Explicando Adão e Eva para o homem pós-Cristão - Parte 1

Introdução

Este texto faz parte de uma série de estudos cujo objetivo é expor o Livro de Gênesis de modo que o homem desta chamada “era pós-cristã” possa compreendê-lo. Muitos dos problemas na interpretação do Livro de Gênesis estão no fato de que o leitor mediano traz a mentalidade pós-cristã típica para a leitura, carregando com ela todos os seus pressupostos que vão da pseudo-ciência dos documentários e séries televisivos de qualidade duvidosa até um iluminismo cientificista que mistura Nieztche, Karl Barth e Voltaire.
Os capítulos selecionados desta obra, que apresentaremos a partir do Jardim Clonal de Dezembro, enfocam algo mui precioso para a Sã Teologia: as figuras de Adão e Eva. O objetivo é expor essas figuras para o homem pós-cristão, estabelecendo paralelos e contrastes entre sua visão de mundo e aquela sustentada pela Bíblia.
Que o Senhor, fonte da verdadeira sabedoria manifestada na Cruz, abra-nos as mentes pelo Seu Santo Espírito, de modo que se nos revele a Palavra dEle, em Cristo Jesus e na Escritura, segundo seus mútuos testemunhos, levando-nos, doce e graciosamente, cativos aos Seus pés.

A Incapacidade Científica
Muitas pessoas criticam o Livro de Gênesis da Bíblia porque julgam os eventos ali narrados distantes da realidade que conhecem ou das teorias científicas que adotaram. Todavia, qual a justificativa para afirmar que o seu conceito de realidade ou que determinada teoria científica é o mais adequado para interpretar as informações contidas na Escritura? Não há uma justificativa real, mas um conjunto de idéias preconcebidas baseadas na predileção por determinada teoria ou filosofia – não há nada fora da mente do próprio incrédulo em que se baseie a lógica de seu julgamento, portanto, não há sequer lógica real quando o tal questiona a historicidade do Gênesis. Por exemplo: Um cristão professo, adepto de uma teologia liberal, nega que Adão tenha sido um homem real em um tempo real – aplica-lhe algum tipo de alegoria e justifica-se afirmando que a comprovada Teoria de Darwin já pôs o ponto final na discussão sobre a origem da vida. Quando confrontado a explicar como a Teoria da Evolução sustenta o que propõe, tal homem de aparência cristã repetirá alguns conceitos cristalizados que a mídia, ou alguém de boa lábia lhe ensinou. Contudo, não somente a realidade dos fatos envolvidos na coleta de dados da pesquisa cientifica é questionável, e tal dito cristão não tem como comprová-los, quanto (o que é pior), o método científico é, per si, falso. Analisemos porque afirmo que o método científico é falso: Imagine que um cientista descubra um determinado elemento químico. Ele realiza testes e obtém uma série de resultados similares; então cria uma equação que descreve o comportamento desse elemento. Tal equação não gerará sempre exatamente os resultados que um teste real geraria (porque é impossível prever todas as condições possíveis que influenciariam o tal elemento), mas, por aproximação, a equação que o cientista criou gera resultados similares àqueles dos testes. Além disto, ela não é a única equação possível para estes resultados, mas é apenas a equação que, arbitrariamente, o cientista escolheu. Ora, já neste ponto inicial da pesquisa vemos que não se trata da realidade, mas da arte do cientista em adequá-la aos seus instrumentos e idéias, uma aproximação de uma série de subprodutos similares aos objetos reais: a ciência não trabalha com provas, refutações ou fatos conclusivos, ela apenas, segundo o destacado epistemologista ateu Peter Lipton, “pesa as evidências e julga a probabilidade”. Agora preste atenção ainda mais neste detalhe: Tomando o resultado dos testes realizados por causa de uma hipótese, o cientista elabora um resultado geral – a citada equação, por exemplo. Com base neste resultado outro cientista cria uma teoria que afirma a hipótese como realidade – o que isto significa? Que o método científico tenta alcançar a verdade através de uma sucessão de dados falsos, que se aproximam da realidade. Mas ainda pior é a estruturação do argumento que baseia o método científico:
1) Se A, então B.
2) B.
3) Portanto A.
Para entendermos melhor isto, vejamos os seguintes exemplos desta estrutura lógica com a qual a ciência trabalha:
1) “Se 100 vezes eu pressionei este botão azul e a luz azul acendeu 100 vezes, então este botão acende a luz azul; veja, esta luz vermelha acendeu quando pressionei este botão vermelho, portanto, se eu pressioná-lo 100 vezes a luz vermelha acenderá 100 vezes”
2) “Se a roupa do meu bebê ficou exposta à Lua Cheia enquanto secava e neste dia meu bebê teve cólica, então a Lua Cheia sobre a roupa do bebê causa cólica; hoje, repentinamente meu bebê teve cólica de novo, portanto, a roupa dele ficou exposta a Lua Cheia e ninguém deve ter percebido.”

Percebem a incongruência de usar esta ordem de pensamentos? Ela facilmente nos conduz à conclusões absurdas! Esta forma de raciocínio é o que se chama de falácia formal: ela tenta passar uma informação como verdadeira apesar dos argumentos serem insustentáveis. Que diremos então, de uma falácia baseada em dados que não correspondem à realidade? Como é esta a natureza do método científico (pura indução e especulação), concluímos que: Como o método de pesquisa científica atual se baseia em empirismo e especulações, e toda lei científica é baseada em raciocínio falacioso – note, um argumento falacioso é um argumento falso – então, toda teoria científica, e as conclusões que vierem dela, são igualmente falsas, no sentido de que não são uma representação verdadeira do Universo.
Karl Popper, célebre autor que escreve sobre a filosofia da ciência, diz: “Pode ser até mesmo mostrado que todas as teorias, incluindo as melhores, têm a mesma probabilidade, a saber, zero”. Bertrand Russell, matemático, logicista e inimigo do cristianismo – cito mais um anti-Cristão para provar que o que aqui ensino não é partidarismo Cristão – diz, a respeito das falácias inerentes ao método científico: “Se eu fosse promover tal argumentação, certamente pensariam que sou louco, todavia, ela não seria fundamentalmente diferente do argumento sobre o qual todas as leis científicas são baseadas”.
Repito: O método científico usa informações falsas para abastecer argumentos falaciosos. Assim, (sinto desapontar os adoradores da idéia científica) não há outra coisa a fazer exceto admitir que a ciência deixada por si só é pervertida e vã. Os cientistas mesmo sabem disto, quando são honestos. Cito mais uma vez Karl Popper que, por sua vez, cita Einstein a respeito da sua teoria, referindo aos seguintes dizeres de Einstein: apesar de ser “uma melhor aproximação da realidade do que a teoria de Newton”, “sua teoria era falsa” até quando todos os resultados eram os esperados. A causa dessa falsidade não é, segundo Popper e Einstein, um erro na teoria, mas resultado da natureza da ciência. Com o mesmo sentido, Sir Martin Rees, presidente da Royal Society (sociedade que reúne os principais cientistas da Inglaterra), conclui, em seu livro Cosmic Habitat, que algumas questões fundamentais da existência acabam “além da ciência”. Logo, para o bem da humanidade, de sua própria racionalidade, e do destino Eterno de sua alma, é bom recuar um passo antes de depositar na ciência uma confiança e uma esperança que os grandes cientistas mesmo admitem que não lhe cabe.

A Boa Ciência versus o Cientificismo
Não é estranho que a ciência seja assim pois, de outro modo, não poderia negar-se como comumente se nega, com suas teorias caindo e sendo constantemente substituídas por outras. A ciência é mutável e esta é a sua beleza, e o homem que conhece esta beleza e o tipo de conhecimento que a ciência gera não se torna um defensor aguerrido das suas teorias, nem as usa para amoldar sua compreensão de mundo, mas busca o lugar delas no cenário já composto. A ciência extrai seu conteúdo da natureza, e a natureza proclama a Deus sem levar a um perfeito conhecimento dEle – a natureza faz Deus conhecido sem, no entanto, expressar-se em termos científicos, Cristãos ou panteístas. Se homens têm reconhecido o Deus Cristão na natureza, eles só o têm feito porque Deus se revelou a eles primeiro, pelo poder do Santo Espírito operando o Evangelho; o homem a quem Deus não tocou se fixa na ignorância de Seu Ser. Assim, se a natureza não impõe uma visão teísta sobre a ciência, também cabe à ciência não impor uma visão científica sobre o conhecimento de Deus. A boa ciência comunica, a respeito de Deus, o mesmo que a natureza comunica. Mas a boa ciência tem sido contaminada por mero cientificismo. O cientificista, por seus erros e exageros, limita seu olhar sobre o universo adotando o mote “não há verdade fora da verdade científica”. Isso o guiará ao naturalismo (a negação do sobrenatural porque não se pode prová-lo empiricamente), ao materialismo (a negação de que algo transcendente exista), ao evolucionismo filosófico (a aplicação do darwinismo a todas as áreas humanas), ao humanismo científico ou à outros extremos perniciosos. Essa ciência infecciosa está nos livros escolares, documentários, filosofias políticas e filmes de ficção; ela é religiosa, no pior sentido do termo – seus adeptos são fariseus super-iluministas, grotecos fundamentalistas de raciocínio obscurecido. O cientificismo é inimigo de todo verdadeiro conhecimento, tanto o científico quanto o Cristão.
Não cometamos injustiça: ainda existe a boa ciência, que não emite vereditos sobre o que não é capaz de alcançar, porque não tira conclusões de onde não é possível tirar. Não há inimizade entre a boa ciência e a Escritura, pois a boa ciência submete a Criação ao homem, segundo o mandato de Deus. Aprendemos, exatamente do Livro de Gênesis, que o Criador do Universo é também o Senhor da Ciência e da Tecnologia. Em Êxodo 35:31-32a lemos: “E o Espírito de Deus o encheu de sabedoria, entendimento e ciência em todo artifício, e para inventar invenções...” assim também no versículo 35 e no capítulo seguinte, como também se depreende de Gênesis 4:20-22 onde Jubal, Jabal e Tubalcaim inauguram gerações de criadores de gado, músicos e mestres de toda obra de cobre e ferro. Há ainda Gênesis 2:9-15 que descreve o Jardim do Éden como possuindo metais preciosos e pedras preciosas para o deleite e trabalho do homem. A boa ciência revela a comunicação do Criador através da Criação, e glorifica-O com humildade e reverência, tomando para si o belo e conhecido dito do grande astrônomo chamado Kepler: “Ó Deus, graças Te dou por me haveres permitido pensar os Teus pensamentos depois de Ti”. Por isso, o mote da boa ciência é: “A verdade está fora da ciência, mas nos é permitido tocar na orla de seu manto”.

Não Afaste Seu Coração de Deus

“Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal.”
Isaías Capítulo 1 versículo 16
Os homens religiosos do tempo do profeta Isaías cumpriam cerimônias diversas, cerimônias que representavam purificação. Animais eram sacrificados para representar a morte resultante do pecado, abluções eram feitas para mostrar a necessidade de estar livre da imundície dos atos malignos praticados. No entanto, ainda que cumprissem todas as cerimônias e rituais de purificação, Deus advertiu a tais homens que não ouviria suas orações pois suas mãos estavam cheias do sangue inocente (Isaías 1:15). Os sacrifícios e rituais não eram capazes de torná-los puros. Porque não lavam as mãos quando comem pão? foi a pergunta que fizeram os fariseus a Cristo, com relação aos discípulos. O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca foi a resposta de nosso Amado Mestre (Mateus 15:1-11). Não são os rituais, não é a abstinência de alimentos, não é nada externo que poderia livrá-los da sujeira de seus pecados. Lavar as mãos não tirará o sangue inocente que há nelas. Eles precisavam encontrar a fonte de águas vivas na qual se lavariam e se purificariam por completo, de tal maneira que a maldade de seus atos não mais permaneceria diante dos olhos do Senhor (Isaías 1:16). Não era o caso de parar de fazer o mal, simplesmente. Isto, em Isaías 1:16, é dito depois - Lavai-vos, purificai-vos vem primeiro. Era necessário que a maldade intrínseca aos atos desses homens fosse removida de diante do Altíssimo, era necessário que a marca da maldade que todo homem carrega consigo fosse apagada deles. Como nas bodas de Caná da Galiléia, a água para purificação que enchia os vasos de pedra precisava ser substituída por Vinho Novo e vinho da melhor qualidade – o Vinho do Sangue de Cristo que sela a Nova Aliança entre Deus e os homens (João 2:1-12). Só assim a maldade desses homens poderia ser retirada de diante da face do Altíssimo. Só assim a nossa corrupção e todo nosso pecado pode ser perdoado, só assim nosso escrito de dívida pode ser rasgado. Precisamos encontrar o sangue que nos lava de uma vez por todas. Precisamos enxergar a Cristo.
E, uma vez lavados no sangue do Cordeiro, uma vez Justificados em Cristo, então devemos cessar de fazer o mal e, como diz o versículo 17 do mesmo capítulo, não só deixar o mal, mas também passar a fazer o bem


