presente era, morramos para o mundo e vivamos segundo a natureza do nosso celestial e eterno chamado. Tendo ainda em vista que estas realidades coexistem somente enquanto o Reino, como a rocha que cai sobre a estátua vislumbrada em sonhos por Nabucodonozor, despedaça primeiro os pés de ferro (coexistindo com a o resto da estátua) e cresce, pouco a pouco, até esmiuçar todos os reinos ali representados até finalmente estender-se por todo a Terra [Daniel 2:34,35]. Hoje, tendo já destruído a força e a expressão dos antigos rudimentos – a religião, o Estado e o templo judaicos, assim como a religião e o Estado romanos - o mundo porvir cresce, em Cristo, destruindo os outros rudimentos, os reinos e estados e templos antiCristãos, em uma série de duras e longas tribulações e batalhas. Tudo o que é falso, tudo o que é meramente humano, toda a riqueza, todas as multidões que buscam seus interesses mesquinhos em lugar de buscar a glória de Deus, todos estes artifícios, invenções, imaginações, sombras e restos, tudo isto perecerá com o passar dos séculos e seus ímpios autores sofrerão a mais horrível condenação no Dia da Ira de Deus. Seja nosso coração aplicado à certeza da realização das promessas do Evangelho - mesmo aquelas que sequer vislumbramos - e seja nossa alma afastada de toda cobiça, avareza e mundanismo, de toda glória exterior e assim prossigamos a examinar o Discurso Escatológico de nosso Senhor: "Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino. Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam estas coisas. Haverá pestes, terremotos em vários lugares e também fomes. Mas o fim não será logo, todas estas coisas são o princípio das dores." [Mateus 24:7,8; Marcos 13:8; Lucas 21:9] Quando o Senhor deu estas palavras a Seus discípulos, o ano provável era 29 ou 30 d.C. Passou-se ainda mais de duas décadas antes que todo o mundo houvesse sido tomado de revoluções e guerras, precisamente como o Senhor houvera predito. Quanto mais se aproximava o fim da era judaica e a plena revelação da Igreja de Cristo, mais a ordem política e social se desintegravam no Império Romano. A presente era mais e mais era abalada pela aproximação da Revelação da Igreja; conforme o Altíssimo mesmo disse que faria quando prometeu abalar as fundações e as montanhas da Terra com Sua ira, para exaltar a Cristo e a Seu Povo [Salmo 18:7]. O reinado de Tiberius, ainda na terceira década do século I, foi perturbado por suas crises paranóicas, pelas quais plantara as sementes de futuras conspirações e desavenças; morrera no ano 37 d.C., sendo sucedido por Gaius (mais conhecido como Calígula), que logo tornara-se patentemente insano e terrivelmente cruel, terminando seus dias assassinado no ano 41 d.C. O caos crescente encontra no reinado de Nero ainda mais instabilidade, opressão e loucura, que culminam no seu suicídio no ano 68 d.C. Durante este reinado, na Judéia, sob o governo de Festo, a anarquia predominava; sacerdotes rivais competiam pela autoridade religiosa entre os Judeus e seus seguidores batalhavam na ruas e cidades. Albino, o sucessor de Festo, seguia de perto a crueldade e tirania de Nero, porém, substituído por Floro, foi ainda superado em violência e imoralidade por este último. Em tal cenário, com o suicídio de Nero, a Revolta Judaica, incitada por tantos daqueles falsos cristos e falsos profetas dos quais falamos na última edição, conflagrou-se uma guerra civil; os batavos, povo guerreiro de uma província na região aproximada da atual Holanda, também se rebelaram e diversas batalhas internas irromperam por toda a extensão do Império, mesmo na Capital. Acompanhando as sangrentas guerras civis, veio a fome, causada tanto pelos ataques contra as fontes de suprimento, como pelo desvio dos recursos para alimentar as tropas. Porém, com o julgamento Divino, uma grande fome antecedeu o reinado de Nero [Atos 11:28], tornando escassos os suprimentos desde antes das guerras; vindo então as revoluções e revoltas, a escassez, ainda que não tenha se tornado tão intensa como aquela prevista por Agabus (e que já houvera passado) tornou-se vasta e generalizada em todo o Império. Contudo, o mais terrível episódio destas fomes foi, sem dúvida, durante o cerco à Jerusalém: o ápice da Ira de Deus derramada sobre o judaísmo hipócrita, quando as coisas mais degradantes voltaram a ocorrer dentre os Judeus, como aquelas citadas pelo profeta Jeremias [Lamentações 4:3-5;9-10]. E, destas acumulativas violências e fomes, não é estranho que brotaram pestilências; como parte dos julgamentos vindos do Altíssimo, as pestilências ceifam mesmo