Na última edição do Jardim Clonal, nos concentramos na primeira parte do Discurso Escatológico de nosso Senhor, sobre a espiritualidade do Reino de Deus, e iniciamos o estudo sobre os sinais e os tempos descritos ali. É a partir deste ponto, sobre os sinais e os tempos, que prosseguiremos nosso estudo.
Segunda Parte do Discurso: Os Sinais e os Tempos (continuação)
“Então, Jesus lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane. Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu! Eu sou o Cristo. E também: Chegou a hora! E enganarão a muitos. Não os sigais. E certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras, e revoluções; vede, não vos assusteis, porque é necessário que primeiro aconteçam estas coisas; mas ainda não é o fim, e o fim não será logo.” [Mateus 24:4-6; Marcos 13:5-7;Lucas 21:8-9]
Como é perfeita a Escritura! Somente o Espírito do Santo Deus poderia ter inspirado tais palavras, somente o Cristo, o Filho de Deus, poderia tê-las dito em momento tão oportuno – pois, enquanto os discípulos contemplavam a glória dos homens, pensavam nas coisas terreais e inquiriam curiosamente quanto aos secretos decretos Divinos pertinentes a História vindoura, nosso Mestre Jesus dirigiu-os para o cuidado com suas almas desde o presente e para as preocupações concernentes ao seu destino Eterno. Nosso Senhor (e seus Apóstolos, que sendo transformados pelo Espírito, assim também se tornariam posteriormente) é eminentemente piedoso – pastoral e prático, poderíamos dizer - professor da mais clara Verdade Bíblica, que nos alimenta a alma, e nisto frutifica visivelmente em nosso viver. Conhecer os “sinais do fim dos tempos” é menos importante do que ter em si os “sinais do novo nascimento” – sem o nascer do alto, jamais se pode ver realmente o Reino dos Céus, ainda que se conheça todos os seus sinais - por conseguinte, nosso Senhor Cristo Jesus começa Seu Sermão Escatológico com aquilo que ainda não é o fim [Mateus 24:6], mas que é, sobretudo, uma indelével marca de que haverá um fim, de que a Redenção da Criação ainda não se concretizou plenamente; de que o novo céu e a nova terra, que já adentraram a presente era, ainda estão sendo edificados para a Eternidade; de que o pecado ainda consome e destrói as almas dos homens; de que devemos temer por nossas almas e buscar, com verdadeiro arrependimento enquanto ainda há tempo, Àquele único que pode salvá-las. Deste modo, aquele que se preserva em Cristo e nEle, por meio de Sua Graça, aparta-se de todo mal – aquele que teme a condenação certa que paira sobre o mundo e sobre todos os que amam o presente século - resistirá a qualquer tribulação, seja qual for. Este é, portanto, o alerta de nosso Mestre: “Vede que ninguém vos engane”; donde, entende-se “tenhais zêlo pela Verdade do Evangelho, que pode libertar-vos dos vossos pecados e desviar de vós a Ira de Deus; sigais-me e não sejais seduzidos para outros caminhos, mantenhais-vos atentos à Palavra.” Repito ainda mais uma vez: que precioso alerta nosso Senhor nos deu! Pois notemos que mesmo os discípulos já estavam, de certa forma, seduzidos por uma falsa esperança de segurança, uma falsa esperança de uma breve e descomplicada vitória [Marcos 10:37] - contaminados que estavam pelo fermento da doutrina Judaica - a qual, por sua vez, semeia a apostasia ao infundir nos homens tal confiança carnal, bem como a perversa impressão de que importa que Deus antes os livre dos seus perseguidores e das tribulações do que de seus pecados e indulgência. Os falsos mestres amam as elucubrações escatológicas complexas, as quais prometem apaziguar a carne e alimentam um maldito orgulho espiritual, dando aos homens a impressão de que decifraram os secretos decretos do Altíssimo [1 Tessalonicenses 5:1,2; 2 Tessalonicenses 2:2; Atos 1:7]. Ora, desde os dias dos Apóstolos até ao fim da História haverá falsos Cristos, falsos profetas e falsas igrejas. Muitos se arvoraram e se arvorarão em levantarem suas Bíblias e dizer “Jesus Cristo é o Senhor”; muitos falsos