Assim, se cremos em Cristo (e na Salvação que Ele nos trouxe ao se entregar, na Cruz, por nossos pecados) devemos mortificar todas as más disposições e todas as paixões infames de nossa alma. Devemos matar todas estas coisas que ainda vivem em nós fomos purificados, fomos Justificados; como seríamos levianos com tão grande Graça e Salvação? Não se engane, para todo aquele que ama a Cristo, Seu jugo é leve e Seus mandamentos desejáveis – quem foge dos mandamentos do Senhor, foge da presença dEle e não O ama. Portanto, não sejamos como os fariseus que invalidavam o mandamento de Deus valendo-se de tradições de homens, de incontáveis manobras e trapaças teológicas e filosóficas, que só objetivavam impressionar o povo e trazer glória para eles mesmos (Mateus 15:1-11). Não sejamos como os homens da época de Isaías que honravam ao Senhor com os lábios, mas cujo coração estava longe do Altíssimo (Isaías 29:13). A pretensão nos dois casos era se impor aos crentes, dizendo: Honrem aos costumes da Igreja, não é assim que temos feito em nossa fé? Não é assim que se conhece que um homem teme ao Senhor? Não é assim que nós, seus mestres, temos feito? Mas Isaías advertiu-lhes: Esse atos não são fruto de temor ao Senhor, mas são a repetição vã de doutrinas mecanicamente aprendidas (Isaías 29:13). E nosso Senhor Cristo Jesus nos ensinou: São Hipócritas os que assim procedem! (Mateus 15:1-11). Ora, o lugar reservado aos hipócritas é o Lago de Fogo que arde eternamente! Se realmente cremos que Cristo é nosso redentor, se realmente cremos que Ele morreu em nosso lugar, que Ele é o Filho de Deus, se realmente cremos nestas coisas, adoremos ao Senhor em espírito e em verdade. Ouçamos o chamado de Deus, que nos diz: Venha a mim! Use sua razão ao me ouvir: ainda que seus pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve. Abandone a trilha que tem seguido, purifique-se, tire a sua maldade de diante de meus olhos, cesse de fazer o mal e faça o bem. Venha a mim, pecador, Eu posso purificá-lo. Venha a mim, os cansados e os oprimidos, Eu os aliviarei (Isaías 1:16-18, Mateus 11:28). Sim, usemos a razão que o Senhor nos dá e que nossa mente se clareie pela luz das Escrituras. Unamos o conhecimento do amor de Cristo e a prática da piedade, mostremos frutos dignos de nosso arrependimento e fé. Tratemos, em constante oração e súplica, de nos cingir da Verdade do Evangelho de tal maneira que a Santidade de Cristo, segundo opera em nós o Espírito de Deus, nos inspire cada ato - seja uma questão de prática, de moral ou de doutrina. E sejamos diligentes, temerosos e vigilantes, pois fazer algo diferente disto é negar a própria natureza da Verdade de Cristo, é confessar que se conhece a Deus, mas negá-lO em seu proceder; é ser abominável, desobediente, e desqualificado para toda boa obra (Tito 1:16), é estar condenado.

Temamos e lembremos do que diz a Escritura “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração” (Tiago 4:8), e nos acheguemos a Deus, com ousadia, confiados em Cristo Jesus, nosso Senhor e Justiça Nossa!

Toda Necessidade

A Necessidade de uma Saída

Estamos encerrados em um universo que não nos pertence, e, de certa forma, ao qual nós não pertencemos – um universo diferente daquele para o qual fomos criados. Fomos como que lançados aqui, sem placas de saída, nem compreensão do labirinto que se nos propõe a existência, entretanto com o desejo pela saída e uma imensa saudade de onde nunca estivemos. Contudo, não fomos abandonados, nem deixados sem recurso com o qual poderíamos responder estas questões – no interior de nossa alma jaz a Lei de Deus. E que Lei é essa? É um padrão de comportamento que, sem exceção, todo homem exige que os outros homens conheçam e que todo homem sabe quando transgride. Diga-me então, como você se sente quando mentem para você? Todo homem trapaceado se indigna, em maior ou menor grau, com o ocorrido. E se alguém te rouba um objeto querido? Agora, e quando você mente, ou rouba, e é apanhado? “Você não deveria ter feito isto”, “Mas, você prometeu que viria...”, “Você me disse que se esforçaria mais!”, “É meu! Me devolve”, “Eu não queria fazer isto, mas tive que fazer” - é isto que ouvimos e falamos nestas situações, assim nos sentimos. Quando falamos estas frases, mesmo sem querer, acabamos recorrendo a um padrão subentendido, que se tem por certo ser presente e válido, com o qual comparamos as ações que queremos provar serem erradas ou perante o qual damos explicações para nos desobrigar de algo que sabemos que ele exige. Aí está esta tal Lei. Afinal, que padrão é este que julga estes delitos, que nos informa de que algo que não deveria ocorrer, ocorreu? Qual o padrão que nos mostra que sofremos o que não deveríamos e que o caso carece de Justiça? Ou que fizemos o que não deveríamos e que, se formos apanhados, precisaremos de uma justificativa para não sofrermos punição? Sim, este padrão universal, gravado na alma de todo homem, é a Lei de Deus. Ela dá testemunho tanto do que é correto - e, portanto, deveríamos estar fazendo -, quanto da existência de um Legislador. Talvez você possa pensar: “Isto não é uma questão de educação ou cultura?”, e eu lhe respondo que não. Desde muito jovem, seja culto ou inculto, o ser humano já sabe quando é injustiçado em seus direitos, e responderá, com indignação, segundo a resposta cabível à sua idade. Por exemplo, uma criança que tem seu brinquedo tomado por outra, busca o auxílio da mãe para resolver a questão; e mesmo uma criança bem pequena, intervirá quando outra criança se desentende e agride seu irmão mais velho; e há muitas diálogos interessantes entre os infantes da pré-escola a respeito do que cada criança faz em relação as outras. Em uma sociedade brutal, como em certas tribos africanas, um jovem cuja família é assassinada requererá alguma providência – ainda que uma providência igualmente brutal - a violência intrínseca da sociedade não amenizou algo dentro dele que denuncia que aquilo é injusto; em uma sociedade urbana, quando um menininho é morto por bandidos durante o roubo do carro de sua mãe, homens e mulheres de toda parte, e logo a mídia, alardeiam o caso denunciando como injustiça a branda pena a que o culpado é sentenciado. Assim, independente da sociedade ou da educação, existe um senso do que é errado, um senso que todos compartilham. Por fim, pense bem, se não houvesse uma Lei absoluta a respeito do que é certo e errado, uma Lei que temos certeza ser conhecida por todo homem e válida em toda situação, qual direito teríamos de nos indignarmos e dizermos que o modo como os traficantes do Rio de Janeiro vivem é errado? Se fosse apenas uma questão de educação ou cultura, seria errado puní-los. Neste caso, tudo o que eles têm feito seria sua cultura, seu estilo de vida, sua opção social - como poderíamos exigir que fossem como nós, se a Lei Moral humana não fosse universal? Você pode alegar que é porque estão inseridos na mesma sociedade que nós. Agora, se é o caso de respeitar o status quo, já não poderíamos dizer que os Radicalistas Islâmicos estão errados em matar qualquer um que renuncie a religião Islâmica no seu país, nem poderíamos dizer que a China comunista está errada em escravizar homens e mulheres por causa de suas divergências políticas - estariam apenas enquadrando os desajustados. Por fim, se você adotar este tipo de pensamento relativista onde cada sociedade se auto-regula sem uma norma superior, acabará concluindo: “eles fazem parte de outra sociedade; como podemos afirmar que estão errados?” A conseqüência disto é que, logo que nossa sociedade se transformar e achar que certas pessoas podem ser discriminadas por suas crenças ou atributos genéticos (algo que muitos países da Europa e certas regiões dos EUA estão próximos de fazer), não teremos como dizer que isto é errado. Quando você, que hoje é parte da maioria, se tornar um desajustado por causa de suas crenças e seus hábitos, por causa de seu padrão genético ou sua árvore genealógica, quando você estiver sofrendo a injustiça, como poderá pedir ajuda, se antes você defendia o mesmo relativismo que permitiu a ascensão dos seus algozes?
Ora, sabemos que todos podemos, e devemos, lutar pelo que é justo, pela liberdade civil, pela punição aos criminosos, ainda que o Estado e a sociedade falhem por não fazê-lo; sabemos com mais ímpeto ainda quando um de nossos amados, ou nós mesmos, somos prejudicados por essas injustiças. Existe, portanto, uma corrente, um fio que delimita com estrita semelhança o que é justo e o que é injusto em todas as sociedades humanas, em todos os seres humanos, em todas as eras – um fio que vibra com especial intensidade quando o injustiçado é você mesmo.
Esta é a Lei de Deus, uma Lei Moral da qual todo homem tem conhecimento inato e a qual todos recorrem nestas situações. Chamo-a Lei de Deus porque esta Lei revela um princípio Bom e Justo, que nota-se ser oriundo de uma mente, por sua complexidade e adequação. Concluo, repetindo, para resumir, que esta Lei denota a existência de um Legislador – por esta Lei temos testemunho da existência e do caráter de Deus, Ele a imprimiu em nossa alma e a ergueu como pilar de sustentação de Seu Templo. Que Templo é este? O homem é este Templo e a habitação de Deus. Ou, ao menos, foi criado para tal. No entanto, há uma disparidade clara entre o bem que queremos fazer, visto o ressoar dessa voz em nossa consciência, e o mal que fazemos, ante o qual somos culpados pelos regimentos desta Lei. Portanto, o homem foi criado para o bem e para habitar com Deus, foi criado para obedecer a Lei de Deus, contudo está em tão miserável estado que já não vive sem guerras, roubos, adultérios, prostituições, vícios, corrupções, mentiras e inúmeras outras perversões, portanto, vive sem Deus.
O homem, ao mesmo tempo, ama esses atos imundos e é vítima deles, ao mesmo tempo é capataz e prisioneiro dos outros homens em seus pecados, porque foi criado para um mundo que não é este, mas sim, um mundo compatível com a Lei de Deus; no entanto, vive neste mundo e colabora para que este mundo seja tenebroso como é, impulsionado por auto-satisfação e impiedade. E o mundo mesmo, em corrupção e crueldade, clama conjuntamente contra o estado lastimável em que se encontra – uma obediência perfeita à Lei de Deus livraria a humanidade de todos seus males. Assim, ainda que a compreensão que a Lei de Deus em nossa alma nos dá não seja capaz de nos livrar desse deplorável estado, mas apenas às consciências sensíveis, torna visível a culpa, ela é útil, pois mesmo que não seja a porta para fora desse universo decaído ao qual não deveríamos pertencer - e, sequer seja a placa que aponta para tal porta -, esta compreensão aponta para onde encontraremos o mapa que leva à placa que aponta o caminho da estreita porta de saída. E quão necessária é esta saída! Pois este universo decaído no qual estamos encerrados é fechado e imerso em decadência – tudo o que nele está, ruma para a morte, e, caso não escapemos dele, nosso destino inevitável é essa mesma morte, e uma dupla morte nos espera, uma terrível para o corpo e outra ainda mais pesarosa, para o espírito e, se nosso espírito é imortal, dado o princípio de Deus nele, como a própria Lei de Deus, que é uma Lei para todo o sempre, a morte desse espírito será uma morte imortal – um eterno morrer-se sem nunca chegar ao fim.
Pela Lei de Deus começamos uma jornada rumo à liberdade de nossa alma, para além do que nos aprisiona, para uma abundância de vida, para o cumprimento do fim para o qual o ser humano foi criado: habitar com Deus e glorificá-lO em tudo o que faz.

A Necessidade da Comunicação de Deus
Concluímos até então que há uma Lei expressa na alma dos homens que dá testemunho do caráter de Deus e, portanto, do padrão que Ele criou e exige para que os homens tenham Paz com Ele. Percebemos que o homem não satisfaz tudo o que este padrão exige e que o universo dá testemunho da falência humana em alcançar tal obediência. Logo, o homem sabe que há algo de errado com o mundo e com os outros homens havendo, inclusive, os de coração mais honesto que admitem que há algo de errado consigo mesmos e algo de errado na relação deles com Deus. O que se imagina em seguida é: Como posso cumprir esse padrão? Onde está a ponte que atravessará este abismo entre mim e o que é Bom, Puro, Santo? A Lei não responde essa pergunta.
Há um Legislador, Deus. Ele deu essa Lei aos homens, uma Lei que demonstra Sua Justiça, Pureza, Santidade, Bondade – uma Lei que nos instrui ao altruísmo e à eqüidade. Daí, o próprio Deus há de ser Justo, Puro, Santo, Bom. Sendo Ele de tão nobre caráter, o mais nobre possível, espera-se que Ele nos instrua em como obedecê-lO e cumpra o objetivo para o qual Ele mesmo nos criou, dando-nos ao universo para o qual fomos projetados. Esperar-se-ia que Ele se comunicasse com a humanidade, além da Lei, a este respeito. Ele comunicou-se com toda a humanidade, primeiramente, através do nosso primeiro antepassado. Todos tivemos pais, e nossos pais tiveram pais, e assim todas as gerações, desde um primeiro pai. Nosso primeiro pai vivia com Deus, e, Ele lhe revelou Sua Instrução, Sua Palavra, Sua Razão. Em nosso primeiro pai, toda a humanidade foi instruída. Nosso primeiro pai, no entanto, ainda que fosse santo para habitar com Deus e, ainda que verdadeiramente habitasse com Ele, desobedeceu-O cobiçando o conhecimento do bem e do mal que lhe fora vetado. E na sua desobediência, conhecendo o mal, trouxe o mal como a um parasita para o universo, transformando o mundo puro em que vivia, e para o qual fomos criados, no mundo decaído que hoje conhecemos. Contudo, Deus não permitiu que se perdesse Sua Instrução, mas foi mantida, geração após geração desde nosso primeiro pai, chamado Adão. Por homens arrependidos, Deus confirmou Sua Palavra, que é esta: pela desobediência de um homem o mal entrou no mundo e muitos tem sofrido a conseqüência, pela obediência de um outro, o segundo Adão, muitos haveriam de, novamente, habitar com Deus em santidade. Essa Instrução, o Oráculo de Deus, Ele escolheu preservar, inicialmente, por meio de um povo, chamado Hebreus, nos escritos de Moisés, nos Salmos e nos Profetas Bíblicos e, posteriormente, pelo povo do segundo Adão, sendo este segundo Adão Aquele a quem chamamos Jesus Cristo. E é nessa Palavra preservada que encontramos tudo o que nos é necessário para andarmos em toda boa obra diante da face de Deus, pois nessa Palavra conhecemos as Boas Novas de que Cristo padeceu a pena por nós merecida e sofreu na Cruz o que nós deveríamos sofrer por tanto que descumprimos a Lei de Deus e por tanto que temos contaminado o mundo pela proliferação do pecado. Nesta Redenção, que aquela Lei natural não anuncia, a comunicação de Deus é necessária, e, na preservação desta Palavra, viva e escrita, que não sofreu uma corrupção sequer em milhares de anos, assim como na plena vida e simbiose entre a Escritura e a Lei natural, no ensino de Amor e Santidade de Cristo, é que se prova a Bíblia ser esta comunicação, de Deus com os homens. Ainda, no Santo Espírito de Amor que Deus provê aos que, por conhecimento, confiança e esperança se apropriam da plena obediência do Senhor Jesus Cristo à Lei, e de Seu perfeito sacrifício em nosso lugar, neste Santo Espírito de Deus, Deus comunica-se com estes a quem Ele proveu tal Espírito, aplicando e aclarando a Palavra Escrita, intercedendo e acusando quanto a obediência, tornando-os, de glória em glória, o que o homem foi criado para ser. Na Escritura o homem encontra a placa que indica a saída do universo decaído, e esta placa aponta para Cristo. Cristo, com a perfeita compreensão da Lei, o perfeito conhecimento da natureza humana e com o mais maravilhoso ensino sobre a relação entre Deus e os homens, testemunha do papel da Escritura e é, Ele mesmo, a porta estreita por onde o homem entra e, peregrinando em um estreito caminho que é Cristo, chega à fonte capaz de saciar toda a sede e fome de seu espírito. E, este homem que renasceu ao atravessar a porta estreita, encaminhando-se à saída do universo, desenvolve uma obediência gradualmente crescente à Lei de Deus. Subjugando toda maldade e entregando em adoração a Deus tudo o que fazem, desde a alimentação diária, passando pelo cuidado com a família e atingindo a sociedade e o trabalho, estes homens regenerados são as primícias de uma nova criação, que desde já restringe a ação do mal no meio da humanidade e que, em um tempo porvir, será feita completa ao desfazerem-se os elementos da presente criação na glória da segunda vinda de Cristo Jesus, dos altos céus onde habita à direita de Deus Pai.

