O Problema do Naturalismo
Vimos na última Edição que o espírito moderno crê em algo chamado Naturalismo. Vimos que esta idéia afeta todas os pensamentos subseqüentes do homem que foi capturado por este espírito, pois leva esta homem a articular toda sua compreensão do Universo baseado na ausência total ou prática do Deus Soberano. Finalmente, mostramos que o conflito que o descrente trava com as Doutrinas que a Escritura ensina repousa neste nicho, pois a acusação subentendida em todas as críticas do descrente é contra a Soberania de Deus e não contra a lógica ou o conteúdo do ensino Cristão isolado. Por isso, quando o espírito moderno diz que não acredita na Escritura porque é impossível, pelas Leis da Natureza, que o Mar Vermelho se abra, na verdade o que ele está dizendo é que não acredita na Escritura porque ele já crê em outros deuses e nenhum deles poderia fazer o Mar Vermelho se abrir, e que ele mesmo, como seu próprio deus, não poderia fazer tal coisa. O que os deuses dos cientistas não podem fazer, eles chamam de impossível. Então, alguém me pergunta: você está me dizendo que, um cientista que duvida da Bíblia, o faz porque crê em deuses pagãos e porque crê que ele mesmo é um deus?! Sim. Talvez você nunca tenha percebido isto porque não conhece o suficiente sobre a Filosofia da Ciência, sobre a Filosofia da Bíblia e sobre o paganismo para relacionar estas três coisas. Homens de reconhecida inteligência, Filósofos da Ciência e possuidores de algum conhecimento da Escritura concordariam comigo, embora usassem suas próprias palavras para dizê-lo. Posso citar entre tais homens: Albert Einstein, Thomas Edison, Sir Martin Rees e Karl Popper. Para os tais há um abismo entre a realidade percebida pelo empirista, ou seja, pelo homem que confia somente em seus sentidos para determinar a Verdade, e a realidade última, afinal, o ato de medir perturba o sistema – não que estes homens não acreditassem em uma realidade estável, mas que assumiam, com sabedoria e humildade, que a realidade última é mais estranha e inacessível do que geralmente se pensa. Acrescento que não defendo com isto o "deus das lacunas", ou seja, que a validade ontológica do argumento sobre a existência de Deus que se baseia na ignorância humana; antes chamo a atenção para uma compreensão menos determinista das chamadas Leis Físcas (e mais "cega", por si só fenomenologicamente caótica na interação dos meios, ainda que metafisicamente ordeira quanto ao fim) - assim, não é uma questão de desconhecermos o Universo, mas de conhecermos que as tais Leis têm, na Realidade, remendos e saídas de emergência que nos permitem vislumbrar a harmônica e lógica ligação entre o comum e o raro, onde uma regular imprevisibilidade dá o tom à sinfonia dos sistemas. Voltando ao tópico anterior, note que estes são apenas uns poucos de uma lista de centenas de Filósofos cientistas, que compreendem e anunciam sem temor o fato de que a ciência, conforme tudo que foi brevemente exposto acima, é, especialmente dada a natureza da Realidade e a limitação do método empírico, pura especulação, desprovida, então, de qualquer relação firme entre as suas teorias e a “real realidade”. Exatamente como os deuses pagãos, a ciência é apenas uma elaborada Mitologia. Afinal, o que eram estes deuses pagãos mitológicos? Eram forças, ditas incompreensíveis, autogovernadas, personificadas e usualmente representadas através de contos e narrativas. Para muitos dos Filósofos pagãos, no entanto, as personificações eram apenas ilustrativas, enquanto as forças representadas nestas personificações eram reais. Assim, um Filósofo poderia usar o nome Zeus ou Brahma (nomes de deuses pagãos) para representar a idéia de um evento cósmico que deu início ao processo natural e daí especular sobre a origem da natureza, ou o nome Gênio para especular sobre os diferentes sistemas do organismo humano e a complexa cadeia de sua interdependência. Quando um cientista inventa uma entidade cósmica como a Gravidade, ele está fazendo exatamente isto – supondo a idéia de um ser que poderia preencher a lacuna daquilo que o cientista não pôde explicar a respeito da Criação. Agora alguém me pergunta: Você está me dizendo que a Gravidade é como um deus mitológico? Sim, estou. Não que os efeitos associados ao nome Gravidade sejam mitológicos – se eu arremessar uma pedra para cima, ela cairá na minha cabeça. Mitológica é a idéia de que existe uma força onipresente e irresistível (porém invisível) responsável por fazer as coisas caírem – isto é apenas um conceito concebido artificialmente para preencher os requerimentos necessários