mestres gritaram esta frase nas praças públicas e exaltaram a si próprios com extravagantes exorcismos [Atos 19:13], e muitos ainda gritarão; e escreverão, como já tem escrito, estes dizeres na frente de seus templos e na porta de suas casas; porém, não basta dizereem “Jesus Cristo é o Senhor”, e não basta ostentarem este lema (ainda que o escrevessem em suas próprias frontes), não basta acercar-se de milagres e grandes prodígios, não basta – antes, ter estes fenômenos em tão alto apreço é mais um tropeço do que um auxílio [João 4:48;20:29; Atos 8:13,18-23; 1 Coríntios 1:22-25; 2 Tessalonicenses 2:9; Apocalipse 13:13;16:14; Deuteronômio 13]. Em verdade, nem todo o que se proclama servo do Altíssimo é um Cristão [cf. Mateus 7:21]; pelo contrário, aqueles que tem aparência de Cristo, o manso Cordeiro, muitas vezes falam como o Dragão, que é Satanás, a antiga serpente [cf. Apocalipse 13:11]. Muitos se dizem Cristãos, muitos se dizem mestres, sábios e poderosos, “muitos virão em meu nome … e enganarão a muitos” [Mateus 24:4-6]. Contudo, em verdade, bem poucos são os Cristãos verdadeiros [Mateus 20:16; 22:14]. Deste modo, em Seu Discurso Escatológico, o Senhor Cristo Jesus aponta, em primeira ordem, para este grande perigo que são aqueles que podem nos desviar do Caminho e nos atrair, mesmo que temporariamente, para desvios mortíferos; para aqueles que utilizando o nome de Cristo, pregam falsas doutrinas e, pretensiosamente, clamam ter poderes e prerrogativas que pertencem somente ao Salvador; homens que se colocam em lugar de Cristo, ousando evocarem bênçãos e maldições, pretensamente condenarem e salvarem, e conclamarem os homens para que, por sua própria força, vontade e decisão, dominem sobre o mundo, como se a semelhança daquelas ilusões judaicas que quase seduziram os discípulos pudessem trazer o Reino de Deus à Terra (ou à si mesmos). Quando tais enganadores vêm, devemos resistí-los pela Palavra. Amados irmãos, se curvem somente ao que a Escritura ordena: não se deixem enganar por promessas de vitória e conquista, por devaneios e imaginações daqueles que pensam que Deus se agrada de ser adorado segundo as vontades dos homens - miseráveis e corruptas criaturas Suas. Vejam que foram promessas de instantânea paz ao mundo, de riqueza e poder temporais e imediatos; foram messianismos; foram ilusões de que Deus pode ser manipulado segundo os interesses humanos e de que as Suas Palavras podem ser usadas também segundo estes mesquinhos interesses; foram coisas como estas que, nos dias dos Apóstolos, irromperam em grande número, da forja corrupta que é a mente dos apóstatas. Sim, naquele tempo se levantaram inúmeros impostores [cf. Atos 5:36-39; 8:9-11; 2 Pedro 2:1-21; 1 Timóteo 1:3-11; 1 João 2:18], mais ainda do que temos visto hoje, e arrebataram multidões atrás de si. E assim, em todos os períodos da História, quando o julgamento de Deus visita-nos (para condenar os ímpios e aperfeiçoar os justos), Ele muitas vezes o faz através das tentações de apostasia e da ameaça dos inimigos da Fé [cf. Juízes 3:1,2]; e, quando sua Igreja, então provada e refinada, quebrantada e suplicante, levanta-se em Santidade, o Senhor nisto os abençoou e fortalecerá [cf. Êxodo 15:25; Juízes 2:18;Isaías 51:13-16;61:1-11; Jeremias 9:7; Salmo 66:5-12]. Como os ímpios rejeitam a voz dos verdadeiros profetas, cujas palavras estão permanentemente fixadas na Escritura, o Senhor os entrega aos falsos profetas [Deuteronômio 13:3; Isaías 29:10] para que sejam enganados e pilhados po tais; e tanto mais, tendo acumulado sobre si mesmos o sangue dos profetas do Senhor, e tendo chamado sobre si mesmos o Sague do próprio Senhor e Cristo, a Jerusalém foi, como parte e prenúncio da sua derrocada, rejeição e destruição, entregue aos falsos cristos e demais enganadores, que dividiram ainda mais o povo em partidos e facções rivais que fomentaram revoluções e reveldias tais que somente aumentaram e atrairam sobre si a espada do Império, que não era outra senão a espada da Ira de Deus.