A Necessidade de Comunhão
Quando veio a plenitude das eras, dos céus desceu o Filho Unigênito de Deus, que, sendo um com o Pai e de mesma glória que Ele, humilhou-se ao destituir-se de toda Sua glória e, sendo Santo, nascer como homem para habitar no meio do pecado e em semelhança do pecado, sofrendo a pena pelo pecado que não era seu, e pena maldita – uma morte de Cruz. O desejado das nações adentrou o universo decaído, e manietou o mal para extrair de todos os povos aqueles indivíduos amados desde antes do primeiro Adão, preordenados para serem de Cristo, até que o total dos escolhidos cumpra-se. Ele, sendo Eterno, irrompeu no curso do tempo, redimindo o mundo da maldade e estabelecendo um Reino Eterno de Verdade, Amor e Paz para todos que nEle crêem. Em Cristo, a história divina e humana se interpõem, o eterno e o temporal se cruzam, a Verdade mística e a Razão de Deus se revelam aos homens; nEle todos os anseios e todo o tatear das religiões antigas se encontram com a Palavra perfeita dos Oráculos dos Hebreus, o Velho Testamento da Escritura – o Senhor Cristo Jesus, plenitude da divindade, em carne como a nossa, com sangue como o nosso, findou as eras de trevas onde as nações conheciam a Lei de Deus, que é universal, mas não se comunicavam com Ele, pois estavam excluídos de Sua Revelação. Em Cristo, a Verdadeira Religião se resume – não há nada mais alto a ser alcançado além do que Cristo nos trouxe. E o Reino que Ele inaugura é o Reino de um futuro infinito, é a nova criação feita de uma nova humanidade, de homens regenerados, feitos novos em seu amor pelo Bem, em seu desejo por Santidade e Pureza e em suas boas obras.
A estes chamamos Igreja.
Que decepção! Porque se toda nossa reflexão e todo o trabalho de Deus termina no que é visto em toda parte e se chama por igreja, então algo está muito errado. Lembremos, a Lei de Deus nos deu o padrão de certo e errado, e essa Lei julga inclusive essa tal igreja – não é difícil ver que essa Lei condena o que a chamada igreja perpetrou pelos séculos. Usando o nome de igreja, as Cruzadas e Inquisições derramaram sangue de incontáveis pagãos e muitos dos que se chamavam Cristãos. Usando o nome de igreja se vendeu, e se vende, por dinheiro e poder, a falsa salvação da própria alma e até de almas dos outros. Essa chamada igreja, é cheia de homens adúlteros, mentirosos, corruptos e cheios de vício. Contudo, não é esta igreja que Cristo fundou - “nem todos que são de Israel são israelitas” explica o santo Apóstolo Paulo em sua Epístola aos Romanos, Capítulo 9, versículo 4. E, no livro de Reis, capítulo 18 a 22, quatrocentos eram os profetas que diziam o que era agradável ao Rei, com suas próprias palavras, e um, Miquéias, que dizia a verdade, segundo a Palavra do Senhor. Qual era, então, a Igreja? Não aquela que com opulência, riqueza e número ocupava as reuniões solenes e agradava ao Rei, mas aquela que, em Miquéias, pequena e humilde, era fiel ao Senhor. Então a Igreja de Cristo não é a igreja óbvia, não é a mais visível, nem a que mais se destaca. Antes, a Igreja de Cristo é o corpo reunido de crentes fiéis, obedientes à Lei de Deus, conhecedores do ensino da Escritura, vivendo em Amor e União, em cuidado mútuo, em perseverante oração, em temor diante do Senhor. A verdadeira Igreja é o Corpo de Cristo, a plenitude dAquele que cumpre tudo em todos, a verdadeira Igreja tem Cristo como seu cabeça, operando o poder dEle para sujeitar todas as coisas aos pés de seu Mestre Amado. A verdadeira Igreja é feita de homens e não de prédios ou de hierarquias ou de rituais; a verdadeira Igreja está onde estiverem dois ou três homens regenerados reunidos em temor e verdade de vida. A verdadeira Igreja é um rio caudaloso, porém espiritual, visível na pureza e santidade dos homens que a compõe, e não por grandes templos, riqueza ou poder, pois os genuínos Filhos de Deus sorvem da fonte desse rio, esse rio de águas luminosas e vívidas, um rio que nunca deixou de correr, em todas as nações e eras desde que Cristo redimiu os que são Seus, pois esse rio nos é dado por Ele mesmo. Este rio crescerá e engolirá toda a terra, e a vida crescerá nos fiéis por essas águas, enquanto os ímpios encontrarão a morte em águas profundas e escuras.
Essa é a Igreja e a comunhão dos Santos, daqueles a quem Cristo chamou. Neste Reino de Sacerdotes, nesta Nação Santa, Deus expressa seu amor aos crentes no amor destes uns pelos outros; pois, aquele que não ama o irmão o qual ele vê, toca e com quem fala, como amará a Deus que é espírito e invisível? Assim prosseguimos modesta e humildemente, sem que nosso coração se exalte e não cobicemos o que é alto demais para nós, não em aparência de piedade, nem em orações públicas e religiosidade que busca o reconhecimento, mas em consciência da Divina origem dos nossos dons e do que Deus tem operado em nós – mansidão, longanimidade, solicitude, hospitalidade – assim como de nosso eterno destino de glória nos céus; não temos ouro ou prata, contudo temos o conhecimento de Deus, vivemos com Ele em Espírito, andamos em Sua maravilhosa presença e somos, por Ele, feitos justos em Cristo Jesus, para glorificá-lO em tudo o que fazemos, em fervente amor, em alegre esperança, peregrinando sobre a terra e tendo, entretanto, a Jerusalém Celestial e os tesouros de Cristo em nossa constante meditação; apresentamo-nos, segundo a Graça de Deus Pai e a consumação de nossa dívida na Cruz de Cristo, como a, historicamente comprovada em testemunho da Escritura e da vida de milhares de homens santos, única verdadeira e perfeita religião, para todas as nações do mundo. O Evangelho Eterno, vindo de uma insignificante nação, do meio dos párias e pobres de espírito, de uma época remota, odiado e perseguido, primeiro pelos judeus e depois pelos gentios, cresceu para confundir a sabedoria dos gregos, o anseio de poder e sinais dos judeus e a política de Roma, estendendo seus ramos por toda Ásia, África, Europa e além, para todo mundo, por 20 séculos em uma Verdade inalterável, que move os corações dos homens na proclamação de uma perfeita esperança.
No amor de Cristo, resistimos. Na Cruz bendita nos gloriamos, e a todos quanto tem amado a Verdade do Evangelho, conclamamos, como uma criança desmamada descansa nos braços de sua mãe, que venham e descansem, seja você um cansado e oprimido pecador ou seja um homem já arrependido porém novo na fé, ou já experimentado mas de parcos frutos ou de fraca convicção, venha aos braços do Senhor Jesus Cristo e descanse – creia e serás salvo, e, como salvo ame a Palavra de Deus e Seus mandamentos dando-lhes a honra que lhes é devida! Convidamos a todos quanto tem amado a Cristo, unam-se conosco, na pureza e simplicidade do Evangelho, para conhecer e viver a doutrina dos apóstolos, o partir do pão, e as incessantes orações uns pelos outros e em gratidão perante nosso Pai, sejamos a Igreja fiel no presente século, em espírito, retirada do universo decaído pela única saída: Cristo, e, por isso, pura e imaculada, porém presente na terra para o progresso de Seu Reino - pela Graça de Deus Pai, lavados no Sangue do Cordeiro, e perseverantes na Santificação do Espírito. Amém!

Um profeta contra uma Igreja Adúltera - primeira parte

Por volta do ano 750 a.C. havia um profeta, provavelmente um homem da tribo de Issacar. Nesta época, Israel havia se dividido em dois reinos pela insensatez de Roboão, filho de Salomão. O profeta do qual falamos vivia no Reino do Norte de Israel. Seu nome era Oséias, e o Deus Todo-Poderoso o enviara para expor o pecado do povo, para que pesasse sobre eles a quebra da Aliança: eles haviam se tornado corruptos em suas vidas e no culto que prestavam - se esqueceram do Senhor que os resgatou.

Muitas eram as vozes dos falsos mestres, e suas bocas estavam cheias do engano. Aos homens diziam: Vinde, cultuemos ao Deus que nos tirou da terra do Egito, vinde o cultuemos com danças, façamos sacrifícios para termos prosperidade e saúde, fertilidade e riquezas, cultuemos nos novos altares que erguemos, com os novos sacerdotes a quem servimos, ouçamos seus profetas que nos trarão revelações e oráculos. Com os postes-ídolos o cultuemos. Que separação há entre Deus e os seus servos espirituais, entre Deus e a natureza? Cultuemos ao Senhor pelos Baalim. Que separação há entre Deus e os seus servos espirituais? Cultuemos conforme aprendemos com nossa tradição, como aprendemos com as revelações que nossos profetas dão, como nosso rei tem comandado, como nossos irmãos cananeus tem feito pelos séculos! Porque não fazê-lo? Não vêem que somos prósperos, que o reino tem paz e nós saúde? Deus se agrada de nosso novo culto, Ele quer que deixemos o culto que herdamos de nossos pais. Não estavam eles presos às Escrituras e ignorando que Deus é vivo? Esse era o chamado para o engano, essa era a tentação que assediava o povo de Deus, e por esse caminho seguiram tantos que a verdadeira religião se tornara quase invisível.Mas o clamor do profeta Oséias era o clamor de um verdadeiro profeta, e o vemos pela harmonia entre ele e os outros verdadeiros profetas que passaram por Israel. Sua pregação era: Voltai, ó Israel, à fé genuína em que andou vossos pais, à Aliança que nossos pais guardaram. Como o ensino do profeta Jeremias, sua doutrina ressoava: “peguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma”. [Jr. 6:16] E sua profecia era a de julgamento: “farei cessar todo o seu gozo, e as suas festas, e as suas luas novas, e os seus sábados, e todas as suas festividades... diz o SENHOR, porque semeiam vento e segarão tormentas; não haverá seara; a erva não dará farinha; e, se a der, come-la-ão os estrangeiros. Não derramarão libações de vinho ao SENHOR, nem os seus sacrifícios lhe serão agradáveis; seu pão será como pão de pranteadores, todos os que dele comerem serão imundos” [Os. 2:11, 8:7, 9:4]. Desprezando a mensagem do profeta, o povo que se chamava pelo nome do Senhor entregava-se às suas festas, regozijava-se em suas festividades, olhava para a nova teologia e para a nova liturgia que havia criado e cria que estava justificado diante de Deus, esperando dEle as recompensas por seus novos hábitos e sua nova compreensão do universo [Os. 2:5-17, 4:11-15, 9:1-5, 10:1-8, 2 Rs. 23:4-9]. Esses ímpios israelitas acreditavam que a riqueza e a prosperidade do reino era um sinal de que Deus aceitava esse culto renovado que eles prestavam - e o reinado de Jeroboão, quando Oséias começou a profetizar, era um reinado próspero [Os. 2:5,8,13]. No entanto, ainda que a nação desfrutasse de inúmeras vitórias e o povo vivesse a opulência, isto não era um sinal da aprovação do Senhor; antes, Deus suportava-os até que se enchesse a medida de Sua Santa Ira. A abundância que eles pensavam vir de Deus como benção para um povo que O agradara, Deus lhes deu para provar seus corações, e Deus mesmo a varreria; e a nova igreja que criaram, impregnada de justiça própria e tolerância com a mentira, Deus considerou um insulto.Enquanto isso, ao redor do Reino de Israel, a guerra siro-efraimita eclodira. O Reino da Assíria ameaçava engolir os reinos da região, subjugando-os ao seu império. E o rei Peca, rei de Israel, não recorreu ao Senhor; antes, “sem entendimento” buscou a Síria e o Egito [Os. 7:11]. A corrupção da religião afasta o coração de Deus; quem confia ao homem o controle da Igreja, confia ao homem tudo o mais. Quão infeliz é a decisão de trocar a proteção do Rei Eterno pelo abrigo instável de mil reis humanos ou o conselho dAquele que criou o universo pelo conselho de mil sábios! “Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!” [Jr. 17:5] O Rei da Assíria “não poderá curá-los, nem sarar a sua chaga.” [Os. 5:13], porém o Senhor é “Deus e não homem, o Santo no meio de ti” [Os. 11:9], “Ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará” [Os. 6:1].