a certo número de cálculos e teorias em um sistema específico. A observação dos efeitos e a medição dos efeitos são coadunadas no conceito Gravidade – a Gravidade em si, como objeto ou ente, não existe no mundo real, mas é uma simplificação mitológica da realidade, elaborada com um fim específico. Quando novos dados surgem, a ciência abole este mito e o substitui por outro – basta comparar a física de Newton e a física Quântica para ver esta mudança de paradigma. Não há, no entanto, nenhuma garantia de que a mudança de mitos seja uma aproximação maior da realidade. Muitas vezes a ciência gira ao redor do mesmo assunto, sem concluir nada durante séculos. Famoso é o caso da quintessência ou éter luminoso que por um pouco é aceito como científica, logo é descartado e novamente retomado, então com um novo nome. Para trazer um exemplo mais próximo ao homem comum, pensemos um pouco sobre o Átomo. Quando você estuda sobre Átomos na escola, você aprende que eles são feitos de Prótons, Elétrons e Nêutrons. Este Átomo que você estudou na escola é Mitológico. Ele não existe de verdade – foi criado por algum cientista para responder a certas perguntas sobre a natureza e elaborar algumas teorias. Outros cientistas elaboraram outros modelos de Átomos antes disso, modelos que não possuíam estas subdivisões e, após isto, outros têm elaborado modelos que possuem várias outras partículas além de Prótons, Elétrons e Nêutrons. Imagine que a Bíblia possuísse algum versículo sobre Elétrons – uma passagem que mostrasse um objeto de metal desferindo um choque de grande voltagem em alguém. Os cientistas da época em que não se conhecia Elétrons diriam: isto é impossível; um objeto não tem eletricidade em si mesmo para ser capaz de fazer tal coisa, não acreditaremos neste milagre, ele é contrário às Leis da Natureza, não pudemos sequer reproduzir tal coisa em laboratório, mesmo com toda nossa tecnologia. O que, segundo vimos acima, significa: nenhum dos deuses da ciência tem este poder; então, não aceitaremos que o seu Deus o tenha. Já os cientistas da época em que os Elétrons foram descobertos diriam: isto não é um Milagre, são apenas Elétrons sendo descarregados pelo objeto. E esta última frase mostra o quanto o Naturalismo é inútil – se algo não couber nas Leis da Natureza conhecidas daquela época (ou seja, nos poderes dos deuses inventados pelos cientistas), então é impossível que tal milagre aconteça. Se couber nas Leis da Natureza conhecidas naquela época (ou seja, nos poderes dos deuses dos cientistas), então não é um milagre, é apenas uma coisa natural. Você percebe a incoerência? O espírito moderno pressupõe que a natureza funciona por si só, e é composta de diversos pequenos poderes que se limitam uns aos outros e sequer avalia que esta é uma proposição que exige uma fé cega, e que, portanto, é incapaz de interagir com a descrição do Universo proposto pela Bíblia. Não estou dizendo que seria esperado do ímpio cientista em questão um respeito pela Escritura, mas que o sistema lógico do Naturalismo é incapaz de escapar de si mesmo! Se confrontado com algo que as Leis da Natureza inventadas ou interpretadas pelos cientistas não explicam, então é impossível; se for algo que elas explicam, então, não é um Milagre. Ou seja, o homem que se acha tão racional e científico está impedido de pensar neste assunto porque, antes mesmo da discussão, já foi capturado pela armadilha naturalista e simplesmente não sabe mais pensar fora deste script. Lembremos, para ilustrar nosso exemplo, do que a Sagrada Escritura nos diz sobre Eva: ela foi criada a partir da costela de Adão. Quando a ciência desconhecia a clonagem, dizia-se que era impossível uma pessoa ser criada a partir da costela de outra. Hoje os cientistas têm de silenciar a esse respeito. Como foi exposto com detalhes nas edições 10 até 14 do Jardim Clonal, a Escritura não pode ser avaliada à luz da ciência, simplesmente porque a Ciência é constituída de tal modo que a Verdade é o fim do caminho que ela ainda está trilhando e, que, portanto, por definição, a Verdade está fora da Ciência para que ela seja considerada verdadeiramente Ciência. A Escritura, no entanto, pensa a realidade no sentido inverso, pois conta a história dos caminhos já trilhados pela Verdade desde o início dos tempos – a Escritura pressupõe a Verdade que ela contém para ser verdadeiramente Divina. Enquanto a Ciência busca a Verdade por experimentação, a Escritura já possui a Verdade e simplesmente a declara. Por isso a aproximação da Escritura com a Ciência não pode ser feita como se uma validasse ou negasse a outra.