Nosso Senhor alertou também para o que seriam“guerras e rumores de guerras” as quais, igualmente, servem de instrumento em Suas mãos para provar os justos e para destruir os homens (e os reinos) malignos. Quando Cristo nasceu, houve uma grande paz entre as províncias de toda aquela região e isto foi uma grande obra da Providência para o progresso do Evangelho; mas não foi para trazer ou manter a paz que o Senhor veio ao mundo [Lucas 12:51], e, uma vez tendo sido perseguido pelos Judeus, uma vez tendo sido objeto de escárnio e afronta, então a paz foi então retirada de entre eles e não mais se apartou de seu meio a já citada espada da Vingança Divina. Ora, naquela grande Revelação da Glória, quando os velhos céus e a velha terra passaram (a saber, o Estado e a Religião Judaicas, cujas sombras prenunciavam a perfeita religião que há em Cristo Jesus), quando, pelas dores de parto se anunciava o nascimento da Igreja, então uma dramática quantidade de falsos mestres, falsos cristos e guerras assolaram o mundo conhecido, especialmente a região da Judéia; a paz, em todos os sentidos, foi retirada de entre aqueles povos (e isto foi de tal maneira que de 66 d.C. até 71 d.C, todo o Império esteve terrivelmente atribulado, e cinco césares se sucederam no trono, com um intervalo de poucos meses entre eles, tendo todos morrido de forma violenta). À cada nova visita e revelação da Glória, à cada nova visita, julgamento e vivificação que o Senhor, em Seu Espírito, traz ao mundo, pela Palavra e Graça, assim também, outras dramáticas guerras e outros falsos mestres e falsos cristos têm se levantado: assim foi no tempo da Reforma Protestante, quando Deus novamente visitou com glória Sua Igreja para vivificá-la e edificá-la, para exaltar a Cristo e fazer conhecido o poder de Sua Palavra; Reforma que foi acompanhada de malignos adversários da Palavra, hereges que desafiavam aos Reformadores e escandalizavam o Evangelho, bem como de muitas e terríveis guerras, com grandes julgamentos de Deus, (destruições enviadas sobre países inteiros, como as revoluções anabatistas e o saque de Roma); da mesma forma sucedeu no tempo dos Puritanos, com terríveis perseguições, revoltas e massacres na Inglaterra e Europa. Ouviremos de guerras e rumores de guerras e de falsos Cristos e falsos profetas em todas as eras da humanidade, enquanto o Senhor “julga entre os povos e corrige as nações e estas convertem suas espadas em arados e não mais levantem a espada contra outra nação, nem mais aprendam a guerra” [cf. Isaías 2:4]: Isto é esperado a todos os que, como fizeram os Judeus do primeiro século, rejeitarem a Cristo Jesus e a Sua Palavra de Salvação portada por Seus ministros; sim, a todos os que recusarem a Salvação que o Evangelho anuncia e se fizerem rebeldes contra o Deus dos Exércitos, que lhes diz: “Sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra. Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nEle com tremor. Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira” [cf. Salmo 2:10-12]. Portanto, nem nós, hoje, bem como nem os discípulos e os Apóstolos, naquele tempo em que o Senhor proferiu Seu Discurso Profético, devemos nos conturbar quando virmos estas entristecedoras marcas da Queda; antes, isto nos consolará pois, ainda que não seja o fim, é um firme sinal de que ele virá. Sim, não devemos nos perturbar, antes confiarmos no Senhor e vigiarmos para não sermos aturdidos em nosso progresso Cristão, na mortificação de nossos pecados, na edificação da Igreja; devemos descansar no Senhor, sabendo que Ele opera tudo para o bom propósito da Glória de Seu Nome e para a Salvação daqueles que Ele elegeu desde antes da fundação do mundo; sabendo ainda que é necessário que o Senhor derrame Sua ira sobre os povos (ainda que nem sempre o faça de maneira clara), para assim restringir a maldade do mundo e, como já foi dito, para assim acrisolar Seu povo; sabendo igualmente que é necessário remover, como outrora Ele o fez com Jerusalém, e abalar, as coisas antigas e velhas para que aquilo que é Eterno se estabeleça [Hebreus 12:11,27-29]. Outrossim, da mesma forma como a destruição de Jerusalém foi o fim do mundo antigo e a inauguração da revelação do mundo vindouro, este mesmo sinal se repetirá ainda muitas vezes, confirmando o que ele mesmo tipifica: que o Senhor cumprirá todas as promessas dadas pelos Seus profetas desde o início dos tempos. Haverá falsos cristos, falsos mestres e falsos profetas, haverá guerras e rumores de guerras, e isto ainda não é o fim; temos, portanto, razão para Esperança, razão para enfrentarmos cada tribulação, seja pessoal ou global, cada apostasia, cada heresia, sabendo que o Senhor nos prova em cada uma destas coisas e que, sendo boníssimo e misericordioso, Ele nos acrisola, como acrisola-se a prata, e retira de nós, por muitas batalhas, a escória que é o nosso pecado natural; sirva-nos isto de alerta para que fique suficientemente claro o quão corrupta é a natureza do homem, o quão grave é a morte a que nos levou a Queda de Adão e o quanto o Pecado é a pior de todas as pragas e chagas que o Universo conhece, sendo necessário combatê-lo por tão violentos métodos, tanto quanto são estes, os quais o Senhor, em toda Sua Sabedoria, Paciência e Amor, escolheu aplicar. Graças ao Senhor, e Glória e Louvores, pois Ele governa a História e jamais permitirá que tão peçonhento inimigo domine sobre Sua Igreja; pelo contrário, como veremos na próxima edição, os sinais e promessas a respeito do fim da História são doces, para que, em meio a esta guerra espiritual contra o Pecado, tenhamos uma firme visão da Vitória do Evangelho e do poder de Deus para fazer todas as coisas convergirem para a Glória de Cristo Jesus, nosso Rei, Profeta e Sacerdote Eterno.
Os versículos seguintes do nosso presente estudo continuam falando dos sinais e dos tempos proféticos. Mais uma vez ressalto que os Judeus esperavam que com o advento do Messias, possivelmente com algum cataclismo, o Reino Teocrático seria estabelecido em Israel, que dominaria todo o mundo; eles esperavam que esta era de ouro, este mundo porvir fosse imediatamente e plenamente introduzido por ocasião do advento do messias, que destruiria toda a presente ordem dos séculos. Entretanto, biblicamente, iluminados pelo Espírito com a mais clara luz do Novo Testamento, aprendemos aqui que o mundo porvir, sendo de natureza espiritual, é um Reino supranacional e invisível, uma nação santa espalhada por toda a Terra, composta de todos os homens chamados pelo Evangelho e unidos, pela Fé, a Cristo Jesus, o Rei e Sumo-sacerdote de nossa confissão.
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