E o profeta Oséias lhes disse estas palavras, assim foi sua profecia, segundo o Espírito Santo o inspirou a falar. Zelando pela Igreja de Israel, pelo Nome do Altíssimo, Oséias condena o adultério da nação – recorrer ao homem em lugar de recorrer ao Senhor é pecado de idolatria; trazer para a religião verdadeira princípios que não foram prescritos por Deus mesmo é, igualmente, pecado de idolatria; mesclar a adoração ao Senhor com aquilo que o enganoso e perverso coração humano [Jr. 17:9] cria e incita é abominação contra o Santo de Israel. Tendo sido entregues ao erro, o rei, os príncipes, os profetas e os sacerdotes guiaram o povo, e creram na mentira [2 Ts 2:11 ] e o Senhor “os entregou à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração” [Rm. 1:24]. Por amarem o que é torpe eles se tornaram torpes [Os. 9:10], e assim eles “praticam a falsidade; por dentro há ladrões, e por fora rouba a horda de salteadores. Com a sua malícia, alegram o rei e com as suas mentiras, aos príncipes. Todos eles são adúlteros. No dia da festa do nosso rei, os príncipes se tornaram doentes com o excitamento do vinho, e ele deu a mão aos escarnecedores.” [Os. 7:1,3-5].

A este profeta, Deus ordenara que figurativamente se casasse com uma prostituta, uma mulher de prostituição e tivesse filhos de prostituição [Os. 1.2]. Assim, quando diante do povo Oséias proclamava sua mensagem e expunha a si como marido de uma adúltera, ali era vividamente visível a dor e a angústia daquele que amava a infiel. Essa era a mesma dor e o mesmo clamor por Justiça que o Senhor tinha em relação à adúltera Igreja de Israel, que se afastara dAquele que a tirou da terra do Egito, para se submeter à mente daqueles que eram espiritualmente semelhantes aos egípcios, partilhando das mesmas trevas. Nisto a gravidade da mensagem profética de Oséias é destacada. Como todo profeta, suas palavras são palavras de dor, são o ensino de que o pecado gera morte e que o arrependimento do que crê que Deus somente é a sua justiça, gera a vida. Como todo profeta, Oséias contende com aqueles para quem profetiza; ele personifica a voz da ira de Deus anunciando a destruição sobre os que não se convertem. Adivinhos e feiticeiros prevêem o futuro para o proveito, entretenimento e provação dos homens [Dt. 13; 18, Mt.16.16 ], mas profetas verdadeiros anunciam o Juízo e a Salvação, pela revelação de Deus. Verdadeiros profetas são intérpretes da Lei e atalaias de Cristo. Assim, o objetivo da profecia de Oséias, como de toda profecia, é anunciar redenção, trazer humildade ao coração dos homens, humilhá-los ante a Deus e assim conduzí-los para Sua Luz. A Igreja Verdadeira vive da voz profética: é a profecia que exorta o verdadeiro Cristão à fidelidade revelando a natureza de Deus, e nos anuncia a esperança do porvir. A pregação do Evangelho é a voz profética do Velho Testamento na Nova Aliança; “Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho” [Hb. 1.1]. E, Oséias, como a Igreja deve fazer, não usa de retórica e eufemismos para diminuir a rudeza do ensino, nem se fixa em coisas amenas e bendições ou em anedotas e historietas agradáveis, nem busca exaltar o melhor lado do homem e atraí-lo com subterfúgios para as coisas do espírito, nem convida os homens para festividades melhores do que as do falso culto. Oséias não perde seu tempo agradando homens, não há meias palavras, ouvimos nele a admoestação do Senhor: Como uma mulher infiel e adúltera, é esse povo. Como a pior das meretrizes se enche de abominações e descaradamente volta para seu marido, esse povo se entrega a prostituições e depois Me buscam. Me chamam pelo nome de seus falsos deuses, e se gloriam em suas obras perversas. Pois se já foram chamados pelo meu Nome - Filhos de Deus, eis que hoje Eu repudio essa Igreja, Eu vomito o meu povo da minha boca e não mais serão chamados de meus filhos. Como uma mulher adúltera, o povo, os sacerdotes e até os profetas estavam pervertidos. Eles haviam deixado a maneira pura, simples, a antiga vereda, a maneira correta de servir ao Senhor; eles haviam deixado o Espírito e a Verdade, deixado o culto prescrito pela Lei para elaborarem um culto segundo a sua mente e criatividade, segundo o espírito humano. Foram atraídos pelo incenso estranho de Nadabe e Abiú, pereceram na contradição de Coré, amaram o engano de Balaão. Eles construíram uma falsa religião centrada neles mesmos e não se separaram do mundo apóstata – adotaram em seu meio doutrinas dos ímpios cananeus e revestiram os costumes ímpios com uma aparência de religião verdadeira. Eles contaminaram o Povo de Deus, encheram a Casa do Senhor da mesma imundície que evocou a ira de Deus contra os povos que Ele expulsara da terra de Canaã. Eles amaram a obscenidade e a vontade da carne, e o fizeram cheios de misticismo, seduzidos pela falsa oportunidade de experimentarem uma nova relação com Deus, escolhendo viver segundo o que sentiam ser religião mais próxima de Deus – eles não julgavam segundo a reta doutrina mas segundo o que lhes parecia ser melhor; e eis onde erraram, pois obscurecidos em suas mentes carnais, julgando segundo sua própria experiência e sentimentos, concluíram que Deus lhes era Mestre e Proprietário, mas não o viram como o Legislador, Juiz e Justificador, Misericordioso e Longânimo.“Retornarei, e tirarei meu trigo em seu tempo, e meu vinho novo em seu tempo determinado.” [Os. 2.9] são as palavras do Senhor que o profeta diz, e nelas ouvimos o Senhor dizer: Adúlteros e ímpios, recebestes com prazer o bem que vos dei, recebereis vós com o mesmo prazer o mal que vos farei? Ou amastes mais ao pão que multipliquei e ao vinho que vos dei do que a mim? De súbito virá sobre vós a espada; de uma só escorregarão. O que vos tenho dado, tornarei de volta a mim, até a minha Palavra e a minha Aliança tirarei de vós. Duros de coração e hipócritas, buscastes aos homens abomináveis e ao povo que eu rejeitei para ouvirdes de mim, e não me buscardes a mim mesmo? Não sabeis que o que procede da carne é carne e o que procede do Espírito é espírito? Semeastes na carne, na carne colhereis, ao ensino de homens ouvistes, à concupiscência da carne se dobrarão.

Quão perverso é o homem que se alegra nas bênçãos divinas, contudo não se alegra em Deus mesmo! Os que assim agem dão glória à criatura em lugar do Criador, e abandonam a autoridade do Senhor, pois na verdade se curvam ante às operações e ao poder de Deus e não ante a Deus mesmo. São como os demônios que crêem em Deus e temem, mas não vivem segundo a vontade do Altíssimo. Falta-lhes a compreensão verdadeira de Deus. E é assim que todo homem seduzido pelo misticismo pagão se porta, ainda que o misticismo se apresente travestido de verdadeira religião ou misturado com esta. “Pela força eu levarei minha lã e meu linho” [Os. 2.9], lhes condena o Senhor. Assim lhes diz: Impropriamente vós tendes usufruído dos meus dons, para seus próprios deleites tendes usado minhas bênçãos. Com essas coisas tendes coberto a vossa nudez. Contudo, Eu mesmo resgatarei o que sem vos pertencer tendes mantido convosco, pois até a meu Nome e a minha Palavra vós tendes tentado manter cativo. Tudo isto vos tomarei, todo dom e toda bênção, e correreis aos ímpios e escarnecedores para receberdes o que amardes, e se fará visível a vossa vergonha e patente o vosso adultério!

Quão apropriada é esta condenação para os nossos dias! Estamos cercados de homens que se ocultam sob a falsa religião, mas que não buscam nada além de agradar a si mesmos usufruindo impropriamente dos dons de Deus e pervertendo a religião com misticismos, supertições e tradições humanas. Eles enchem seus lábios para falar de Deus, e até de nosso Senhor Cristo Jesus, mas estão cegos para seus próprios pecados, porque ainda não lhes sobreveio o julgamento. Força, vigor, riqueza, saúde, tudo havia em Israel quando Oséias lhes anunciava a ira de Deus, e nem por isso estava nestas coisas um sinal da aceitação diante do Pai. Que os hipócritas chorem e se lamentem em sua prosperidade, que os aduladores se humilhem em seus êxitos, que os grandes caiam por terra diante do Altíssimo, porque sua derrocada não tardará! Se humilharem-se e buscarem ao Senhor, se submeterem-se a sua Palavra, se abandonarem os preceitos de homens, se derem ao Senhor toda a glória e refugiarem-se somente nEle, Sua Santa Ira não os alcançara. Caso contrário, tudo o que podem esperar é fogo, trevas e dor.

Que possamos ouvir as palavras de Oséias, e atentar a ele, e ao Espírito Santo que o inspirou a falar. Zelando pela Igreja de Israel, pelo Nome do Altíssimo, é Oséias mesmo, cujo sangue ainda fala como falou o sangue de Abel; é Oséias mesmo que condena o adultério dos que se chamam Igreja de Cristo, como outrora condenou o de Israel. O machado está a raiz da árvore, e esta será derribada se não produzir fruto: todo que professa o nome de Cristo mas é espiritualmente adúltero, ou é moralmente adúltero, ou tem ânimo dobre, está encerrado sob uma aparência de religião e não conhece a Verdade. Não se deixem enganar pela sutileza do ensino relativista moderno: todo o que recorre ao homem em lugar de recorrer ao Senhor, todo o que deposita sua fé última no homem e não no Senhor, todo que o faz é pecador e idólatra; todo o que traz para a religião verdadeira princípios que não foram prescritos por Deus mesmo é, igualmente, pecador e idólatra; todo o que mesclar a adoração ao Senhor com aquilo que o enganoso e perverso coração humano [Jr. 17:9] cria e incita comete abominação contra o Santo de Israel. Em Israel, tendo sido entregues ao erro, o rei, os príncipes, os profetas e os sacerdotes guiaram o povo, e creram na mentira [2 Ts 2:11 ] e o Senhor “os entregou à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração” [Rm. 1:24]. Hoje nossos governantes, os pretensos profetas, os sacerdotes que devoram os rebanhos de Cristo, crêem na mentira e o Senhor os têm entregue à toda sorte de vergonha pública e de desejos perversos. Nossos líderes têm se esvaziado da Palavra de Deus e aberto suas portas para doutrinas místicas, pagãs e centradas no homem e, por amarem o que é torpe eles se tornaram torpes [Os. 9:10], assim eles “praticam a falsidade; por dentro há ladrões, e por fora rouba a horda de salteadores. Com a sua malícia, alegram o rei e com as suas mentiras, aos príncipes. Todos eles são adúlteros. No dia da festa do nosso rei, os príncipes se tornaram doentes com o excitamento do vinho, e ele deu a mão aos escarnecedores.” [Os. 7:1,3-5].

Ah, Povo de Deus! Temam o julgamento que Oséias anuncia, pois se Deus foi severo com os ramos originais da Oliveira, quão mais podemos nós, ramos enxertados, sofrer a Sua Ira! Fujam do meio dessa igreja adúltera, enquanto há tempo, voltem à Palavra enquanto se pode achá-la!