aos que se abstêm das lutas ou os que são mais robustos e resistentes à inanição. Não bastasse isto, à todas estas coisas somou-se a devastação causada pelos terremotos, que tornavam as casas dos homens em suas sepulturas e cidades inteiras em cemitérios. Não foram poucos os tremores naqueles dias próximos ao nascimento da Igreja, quando, mediante a voz do Senhor, abalaram-se os céus e a terra [Hebreus 12:25], tanto naturais quanto espirituais, para sacudir dos Seus domínios os ímpios [Jó 38:13], e fazer vir o longamente desejado Messias e Libertador às nações com grande glória em Seu vero Templo - a Igreja [Ageu 2:6-7]. Vemos estes abalos no Capítulo 4 de Atos dos Apóstolos e, posteriormente, no Capítulo 16; além destes registrados no Novo Testamento, houve terremotos em Roma (51 d.C.), Phlegon (60 d.C.), Campânia e Crete (63 d.C.), e ainda outros mais em Smyrna, Miletus, Chios, Samos, Laodicéia, Hierápolis, Colosso e Judéia - alguns destes causando a destruição de cidades inteiras. Mas o fim não viria logo. Estes sinais foram somente o início das dores - "odin" é o que diz o grego original e significa " dores de parto" - porque a Ira de Deus que começou a ser derramada sobre aqueles que recusaram o Evangelho, não mais se recolherá até que todos os inimigos de Cristo sejam postos por escabelo de Seus pés [Salmo 110:1; Hebreus 10:13]; com dores de parto cada vez mais freqüentes e fortes até o dia do seu julgamento, Jerusalém foi destruída e a Igreja fortalecida (como já temos feito notar nestes estudos); com dores de parto cada vez mais freqüentes e fortes, cada nação e cada homem rebelde serão julgados, e os eleitos chamados e convertidos, assim será até o dia do Julgamento Final [Isaías 66:7-9; Romanos 8:22; Gálatas 4:19; Apocalipse 12:2-6]. Dores de parto, súbitas em seu aparecimento, porém freqüentes e cada vez mais violentas depois disto, anunciando um nascimento que pode tardar, mas certamente virá; dores de parto que são um sinal da Queda [Gênesis 3:16] e, ao mesmo tempo, são o sinal da esperança da Redenção [Gênesis 3:15]. Cabe a cada um de nós atentarmos para estes sinais, tendo em mente esta dicotomia - Queda e Redenção - e nos apropriarmos dela entendendo-a tanto em relação à nossa união com Cristo (e, portanto, na nossa incorporação nos atos de Redenção que Deus opera através da Igreja), quanto em relação à nossa pessoal Aliança com o Senhor. Cabe a cada um de nós, ao nos depararmos com as guerras, terremotos, pestes e fomes, clamarmos ao nosso Senhor para que "Seu Reino venha a nós" e "Sua vontade seja feita", para que Ele vivifique Sua Igreja e nos capacite, individualmente e como organismo, a levar fielmente a Palavra que é capaz de trazer a vera paz e afastar a Ira de Deus de sobre as nações. Cabe a cada um de nós, ao sermos acometidos pelas guerras, terremotos, pestes e fomes, clamarmos ao nosso Senhor por misericórdia, porque nossa individual maldade, a maldade no meu coração e no seu, é o motivo de todos estes julgamentos [Gênesis 6:5-7]; cada um de nós merece (eu mereço, você merece), tanto mais sofrimento quanto o causado por cada ato da Divina vingança contra nossos pecados; nós somos a vera causa dos males do mundo. Cabe a cada um de nós, ainda tendo enxergado por estes sinais a marca da nossa própria miséria, olhar para Cristo, o Senhor, que deu Sua vida para tomar para Si algumas destas miseráveis criaturas - que somos nós - e constituir nelas, com o poder de Seu precioso Sangue, uma Nova Criação, uma natureza redimida, liberta da escravidão dos pecados, chamada para a Santidade. Cabe a cada um de nós olharmos ainda para as guerras, tragédias, doenças e privações pessoais e enxergar nelas, novamente, a nossa miséria e, a partir desta denúncia, buscarmos o arrependimento e a humilhação diante do Salvador, estendendo para Ele as mãos trêmulas e necessitadas, de quem, além do pecado, não tem nada em si que possa apresentar com sinceridade ao Senhor e aguardar na misericórdia e graça dEle, para que nos perdoe, acolha e vivifique, na Sua obra de Redenção; que nos faça, ainda que com muitas dores, ainda que com dores sofridas e compartilhadas com aqueles que pela Igreja e por aqueles que por nós oram e trabalham [Gálatas 4:19; Romanos 8:18; Colossenses 1:24], nos faça nascer de novo, convertendo-nos verdadeiramente do mal caminho de nossa alma, firmando-nos os pés na estreita, porém reta, estrada que leva à Vida Eterna.
Esperança em Tempos de Apostasia - Parte 11
Postado por Jardim Clonal às 00:02 Marcadores: Escatologia, Historicismo
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