Para finalizar este capítulo, e evitar que alguém compreenda mal a questão da Ciência como Mito, esclareço que o Mito não é ruim em si mesmo, desde que seja compreendido como Mito e não como Verdade. Mas como um Mito pode ser útil? Porque toda Mitologia é uma sombra da Verdade Divina, embora distorcida pelo pecado inerente ao coração humano – e é possível, com muito discernimento, selecionar e aproveitar esta porção de Verdade e descartar aquilo que se mostrar pecaminoso.
A Cosmovisão Bíblica
Se a Escritura Sagrada opõe-se a visão de que a natureza é composta por diversos pequenos poderes que competem entre si (e que, por sua vez, estão aprisionados dentro da própria natureza) - o que, então, a Escritura ensina? A Escritura ensina que Deus não é ex machina, ou seja, que o Criador não está ausente do Universo. O Deus da Escritura comanda a Criação em todos os seus detalhados aspectos: nós acordamos e respiramos porque o SENHOR nos sustenta [Salmo 3:5; Salmo 54:4; Atos 17:28]; Ele dá à terra as chuvas e as colheitas [Salmo 65:9; Salmo 67:6; Jó 5:10; Jó 37:6]; Ele faz os terremotos e as fomes [Salmo 104:32; Salmo 105:16; Salmo 107:43,35]; nenhum bem ou mal sucede fora de Seu controle [Amós 3:6; Tiago 1:17; Isaías 45:7]. Todos os eventos (históricos ou orgânicos, climáticos ou cósmicos) obedecem ao comando estrito do Deus que rege o Universo pela Sua Palavra. Portanto não existe, na Escritura, diferença entre o natural e o sobrenatural, sequer existe esta divisão – todas as coisas estão sob o direto comando de Deus, cada átomo e cada molécula, cada aeon da existência. Por isso, a Criação se comporta de maneira ordeira, previsível; porque o Deus que a dirige é Deus de ordem e não de confusão [1 Coríntios 14:33]. Segundo a Escritura Sagrada, esta é a origem das aparentes Leis Naturais – a ordem e imutabilidade do Deus que tudo comanda. A Criação que a Escritura nos mostra, é infinitamente superior ao estranho relógio que os naturalistas (e “semi-naturalistas”) pensam existir: ela é infinitamente superior a uma máquina que funciona sozinha. O Universo descrito pela Escritura é a máquina perfeita – uma máquina tão sensível à vontade de seu Criador e Operador que O obedece, todo o tempo em tudo o que Ele ordena - diferentemente da máquina mecânica do Naturalismo. A máquina perfeita, que jamais faz algo que o seu Criador não ordena ou deseja, é obviamente melhor do que uma máquina programada que executa roboticamente seu programa, e aprisiona o seu operador nos limites deste mesmo programa. Deus é o Soberano Criador e Operador da máquina perfeita, portanto, Ele participa dela na mesma medida em que é distinto dela. Ele habita na Eternidade e na Santidade, mas fala no Tempo com os homens corrompidos; Ele existe além dos céus na luz inacessível, mas ocupa toda a Terra e até o mais profundo do Abismo. Ele é o Deus Altíssimo e Temível e nada pode escapar do Seu conhecimento e de Seu poder.
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