Cristão: Um novo nascimento e um novo amor

Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus.
Evangelho de João Capítulo 3 Versículo 3

Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido.
Primeira Epístola Universal de João Cap. 5 Versículo 1


Cristo nos ensina que é necessário nascermos de novo para vermos a Deus. Como pode um homem, tendo já idade, nascer de novo?
Voltará ao ventre? De maneira nenhuma, Cristo explica em sua conversa com o judeu Nicodemos - aquele que não nascer da água e do Espírito não pode ver o Reino de Deus¹. Sobre o que Cristo fala aqui? Sobre regeneração, ou seja, o fim de uma vida longe do Senhor e o início de um viver que olha unicamente para Ele buscando a salvação; sobre a fé que sela ao homem, habilitando sua alma a dizer, com o apóstolo Paulo, "O Filho de Deus me amou, e se entregou a si mesmo por mim”.²

Consideremos ainda o que o apóstolo João nos diz: “todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus”.³
Portanto,
Quem pertence ao Reino dos Céus e viverá com Cristo eternamente?
Quem terá a alegria permanente da presença do Todo-Poderoso, para todo sempre?
Todo aquele que ama, pois todo o que ama nasceu do Espírito de Deus, foi lavado de seus pecados no sangue de Cristo, e tem nEle, acesso ao Pai.4

Ora, todo que se diz Cristão professa crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus, morto pelos nossos pecados, ressurreto para a glória do Pai. Todos que se dizem Cristãos alegam amor a Deus e ao próximo.
Mas o que distingue um verdadeiro Cristão de um crente meramente religioso?
Exatamente o ser nascido de Deus, nos diz o Senhor Cristo Jesus.5 Se não for regenerado, ou seja, se não nascer de novo, nascer de Deus, a própria vontade do homem permanece corrompida. E é de Cristo que vem essa vida nova aos homens que estão espiritualmente mortos em seus pecados: basta crerem nEle, e viverão. Só de Cristo vem o nascer de novo; não importa quão religioso seja, nem quanto se dedique à oração e à caridade, ninguém pode, de si mesmo, se fazer nascer de novo – ainda que dedique sua vida aos pobres, e se entregue ao martírio, ainda que sua fé ressuscite mortos e evoque fogo do céu, e que sua palavra manifeste o conhecimento mais profundo e sua proclamação anuncie coisas ocultas e até o futuro distante, e tudo isso o faça em nome de Cristo 6 – enquanto seus pensamentos e suas intenções, ainda que as mais ocultas, estiverem escravizados pelo pecado, tudo lhe será em vão. Assim, homens, como foram Judas Iscariotes e Balaão, podem ser religiosos e até chamados mestres e profetas, podem realizar grandes feitos e até maravilhas, podem, inclusive, proclamar Cristo, mas não serem nascidos de novo. Tais não tem amor ao Senhor e são tão filhos do inferno quanto um genocida ateu.
Mas o que é gerado de Deus, se manifesta em amor, nos diz o discípulo amado, o santo João, e ouvimos a voz do mesmo Espírito no apóstolo Paulo: “sem amor eu nada seria”.6

E, como é este amor do qual estamos falando?
Não é o amor banal e tolo de tantos filmes, livros e novelas. Não é uma utopia romântica, não é emocionalismo, nem êxtase, não é um sentimento que arrebata corações e sobrepuja a mente. O amor que torna o homem que Cristo vivificou diferente do homem que ainda permanece morto nos seus pecados é o amor que nasce da vontade e gera frutos. “Amai ao SENHOR”, “Amarás o Senhor, o teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” e “Amai os vossos inimigos”7 são Palavras imperativas que Ele nos diz. O Senhor nos comanda a amar – logo, o amor do qual se fala aqui é o amor que nasce da vontade de amar, que engloba todos os sentimentos, sensações e intelecto, alimentando-se deles e, de maneira nenhuma, anulando-os. Este amor, daquele que é nascido de Deus, é espontâneo por compreensão da verdade8 – o Cristão ama ao Senhor porque Deus é o que é, e ama ao próximo porque Deus é o que é9 - e, de maneira nenhuma, tal amor pode ser espontâneo por brotar de si mesmo, pois não brotou de si, mas vem de Deus, no operar do Santo Espírito pela formação da mente de Cristo no crente – assim, o amor não é um fim em si, nem tem poder em si mesmo, mas deriva seu poder e se compraz no amor de Cristo. O real amor Cristão, como um arvoredo que busca o sol, cresce em resposta ao incessante amor de Deus que nos “deu o seu Filho unigênito”10 , e recebe por seiva a infinita gratidão a Jesus “porque Ele nos amou primeiro”11 e, quando estávamos mortos nos pecados e na incircuncisão da nossa carne, nos deu vida e perdão.
O verdadeiro Cristão tem como sua Rocha o amor de Cristo, e francamente responde a esse amor, entregando todas suas afeições aos pés do Mestre. Ele brada com o Salmista “A quem tenho eu no céu senão a ti? E na terra não quem eu deseje além de ti”, ele confessa com alegria “O SENHOR é a porção da minha herança”12. Onde existe este amor não há lugar para outros anseios, não há escalas a serem atingidas através de Deus, não há desejo de que o Senhor o eleve acima de outros homens, ou lhe atenda a pretensos direitos e exigências que não são mais do que mimos infantis13. O amor sobre todos os amores não barganha com Deus, mas se satisfaz com a graça de Cristo e busca, sedento, que seu Senhor esteja mais e mais próximo de si.14

Constantemente na história florescem épocas, ápices heróicos da fé que vem pela graça, nos quais a flor do Cristianismo desabrocha de entre as penhas do mundanismo e da hipocrisia religiosa que tentam sufocá-la; há também, em todos tempos, regiões tenebrosas onde o príncipe do mal comanda implacável perseguição contra os filhos de Deus. Nestas situações, mais ainda se destaca a marca do amor Cristão. O amor de Deus que possui o Cristão, e o amor que o Cristão possui em resposta ao amor de Deus, são então vistos claramente em todos que professam Cristo; lá estão homens que conhecem seu Salvador, e descansam nEle como quem se assenta em uma pedra da costeira, a qual já testou e verificou ser bem firme, e não teme ante o mar bravio.

Agora, você amado leitor, tema se não testou e não conhece a pedra que é a fé que alega ter e o amor que diz viver pelo Cordeiro Santo. Tema se a boa semente que a Palavra de Deus lança, brota e cresce em seu coração, mas o arvoredo que daí surgiu não produz frutos e inclina-se para a seca. O amor por Cristo não pode ser uma emoção silenciosa escondida nas câmaras secretas de sua alma, do qual você fala apenas em suas reuniões privadas nas quais se encontra com costumeiros amigos um dia da semana, durante a qual cantam hinos e lêem versículos em honra de Cristo Jesus crucificado, sem na verdade honrá-lO em seus corações. Os que assim fazem, atraem para si destruição, rejeitam a Cruz que cantam e da qual ouvem, Cruz a qual deviam não só cantar e ouvir falar, mas também carregar. “E quem não toma a sua cruz e não segue após mim não é digno de mim.”15 Amar a Cristo não é um compromisso social para os domingos, nem é uma maneira de não sofrer mais nenhuma intempérie comum humana, antes, “por muitas tribulações importa entrar no Reino de Deus”16 . Amar a Cristo é negar-se a si mesmo, é uma paixão integral em seu ser, de tal veemente e consumidora energia, que tem de ser visível em todas as ações do crente; tem de ser falada em todas as suas palavras - com realidade e não com um jargão inútil de “gírias cristãs”; e tem de ser vista através dos seus olhos até nos olhares mais comuns. O Amor por Jesus é uma chama sólida que queima e arde, sem se consumir e se constitui no próprio núcleo que une e alimenta todas as outras paixões e motivos daquele que nEle crê; tudo, no Cristão verdadeiro, remete a Cristo, ao amor dEle que o resgatou e ao seu amor pelo seu Redentor. O Amor por Jesus tem de ser o centro magnético que mantêm a unidade e a coesão entre a doutrina bíblica e a constante prática da piedade de todo Cristão, e, assim, com força e explosão cavar seu caminho da alma ao mundo exterior, e emergir com fulgor lá.

O Zelo pela glória do Rei Jesus é o selo e a marca de todo Cristão genuíno.

E porque vivem pelo amor que Cristo tem por sua igreja, a Luz do Senhor refulge neles. Os verdadeiros Cristãos desafiam o mundo, denunciam a carne, anunciam o juízo aos poderosos e aos que tomam o nome de Deus em vão, e o Evangelho aos pecadores, e, assim “são odiados de todos por causa do nome de Cristo”.17 Por causa do amor deles por Cristo, os heróis do Cristianismo passado desafiaram poderes e Estados e, contra o mundo, e contra as gentes, insistiram na pureza da mensagem da Verdade e na pureza da vida Cristã em Santidade; foram, por isso, perseguidos; Jonh Wickliffe, tradutor da Bíblia para o inglês e escritor que denunciava os abusos da Igreja de Roma, foi duramente perseguido, John Huss, lingüista e pregador na Boêmia, o foi pelos mesmos motivos. Foram perseguidos os Cristãos da França e dos territórios próximos, tanto que tiveram de se refugiar nos vales. São, hoje, perseguidos os Cristãos da Índia, os da China, os dos países muçulmanos. Por causa da Verdade, muitos ainda são mortos; assim o profeta Isaías foi serrado ao meio; Estevão foi apedrejado; Tiago, filho de Zebedeu, foi decapitado; Policarpo, discípulo de João, atado a uma estaca, perfurado por espada e queimado. Por Cristo, muitos desistiram da própria vida e dedicaram-se ao Reino de Deus. E, com o sangue desses mártires e heróis, a Igreja foi, e é edificada; assim em todas as épocas, assim ainda hoje.18 Nosso amor por Cristo e pelo Reino de Deus não deve ser menor do que o de cada um desses homens; não deve ser menor nossa operosidade, não deve ser menor nosso esforço em oração e o ódio ao pecado e a falsa doutrina.

Os filhos de Deus são regidos em suas forças mais íntimas pelo Amor – o amor de Cristo os constrange; Ele deu a si mesmo por eles, e eles se regozijam no amor divino que lhes atingiu. Eles conhecem esse amor que verte, abundante como um rio de águas-vivas em seu coração, pelo Santo Espírito de Deus, que é dado a eles, a todos quanto verdadeiramente crêem, a todos que são nascidos de Deus, ainda no primeiro momento da fé que lhes nasce. Não é possível ser Cristão e não ser movido pelo Amor de Deus, não é possível ser Cristão e não ter o Espírito de Deus. Todo aquele que ama é nascido de Deus, todo que é nascido de Deus crê em Cristo e ama os Seus mandamentos, todo que crê em Cristo tem o Espírito de Deus, e isto é dom de Deus à Sua Igreja, para que ninguém se glorie, pois não é para justiça própria do homem, nem para que um crente seja maior que outro, mas para glória de Deus na vida daqueles que Ele justifica em Cristo.19
O amor de Cristo constrange o genuíno Cristão, vida abundante Ele lhe concedeu, Seu Espírito Ele lhe cedeu, e por força dessa infinita gratidão opera o amor a Deus e ao próximo, nesta nova vida gerada do alto, do Pai, pelo Espírito, no sangue da Cruz do Filho; nesta nova vida o amor do Salvador ferve no coração puro do genuíno Cristão – primícia da nova Criação em Cristo.

Meu leitor, você realmente ama a Cristo?
Realmente ama as Suas ovelhas?
Então o faça com toda sua força, toda sua alma e todo seu entendimento, em dedicação e diligência, em orações, súplicas e caridade, sem contendas, inveja ou orgulho, com mansidão e em batalha pela Verdade, em zelo pela Palavra, e em pureza de vida e caminhos. Faça-o, com temor e tremor, segundo a graça do Espírito que opera em nós, pois todo galho que não produz fruto é cortado e lançado no fogo.20

“Nisto se manifestou a caridade de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos.”
Primeira Epístola João Capítulo 4 Versículo 9

Algumas referências das Escrituras utilizadas, para estudo:
1 - Evangelho de João Capítulo 3; 2 - Epístola de Paulo aos Gálatas Capítulo 2 Versículo 20; 3 - Primeira Epístola Universal de João Capítulo 4 Versículo 7; 4 - Primeira Epístola Universal de João Capítulo 4 Versículo 7, Epístola aos Hebreus Capítulo 9 Versículo 14, Epístola de Paulo aos Efésios Capítulo 2 Versículo 18; 5 - Evangelho de João Capítulo 3 Versículos 6 e 7, Primeira Epístola Universal de João Capítulo 5 Versículo 1, Evangelho de Mateus Cap. 7 Versículo 21 e Capítulo 12 Versículo 50; 6 - Deuteronômio Capítulo 13, Evangelho de Mateus Capítulo 7 Versículo 21, Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios 13 Versículo 7; 7 - Salmo 31 Versículo 23, Evangelho de Mateus Cap. 22 Versículo 37, Evangelho de Mateus Capítulo 5 Versículo 44; 8 - Epístola de Paulo a Filemon Capítulo 1 Versículos 8 e 9; 9 - Isaías Capítulo 48 Versículo 17, Jeremias Cap. 24 Versículo 7, Primeiro Livro de Reis Capítulo 8 Versículos 60 e 61, Deuteronômio Capítulo 6 Versículos 4 e 5, Levítico Capítulo 19 Versículo 18, Primeira Epístola Universal de João Capítulo 4 Versículo 20; 10 - Evangelho de João Capítulo 3 Versículo 16; 11 - Primeira Epístola Universal de João Capítulo 4 Versículo 19; 12 - Salmo 73 Versículo 25, Salmo 16 Versículo 5; 13 - Segunda Epístola de Paulo aos Coríntios Cap. 12 Ver. 19, Evangelho de Lucas Capítulo 22 Versículo 26, Epístola Universal de Tiago Capítulo 4 Versículo 3; 14 - Salmo 130 Versículo 6, Habacuque Cap. 3 Versículos 17 e 19, Epístola de Paulo aos Romanos Capítulo 8 Versículos 35 até 39; 15 - Evangelho de Mateus Capítulo 10 Versículo 38; 16 - Atos dos Apóstolos Capítulo 14 Versículo 22; 17 - Evangelho de Mateus Cap.10 Versículo 22 e Cap. 24 Versículo 9 Evangelho de Lucas Capítulo 21 Versículo 17; 18 - Gênesis Capítulo 4 Versículo 10, Apocalipse de João Capítulo 6 Versículo 10 e Capítulo 11 Versículos 3 até 13; 19 - Epístola de Paulo aos Efésios Capítulo 1 Versículos 13 e 14, Evangelho de João Capítulo 7 Versículos 37 até 39; 20 - Evangelho de Mateus Capítulo 3 Versículo 7 e Capítulo 7 Versículo 19, Evangelho de Lucas Capítulo 13 Versículo 6 até 9, Evangelho de João Capítulo 15 Versículo 2 até 8
Autores consultados: C.H.Spurgeon, A.W.Tozer, Mathew Henry, dentre outros.

Unicamente Jesus Cristo!

Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunha a seu tempo.
1 Timóteo 2:5-6
Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.
João 14:6

Há um só Deus e um só mediador, um só caminho que dá a vida e conduz ao Pai. É isto o que o Senhor Jesus Cristo nos diz e, toda a Santa Escritura, inspirada pelo Espírito Santo, testemunha.
Portanto, como Cristãos, como homens que crêem na Escritura, não precisamos e não devemos recorrer ou orar a anjos, sacerdotes, profetas ou aos mortos, sejam tais mortos cristãos da antiguidade ou não.¹ Não precisamos fazer ofertas, oferendas ou promessas.¹ Porque nenhuma dessas coisas é capaz de nos levar diante do Pai, uma vez que ninguém vai ao Pai senão por Cristo. O Apóstolo Paulo nos diz no segundo capítulo da sua Epístola a Timóteo - Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo.¹ Só Jesus Cristo é a porta que leva diante de Deus; só o seu sacrifício nos lava do pecado e nos torna aceitáveis diante do Pai, só a perfeita obediência de Cristo pode, mediante a fé, ser considerada como nossa. E grande é a Graça de Deus Pai em todas estas coisas.
Por isso, ouçam ao Bom Mestre Jesus e creiam: só Ele é o único caminho para nos levar diante do Pai.

O Senhor Jesus Cristo nos basta e deve nos bastar. Somente Ele nos leva diante do Pai e nos faz a paz com Deus. Somente Ele é o desejado das nações. E a Ele devemos nós desejar sobre todas as coisas: Jesus Cristo deve ser o alvo de nosso amor maior!
NEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade, nEle estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento¹ – Ele é o próprio tesouro que recebemos de Deus e a recompensa aos crentes fiéis².

Assim, o próprio Evangelho é Cristo mesmo, pois unicamente Ele é a salvação. NEle estão todas as Boas Novas de Vida e toda a Redenção prometida por Deus desde o Éden². Logo, Ele é tudo o que a Sua fiel igreja precisa anunciar e tudo o que os homens precisam conhecer de Deus.

Não raro as trevas se adensam e forças se levantam contra o verdadeiro Evangelho, o Evangelho que prega somente Jesus Cristo. Então, gerações perversas, como a dos homens de hoje, se enchem de infiéis e de ímpios que amam mais a si mesmos e a seus prazeres que o Evangelho de Deus. Outrora uma geração como a de hoje perverteu o ensino sadio da Igreja e, com sinais e prodígios de mentira e com tradições de homens, conceberam do Anticristo a religião de Roma. Hoje uma nova geração má e adúltera busca sinais e concebe toda sorte de outros Evangelhos. Contudo, seja hoje ou no passado, os filhos das trevas, cegos de entendimento, prosseguem distorcendo o Evangelho para buscar na religião algum ganho para si³, mas, ainda que a religião verdadeira quase desapareça no meio das incontáveis falsificações, ao Cristão que anda por fé, unicamente Jesus Cristo permanecerá sempre sendo toda sua recompensa.

Assim, se há alguma boa-nova vinda de Deus para a humanidade, esta é unicamente Jesus Cristo – Ele é toda a esperança que temos, e a única base de confiança onde os homens podem se firmar. Ele é a revelação da perfeita religião, Ele é o único caminho para o Pai e dEle é o único ensino que conduz o homem à Salvação. Ele não muda, nem se arrepende, antes, em todas as gerações, Jesus Cristo é o bem absoluto. Ele é a luz perfeita a qual não bruxeleia, nem se extingue, nem tem sombra alguma.
Unicamente Jesus Cristo é toda a esperança que a Igreja verdadeira precisa apresentar ao mundo tenebroso e nEle estão todas a armadura e todas as armas para lutar e resistir ante a apostasia. E, unicamente Jesus Cristo é todo o Evangelho que cada Cristão precisa crer e pregar - basta a voz de Cristo para trazer para Si o cansado e pobre pecador.

Chamo, novamente, a atenção do leitor para a geração presente. Em toda parte os homens têm buscado o próprio prazer, e uma felicidade e realização egoístas. Não vemos nas pessoas a realidade do que Cristo ensinou, não vemos nelas o cumprimento do princípio da Lei do Velho Testamento; não vemos nelas um amor ao próximo tão intenso quanto o amor que tem a elas mesmas. Antes, vivem para si mesmos e parecem estar sofrendo com uma sede constante, uma ininterrupta busca, por alguma coisa que seja “nova”, ávidos pelas sensações e vantagens que isto pode lhes oferecer, não importando se essa “novidade” está no âmbito pessoal, se é moralmente correta, se veio de um esforço intelectual e de pesquisa, ou se veio de uma ação ou revelação mística. Essa busca se tornou tão comum que esse sentimento se espraiou até a religião, e os homens passaram a esperar dela um dinamismo semelhante ao das ciências, ou uma atração e oferta de prazer como se oferece pelo marketing ou se obtêm do entretenimento. Porém os homens se esquecem de que a ciência, o mercado e o entretenimento são produtos humanos, carregados dos objetivos comuns humanos, com todo erro e corrupção que surge em toda atividade humana e, por isto, constantemente apresentam “novidades” - afinal seus seguidores, por mais que estejam sempre aprendendo, nunca chegam ao conhecimento da Verdade, e precisam sempre voltar atrás no que declaram – sempre há um “novo e melhor” produto, uma “nova e melhor” filosofia de vida ou uma “nova e melhor” dieta, como sempre há uma “nova e melhor” teoria científica porque, na verdade, o anteriormente anunciado não era tão definitivo, nem tão maravilhoso, quanto parecia no anúncio do jornal.
No entanto, excetuando-se, claro, as falsificações grotescas e mercenárias, a religião, religião verdadeira, é instaurada por Deus, como um encontro existencial com os homens, selada como uma Aliança. A religião não parte dos homens em encontro a Deus, portanto não é feita segundo as vontades humanas, mas vem do Pai Celeste para os homens; assim ela não contêm erros em si mesma, nem necessita da sabedoria humana, ou da aprovação humana, para existir.

A verdadeira religião é a revelação de Deus a respeito:
1)do que Ele planeja e executa para com os homens,
2)da resposta que os homens devem Lhe dar e
3)do modo como tal relacionamento com Deus se reflete na relação dos homens entre si.

Todavia o Santo Apóstolo Pedro, no quinto capítulo de sua primeira Epístola, já nos adverte que o diabo, nosso adversário, anda ao derredor, bramando como um leão, buscando quem puder tragar. E então, a velha natureza maligna do homem, fazendo a vontade do vil tentador, trabalha com labor para, enganosamente, substituir a revelação de Deus como lemos acima por uma mera falsificação. Devemos estar atentos, pois enquanto a ciência e o conhecimento humano progridem negando o que antes anunciavam e seguindo novas tendências sociais e políticas, o melhor progresso que pode ocorrer à religião verdadeira é seguir a mais velha estrada, abster-se da sabedoria humana e afirmar o que afirmava no início - o que Cristo e os Santos Apóstolos nos legaram - e reencontrar o mesmo caminho trilhado há milênios 4. Quando alguém, ensoberbecido em uma geração má e convencido que de suas próprias idéias, busca fazer alterações nesta estrada milenar, tal vil pecador acaba criando trilhas perigosas, nas quais muitos morrem; ele não cria uma estrada melhor.

O Senhor Jesus Cristo, e os próprios Apóstolos, nos contam que as igrejas Cristãs, desde aquela época, são cercadas, invadidas e até desvirtuadas por lobos devoradores – falsos líderes e falsos profetas que não ensinam o puro e simples Evangelho. Tais lobos devoradores, tem aparência de piedade, mas negam sua eficácia. Eles não ensinam ao povo que o Senhor Jesus Cristo basta, que Ele somente é o caminho para o Pai e que nEle temos a Paz com Deus; assim, eles podem manter os homens escravizados, dependentes de falsas orações, penitências, confissões, curas, milagres e revelações que só eles podem dar. Nos nossos dias o liberalismo teológico, o movimento de crescimento de igrejas, a teologia da prosperidade e o pentecostalismo são algumas dessas trilhas perigosas, desvios criados por falsos profetas e mestres enganadores. São igrejas e movimentos que surgiram de repente, fora da estrada histórica da ortodoxia da Igreja. Amado leitor, siga a velha estrada, viva o amor de Cristo na religião que Cristo instituiu, no mesmo ensinamento que Ele deu, na universal assembléia que Ele edifica, na congregação dos homens Santos que O servem, onde a Palavra Escrita que Ele declarou ser infalível é obedecida como a verdadeira lei do espírito e do amor, onde Ele somente é a Salvação e nada mais há que possa dividir com Ele a glória e o louvor que Lhe são próprios ou a lealdade dos crentes5. Peregrine na velha estrada que é o Cristianismo puro, simples e vivo como no livro de Atos dos Apóstolos. Cristianismo Puritano mesmo e, até, separatista, conservador, instruído somente na Palavra Escrita de Deus, como há 2000 anos, destituído de qualquer nova instrução ou de qualquer tradição que julgue ou esteja sobre a Bíblia. Esta foi a doutrina de nossos pais na fé, séculos atrás, esta é a doutrina para a Igreja de Cristo, hoje. E, se você afirma que não o fez porque essa universal assembléia, essa congregação, essa igreja puritana e simples está em um lugar que você desconhece, saiba que Cristo afirma: onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles; e que os que adoram o Pai em espírito e em verdade são, eles mesmos, o templo de Deus e onde eles se reunirem aí estão as pedras vivas de um santuário vivo ao Deus vivo6. Logo, a Igreja de Deus não é sempre visível e evidente, mas está onde houver Cristãos fiéis às Escrituras. Ademais, Deus tem dado mestres, em todos os séculos, para a instrução de seus Filhos, homens cujo ensino é útil e cujos livros podem ser encontrados sem dificuldade – busque e leia alguns textos do primeiro século do Cristianismo, como a carta de Policarpo, discípulo de João, enviada aos Filipenses e a de Mathetes à Diognetus, e os escritos de Irineu de Lyon. Dos séculos seguintes, ininterruptamente em todos os séculos depois, há os que pregam o mesmo que pregamos – o conselho da Escritura; portanto, também há muito que pode instruir para o bem, como algo de Fulgentius, algo de Gottschalk, algo de Bernardo de Cluny, de Savonarola, de John Wyclif e John Huss. Depois do século XV, um cisma profundo, mas necessário, surge na Igreja. Era necessário voltar à velha estrada, pois a ordem político-eclesiástica, e o compromisso com tradições e superstições humanas fizeram com que muitos homens malignos, até mais do que homens regenerados, fossem recebidos como Cristãos e, inclusive, imbuídos de pastorear as ovelhas do Senhor. Como Cristo mesmo edifica e preserva Sua Igreja, a chamada Reforma Protestante floresceu dos botões do Catolicismo Medieval, manteve suas doutrinas gerais, herdou a continuidade histórica, abandonou o que era adicional à Escritura, e resgatou os ensinos Cristãos que a Igreja Católica Romana deteve nos seus porões - como a Soberania de Deus sobre tudo o que há. A Reforma é a herdeira do que havia de puro no Catolicismo Medieval e é a depositária da esperança de todos que deram a própria vida pela restauração da verdadeira Igreja. Desta época de retorno ao fundamento Apostólico, grandes mestres poderão te instruir na verdade, como Lutero, Zwinglio, Farel, João Calvino, John Knox, John Owen, Richard Baxter.

Atenta ao que afirmamos, aprenda com estes mestres, submeta tudo o que ler às Escrituras, esforce-se em oração e vida reta diante do Senhor e dê graças a Deus, pois se sua vida é cheia de bons frutos em Cristo, cheia de verdadeira piedade e amor, cheia do Espírito de Deus, então Ele te tem inscrito no hall dos Seus Santos; e você terá, mediante a fé nEle, pela graça do Pai, adentrado esta universal e eterna Assembléia dos que serão recebidos nos céus por nosso Senhor. Confesse conosco a suficiência da Palavra, que é a suficiência de Cristo, e rejeite todo o ensino que diz ser necessário ao Cristão algo mais do que a Fé em Cristo para Salvação; odeie aqueles que alegam que algo que Cristo instituiu deve ser revisto, ou melhorado, ou complementado, seja por “métodos mais modernos”, por “novas relevações”, ou por rituais quaisquer, assim como tudo o que homens ímpios e apóstatas clamarem, com o intuito de, falsamente diminuir a eficácia ou o poder do que Cristo proclama e declara e aumentar a própria glória em detrimento da glória da Cruz.
Fixe seu olhar no mesmo Evangelho de séculos atrás, de todos os séculos, contando com a inimizade do mundo contudo, sabendo que por mais que o mar da apostasia, com suas ondas largas e suas espumas sujas se eleve - como costumeiramente se elevou na história -, a Fé dos Apóstolos, a Verdade das Escrituras, permanecerá. Ainda que tenhamos nos aprofundado - e nos aprofundaremos - no conhecimento, segundo a maturidade da Igreja de Cristo, por estes séculos de existência, esse aprofundamento nunca ultrapassa o limite do que foi revelado, e pode ser apurado, desde o início, segundo o testemunho das Escrituras 7.

Por isso, não se envergonhe de declarar que apenas a Verdade de Cristo é Eterna. Precisamos unicamente de Jesus Cristo para termos paz com Deus e para vermos, tantos quantos Deus tem ordenado para a vida eterna, se arrependerem e responderem com fé ao anúncio do Evangelho.

A verdadeira religião está unicamente em Jesus Cristo, na glória da Cruz do Calvário, segundo a Escritura nos ensina, pois Jesus Cristo é único e suficiente Senhor, Ele é o Rei do Universo que deu a si mesmo na Cruz pelos pecadores que nEle crêem – Ele os amou e os atraiu de modo que também O amam; Ele os achou e comprou por preço de sangue – como um negociante que busca boas pérolas eles, O tendo encontrado, aborrecem tudo o que têm para ser com Ele no Reino dos Céus – como quem encontra um tesouro no campo e vende tudo o que tem para comprar o campo. Seguí-lO, é viver a única religião aceitável diante de Deus, e exige total renúncia, exige que abandone-se o erro, seus pecados, seus costumes e hábitos, suas filosofias, sua religião humana ou qualquer outro ídolo que possa dividir sua lealdade com o Mestre – é preciso tomar sua cruz ao seguí-lO. “Ninguém pode servir a dois senhores”, diz o Cristo, Ele é o único Senhor, o único mediador entre Deus e homens, e o único modo de serví-lO é desistindo de tudo o mais que domina sua alma. Ou você O serve assim, em humildade e entrega total, ou você se vai, apegado ao que você considera como sua riqueza, e sofre a morte eterna, por não tê-lO.

Ouçamos a voz de Cristo a chamar. Se somos ovelhas de Seu pasto reconheceremos Sua voz no autêntico Evangelho, Ele nos chamará pelo nosso nome e O seguiremos para fora de toda iniqüidade e apostasia 6. Ele é o único que pode nos chamar para habitar com Deus e andar na Sua presença – o único caminho até o Pai. Ele é o único mediador entre Deus e os homens, o único sacerdote que pode elevar nossas orações à sala do Trono do Santo e Justo Rei para suplicarmos por nossas almas.
Porque somente Ele, sendo Santo e Justo, se entregou para morte, morte de maldita Cruz, para com Seu sangue pagar o preço que nós devíamos a Deus, por causa de nossa incessante maldade natural – os nossos pecados.
Somente Jesus Cristo fez a paz com Deus, tomando para si a ira que era destinada a nós. Somente Jesus Cristo é a Palavra de Deus, Aquele que cumpriu toda a Lei dos judeus e todas as suas profecias, tanto quanto cumpriu toda a eventual sabedoria e os vislumbres intuitivos dos gentios e pagãos.

Toda novidade, toda ciência, toda profecia, todo ritualismo vão, todo misticismo, toda apostasia e tudo o mais passará e se desfará como uma nuvem, mas a Verdade do Evangelho prevalecerá 7.
Para todo Cristão, “Unicamente Jesus Cristo” há de o ser único motivo de sua corrida e o único assunto de sua pregação, assim como “Unicamente Jesus Cristo” é o único tema no qual a Igreja Congregacional Kalleyana (da qual fazemos parte) pela Graça se fixará, e este jornal, o qual produzimos, pela Graça falará. Se, algum dia, este nosso tema não for mais este, então o julgamento de Deus sobre nós já estará lançado, porque quando a Palavra é removida do púlpito, a mão de Deus, nisto mesmo, já trouxe a condenação de entregar os homens à mentira. Atentemos, “Unicamente Jesus Cristo” é o único tema de tudo o que temos de ensinar em nossa escola bíblica, de tudo o que temos de proclamar em nossa pregação, de toda a vida da igreja e o único tema de nossas próprias vidas. E nada mais queremos, nem devemos querer. E, pela Graça que nos foi dada, no maravilhoso poder que o Senhor tem para conservar os que são Seus, confiamos que nada mais teremos. Pois “Unicamente Jesus Cristo”, hoje e sempre, será a recompensa de todo crente fiel: estar com Ele onde estiver, contemplar Sua glória, que é a glória do Pai, ser como Ele quando virmos como Ele o é.

Ouça o que Cristo nos tem dito e responda sinceramente, sonde seu coração e se apresente diante do Senhor em oração. Só Ele pode, por Graça, nos livrar do mar de lama e aflição no qual está aprisionado todo homem que está longe do Deus Vivo. Aplique esta preciosa e libertadora Verdade à sua mente, confie somente em Cristo Jesus para sua Salvação.

Sim, faça isto e responda ao Senhor que conhece toda a verdade e jamais pode ser enganado por máscaras e hipocrisia, responda-Lhe:
Você tem plena certeza de que é Salvo? E de que a qualquer momento, em qualquer dia, você morrerá e estará ainda naquele mesmo dia ao lado de Cristo no Paraíso?
Todo aquele que deposita sua confiança em Cristo e em Cristo somente sabe que está Salvo e que jamais se perderá. Ele sabe disto porque confia na obra de Cristo, tanto na retidão do Senhor quanto no sacrifício que Ele fez tomando sobre Si nossos pecados. Como o verdadeiro Cristão confia na obra de Cristo e não confia em nada que haja em si mesmo, ele não duvida de sua salvação, nem tem medo de perdê-la, porque sabe que o Sangue derramado em seu favor é poderoso para purificá-lo totalmente e conservá-lo até o fim, e precioso demais para ser desperdiçado por alguém que Deus sabe que não estaria com Ele até o fim. Não confie em sua boa disposição, não confie em sua religiosidade, não confie em sua retidão – nada disso te fará aceitável diante de Deus; na verdade a confiança em qualquer destas coisas só te porá em maior inimizade com Ele. Somente Jesus Cristo é o caminho que leva ao Pai.


Você tem verdadeira paz e alegria em Cristo, você conhece a Verdade que Deus deu aos homens? Será que Cristo é tudo para você? Ou você crê que a sua igreja, denominação ou suas boas obras são o que podem te levar ao Céu?
Cuidado, o coração humano é enganoso e facilmente confia na mentirosa sabedoria dos homens; muitos confiam em rituais e cerimônias sem significação, ou em sua filiação a algum grupo religioso e na sua dedicação a tal grupo; outros confiam em algum tipo de experiência mística, sobrenatural ou subjetiva para garantir-lhes que são bem vistos pelo Senhor, ou em algum conhecimento secreto para salvá-los e levá-los a Deus. Não pense você que Deus vê algo de justo em ti só porque se abstém de algum alimento, de alguma bebida, não freqüenta certos lugares, guarda certos dias festivos ou sábados ou “não é como os demais”; ainda menos Deus vê justiça em você por causa dos sofrimentos, castigos e provas que você se impõe para ganhar o Seu favor – a Ira de Deus está sobre os que acrescentam mandamentos que Ele não deu, sobre os que tornam seus justos mandamentos em opressões e pesados jugos e sobre os que dividem a Sua Glória com as coisas por Ele criadas 8.

Você é um seguidor de ensinamentos “novos e melhores”, um adulador da sabedoria humana, julgando que o Evangelho se torna menos efetivo, se for desprovido da psicologia, do marketing ou da aprovação das ciências?
Cuidado, pois afirmar isto é afirmar que o Espírito Santo de Deus é ineficaz, que o próprio Deus precisa da ajuda para converter os pecadores dos seus maus caminhos. Sendo assim, na verdade, menos do que onipotente, menos do que onisciente e muito menos do que Soberano do Universo.
Não pense que Deus é seu igual, que Ele mente e erra como você; não pense que a Bíblia é só um livro que deve ser corrigido pelas mais recentes visões sociais, culturais e científicas; e que Cristo foi só um mestre dentre muitos outros – este é um erro que perverte sua própria mente, te afunda na escravidão dos seus pecados e que te confirmará a culpa de não dar a Deus a glória que lhe é devida. Como disse Cristo, que é o resplendor da glória do Pai: “quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.” 9

Você já presenciou o que acontece quando algo além de “Unicamente Jesus Cristo” é ensinado , pregado, crido ou praticado? Já viu a falta de amor e comunhão, a falta de fé e de paz com Deus que isto causa? Você já percebeu que isto é um “outro evangelho”, que não é bíblico, que é cheio de contendas, invejas e disputas, além de outros escândalos de todo tipo? Você já viu, inclusive, que pessoas pervertem a verdade Eterna adicionando exigências diversas para terem causa própria de ganho?
Cuidado, uma religião que assim se expressa, está ensinando a buscar algo além de Cristo. Tal é a religião que instrui a depender de seus próprios méritos, de suas obras de caridade, para chegar a Deus – ignoram que, Cristo mesmo, quando os discípulos perguntavam “Então quem pode ser salvo?”, respondeu “para os homens é impossível” e que o Profeta Isaías afirma “todas as nossas justiças são como o trapo da imundície”; tal é a religião que instrui que exorcismos, romarias, rezas, preces aos mortos, contribuições financeiras ou obediência cega são necessários, ou até ensinar que, além de Cristo, o Evangelho inclui como prêmio prosperidade financeira ou saúde constantes. Tais ensinos não pertencem à religião verdadeira; os que assim instruem pregam um “outro Cristo”, um cristo falso, fraco, que não é suficiente para acalmar a tempestade do coração dos seus discípulos – os tais põem um fardo pesado sobre seus seguidores, fazendo-os duas vezes mais filhos do inferno - sobre tais virá a Ira de Deus. 10

Tendo-se questionado sobre todas estas coisas, tendo refletido e buscado sinceramente em sua alma por todas elas, busque ao Senhor e ofereça a Ele a única coisa que realmente é sua: seus pecados. Abandone-os aos pés da Cruz, e receba dEle a Sua retidão e Seu Sacrifício. Arrependa-se de todo o seu mal e submeta a sua vida unicamente a Jesus Cristo!

Sugestão de leitura e meditação:
Evangelho de João, Capítulo 3 – versículos 1 até 21; Epístola de Paulo aos Romanos Capítulo 4 e 5; Epístola de Paulo aos Efésios Capítulo 2; Epístola Universal de Tiago Capítulo 1; Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios Capítulo 13; Primeira Epístola de Paulo a Timóteo Cap. 1 – versículos 3 a 7; Primeira Epístola de Paulo a Timóteo Cap.– versículos 1 a 7; Primeira Epístola de Paulo a Timóteo Cap. 3 – vers. 14 a 16

Algumas Referências Bíblicas do texto:
1- 1 Timóteo Capítulo 2 versículo 5; Colossenses Capítulo 2 e 3 especialmente versículos 9 à 23 do cap.2 e 1 à 7 2- Mateus Capítulo 13 versículo 44; Apocalipse Capítulo 1 versículos 10 e 11, 17, 28, Capítulo 2 versículos 5, 12 e 21; Gênesis Capítulo 3 versículo 15 3- Mateus Capítulo 12 versículo 39, Capítulo 16 versículo 4 e João 6 versículo 26 4- Jeremias Capítulo 6 versículo 16 5- Mateus Capítulo 7 versículo 15, 2 Timóteo Capítulo 3 versículo 5, Hebreus Capítulo 12 versículo 23, Isaías Capítulo 34 versículo 16, João Capítulo 10 versículo 35 6- Atos Capítulo 2 versículos 42 à 47, Mateus Capítulo 18 versículo 20, 1 Pedro Capítulo 2 versículo 5, 1 Coríntios Capítulo 6 versículo 9, João Capítulo 4 versículo 24, João Capítulo 10 versículo 4 7- Mateus Capítulo 5 versículos 17 e 18, Capítulo 16 versículo 18, Coríntios Capítulo 4 versículo 6, João Capítulo 5 versículo 39


Referências Bibliográficas: C.H.Spurgeon, John MacArthur, Horatius Bonar, A.W.Pink, dentre outros.

Uma Troca Constante de Credo é um Prejuízo Seguro

por Charles Spurgeon

É uma ótima coisa começarmos nossa vida cristã crendo em boa e sólida doutrina. Algumas pessoas recebem tantos ''evangelhos'' diferentes ao longo de suas vidas que é difícil prever quantos mais receberão até o fim de suas jornadas.
Eu dou graças a Deus por Ele ter me ensinado o Evangelho de uma só vez, e eu tenho estado tão satisfeito com ele que não quero conhecer nenhum ''outro.''
Uma Troca Constante de Credo é um Prejuízo Seguro
Quando mudamos constantemente nossos princípios doutrinais, tornamo-nos inaptos a trazer muitos frutos para glória de Deus. É bom que os novos crentes comecem agarrando-se firmemente àquelas grandes doutrinas fundamentais que o Senhor nos tem ensinado em sua Palavra. Se eu cresse no que alguns pregam sobre uma salvação temporal e de pouco valor, que somente permanece por um tempo, dificilmente eu seria totalmente agradecido a Ele; mas, ao saber que aqueles que Ele salvou, ele os salvou com uma salvação eterna, ao saber que ele os deu uma justiça eterna, ao saber que Ele os assentou em um fundamento eterno de amor infindo, e que Ele nos levará a Seu Reino eterno. Oh! Logo me maravilho e me assombro de que tal benção tenha sido dada a mim!
Suponho que haja algumas pessoas cujos pensamentos se inclinam naturalmente à doutrina do livre-arbítrio. Eu somente posso dizer que os meus se inclinam mui naturalmente às doutrinas da graça soberana.

Às vezes vejo os piores tipos na rua, e sinto como se o meu coração fosse transbordar de lágrimas de gratidão por Deus nunca ter me deixado agir como eles têm agido! Tenho pensado, se Deus me tivesse deixado só, e não houvesse me tocado com sua graça, que grande pecador eu teria sido! Eu sinto que eu teria sido o rei dos pecadores, se Deus tivesse me deixado só. Eu não posso compreender porque eu sou salvo a não ser pelo fundamento de que Deus assim o quis. Eu não posso, por mais seriamente que busque, descobrir qualquer razão em mim mesmo para ser um participante da graça de Deus. Se neste momento eu não estou sem Cristo, é tão somente porque Cristo me quer com Ele, e Sua vontade é que eu esteja com Ele onde quer que ele esteja e que eu participe de sua glória.
Eu não comecei minha vida espiritual - não! Antes dava patadas, e lutava contra as coisas do Espírito(...) havia um ódio natural em minha alma contra tudo o que é bom e santo. As advertências eram jogadas ao vento, quanto ao sussurro do Seu amor, eram rejeitados como sendo menos que nada e vaidade. Mas, agora estou seguro e posso dizer: ''Somente Ele é a minha salvação.'' Foi ele quem transformou o meu coração e dobrou os meus joelhos diante d 'Ele.
Uma noite por semana, sentado na casa de Deus, não estava prestando muita atenção à pregação porque eu não cria. Um pensamento entretanto me impressionou: Como eu vim a ser um cristão? Eu busquei ao Senhor. Mas ? Como eu vim buscar ao Senhor? A verdade relampejou através de minha mente em um momento. Eu não o teria buscado sem que uma influência prévia em meu pensamento não tivesse me levado a isso. Eu orei ? pensei ? mas logo me perguntei ? como vim a orar? Fui induzido a orar pelas Escrituras, mas como eu vim a ler as Escrituras? Sim, eu as li, mas o que me levou a fazê-lo? Logo vi que Deus estava por trás disso e que Ele era o autor da minha fé! (...) Hoje desejo fazer minha imutável confissão ? ''Eu atribuo minha transformação inteiramente à Deus'!''

Uma vez assisti a um pregador arminiano e Ele dizia: ''(...) não necessitamos que alguma inteligência superior, ou que um ser poderoso escolha por nós entre o céu e o inferno, nos tem sido dado meios e sabedoria suficiente para que julguemos por nós mesmos.'' ? e portanto como ele logicamente infere, não há nenhuma necessidade que Jesus ou qualquer outro faça uma escolha por nós. Isso é deixado ao nosso livre-arbítrio, podemos escolher a nossa herança sem nenhuma assistência. Ah!, pensava eu, ''mas, meu bom irmão, poderá ser muito certo que possamos, mas penso que precisamos de algo mais além do sentido comum antes possamos escolher acertadamente''.
Primeiramente deixe-me perguntar ? não temos todos nós que admitir uma providência soberana e a mão de Deus, quanto aos meios pelos quais entramos neste mundo? Àqueles que pensam que depois somos deixados a nosso próprio livre-arbítrio para escolher isto ou aquilo ao dirigirmos nossos passos, têm que admitir que a nossa entrada neste mundo não era de nossa própria vontade, mas sim que Deus teve que escolher por nós. Tínhamos qualquer coisa a ver com isso? (...) Não foi Deus mesmo quem determinou quem seriam nossos pais e onde nasceríamos? (...) Não poderia Ele ter me feito nascer num lar pagão onde teriam me ensinado a prostrar-me diante de falsos deuses, tão facilmente quanto como dar-me uma mãe piedosa, que cada manhã e noite dobrasse os seus joelhos e orasse em meu favor, ou não poderia Ele, se assim o quisesse ter me dado um pai libertino, de cujos lábios desde cedo eu tivesse ouvido palavras obscenas, sujas e terríveis (...) Não foi graças a providência de Deus que tenho uma sorte tão feliz, que meus pais eram Seus filhos, e trataram de criar-me no temor do Senhor?
(...) Muito antes de a luz relampejar pelo céu, Deus amou suas criaturas escolhidas. Antes que houvesse um só ser criado. (...) quando nem mesmo o espaço existia, quando não havia nada senão somente Deus ? ainda então ? nesta solidão divina, em meio ao silêncio profundo, Suas entranhas se moviam com amor para Seus eleitos. Seus nomes eram escritos em Seu coração (...) Jesus amava o Seu povo desde antes da fundação do mundo ? ainda desde a eternidade! E, quando Ele me chamou pela Sua graça, Ele me disse ? ''Com amor eterno te tenho amado; portanto te suportei com misericórdia.''

Desde a plenitude dos tempos, ele me comprou com o Seu sangue; Ele deixou Seu coração escorrer em uma ferida aberta e profunda por mim muito antes que eu O amasse. Quando Ele tocou na porta e pediu entrada, não O deixei do lado de fora e fiz pouco com a Sua graça? Eu freqüentemente agi assim até que por fim, pelo poder de Sua graça eficaz, Ele disse: ''Eu devo! Eu entrarei! '' e então Ele tomou o meu coração e fez com que eu O amasse. Mas ainda assim eu teria resistido se não fosse o poder de Sua graça eficaz. Bem, já que Ele me comprou quando eu estava morto em delitos e pecados não é lógico o fato de que Ele me havia amado primeiro? Morreu meu Salvador porque eu cria n'Ele? Não, porque até então eu não existia (...). Portanto ? podia o Salvador ter morrido por quem tinha fé mesmo antes de haver nascido? Poderia isso ser possível? Poderia ter sido essa a origem do amor de Deus por mim? Ah! não! meu Salvador morreu por mim muito antes que eu cresse. Mas ? diria alguém ? Ele previu que tu terias fé; e portanto te amou. Que foi que ele previu da minha fé? Previu que eu haveria de ter fé de mim mesmo? Não, Cristo não poderia ter previsto isso, porque nenhum cristão, em tempo algum ousaria dizer que a sua fé vem de si mesmo sem o dom e a obra do Espírito Santo. Ninguém pode dizer: ''Eu vim a Deus sem a ajuda do Espírito Santo''
(...) Quando Deus entra em um pacto com um homem pecador, ele (isto é, o homem) é uma criatura tão ofensiva, que isso tem de ser feito através de um ato de pura graça soberana, rica e livre. Quando o Senhor entrou em um pacto comigo, eu tenho certeza que foi totalmente pela graça, nada além da Sua graça. Quando lembro como e quem eu era, quão obstinado e irregenerado era o meu caráter quão rebelde era contra a soberania de Deus, sempre me sento no lugar mais humilde na casa de meu Pai, e, quando entrar no Céu, serei o menor dos santos, e entrarei como o primeiro dos pecadores. >>

(...) ''Somente Ele é a rocha da minha salvação'' - Diga-me qualquer coisa contrária à esta verdade, e será uma heresia. (...) Qual é a heresia de Roma (Igreja Católica Romana) senão a adição de algo mais aos méritos perfeitos de Cristo, trazendo as obras da carne para auxiliar em nossa justificação? E qual é a heresia do Arminianismo, senão a adição de algo mais à obra do Redentor? (...) Eu tenho minha própria opinião de que não há como pregarmos à Cristo e este crucificado se não pregarmos o que hoje chamamos de Calvinismo. (...) O Calvinismo é o Evangelho e nada mais. Eu não creio que podemos pregar o Evangelho, se não pregarmos a justificação pela fé, sem obras, nem tampouco se não exaltarmos o amor triunfante, eterno e imutável de Deus; muito menos se não o basearmos na redenção particular e especial de seu povo eleito que Cristo salvou sobre a cruz; nem posso compreender um Evangelho que permite aos santos perderem-se depois de haverem sido chamados, e que permite aos filhos de Deus serem consumidos no fogo do inferno depois de haverem crido em Cristo. Tal ''evangelho'' eu abomino. >>
(...) Se um só dentre os santos de Deus houvesse se perdido, então todos poderiam perder-se também, e então não há nenhuma promessa verdadeira no Evangelho e a Bíblia é uma mentira e não há nada digno de confiança nela. Se Deus uma vez me amou, então Ele me amará para sempre! (...) Isso será feito ? Ele diz ? Este é o meu propósito (...) e está firme, nem a terra, nem o inferno podem alterar. "'Este é o meu decreto. Nada pode alterá-lo nem anjos, nem demônios, haja o que houver" ? o Seu decreto permanecerá para sempre! Ele é Todo-Poderoso e, portanto pode cumprir toda a Sua vontade.
Nós, meros homens, insetos rastejantes, poderíamos mudar nossos planos, mas Ele nunca! Nunca mudará os Seus. Se Ele me tem dito que o Seu plano é salvar-me então eu sou salvo para sempre! Eu não sei como algumas pessoas que crêem que um cristão pode cair da graça, pretendem ser felizes. Deve haver algo muito recomendável neles para que passem um só dia sem desesperar-se. Se eu não cresse na doutrina da perseverança dos santos, eu seria o mais miserável dos homens, porque sentiria a falta de um fundamento de conforto. (...) Eu creio que o mais feliz e verdadeiro dos cristãos é aquele que nunca se atreve de duvidar de Deus, que toma a sua Palavra simplesmente como está e crê, e não faz questionamento algum, estando certo de que se Deus prometeu assim Ele fará.

(...) Todos os propósitos dos homens têm sido derrotados, mas não os propósitos de Deus. As promessas dos homens podem ser quebradas, mas não as promessas de Deus. Ele é um fazedor de promessas, mas nunca foi um quebrador de promessas; Ele é um Deus fiel às Suas promessas e cada um do Seu povo provará que é assim. (...) Perdido, indigno e arruinado que sou, contudo Ele me salvará!
Eu sei que há alguns que pensam que é necessário aos seus sistemas teológicos pôr algum limite aos méritos do sangue de Jesus. No entanto, se o meu sistema teológico necessita de tais limites então eu devo jogar ele ao vento. Não posso e não me atrevo a permitir que um pensamento assim ache pousada em minha mente(...) Na obra cumprida de Cristo vejo um oceano de mérito; minha mão não alcança nenhum fundo, meus olhos não vêem nenhuma margem.(...) Tendo uma Pessoa Divina como oferta não é consistente conceber um valor limitado, limites e medidas são termos inaplicáveis ao sacrifício divino.
(...) Eu creio que haverá mais pessoas no Céu do que no inferno. Se alguém me perguntar por que penso assim, responderei: porque Cristo em tudo há de ter o primado, e eu não posso conceber como Ele pode ter o primado se houver mais pessoas nos domínios de Satanás do que no Paraíso. Além do mais, eu nunca li que há de haver uma grande multidão, que ninguém pode contar, no inferno. Regozijo-me em saber que as almas das criancinhas logo após morrer, se apressam em seu caminho ao Céu! Imagine a multidão deles!! Logo, já há no Céu milhares sem número dos espíritos de homens justos aperfeiçoados ? redimidos de todas as nações, linhagens, povos e línguas até esta hora; e há de vir melhores tempos, quando a religião de Cristo for universal; quando Ele reinar de pólo a pólo com império ilimitado.
Algumas pessoas amam a doutrina da expiação universal porque eles dizem: é tão bela, tão formosa, é tão bom saber que Cristo morreu por todos os homens.'' Admito que há algo de belo nesta doutrina, mas a beleza muitas vezes pode ser associada com a falsidade. Vou ensinar o que essa suposição envolve: Se Cristo na cruz teve a intenção de salvar a cada pessoa, sem exceção ? então Ele intentou salvar aqueles que já haviam se perdido antes que Ele morresse. Se esta doutrina é verdadeira ? que Ele morreu por todos os homens, então Ele morreu por alguns que estavam no inferno antes que Ele viesse ao mundo. Porque sem dúvida havia milhares que haviam sido reprovados por causa de seus pecados. Se foi mesmo a intenção de Cristo salvar todos os homens, como Ele foi deploravelmente frustrado, porque temos Seu próprio testemunho acerca do lago de fogo e neste lago tem sido lançados ? segundo a teoria da redenção ilimitada (ou universal) pessoas que foram compradas pelo seu sangue. Essa é uma concepção mil vezes mais odiosa e repulsiva do que qualquer conseqüência que associam à doutrina cristã e calvinista da expiação limitada ou particular.

Que Cristo ofereceu uma expiação e satisfação pelos pecados de todos os homens, e que depois alguns desses mesmos homens hão de ser castigados pelos pecados que Cristo já havia expiado, parece ser a mais monstruosa de todas as iniqüidades que poderia ser imputada às deidades mais pagãs e diabólicas. Deus não nos permita de pensarmos assim d'Ele.
Não há entre todas as pessoas vivas neste mundo alguém que se detém mais às doutrinas da graça do que eu, confesso também que desejo ser chamado apenas cristão e que quanto ao fato de ser chamado calvinista, declaro que sustento todas as principais doutrinas defendidas por João Calvino e me regozijo de confessá-las. Entretanto longe de mim imaginar que Sião não tem mais do que cristãos calvinistas dentro de suas paredes, e que não há ninguém salvo que não exponha ou sustente nossos pontos de vista. Eu creio que muitos homens que não podem ver estar verdades ou pelo menos não as podem ver da maneira que nós as apresentamos, mas que tem recebido a Cristo como seu Salvador, são tão amados de Deus quanto qualquer calvinista dentro ou fora do céu. Por exemplo, temos John Wesley, o "'Príncipe dos arminianos". Ele viveu muito acima do nível ordinário dos "cristãos comuns", e era um "dos quais o mundo não era digno".
Que o Senhor predestina e todavia o homem é responsável são dois fatos que poucos podem ver claramente. São tidos por inconsistentes e contraditórios; no entanto, essas são duas verdades que se convergem e se encontrarão em alguma parte na eternidade, junto ao trono de Deus de onde procede toda a verdade.
Freqüentemente é dito que as doutrinas que cremos têm uma tendência a levar-nos ao pecado. Não sei quem tem a audácia e o atrevimento de fazer tal afirmação tendo em vista o fato de que os mais santos homens que já existiram criam nelas. Quem se atreve a dizer que o Calvinismo é uma religião licenciosa o que ele pensa do caráter de Agostinho, Whitefield, Calvino os quais foram os grandes expositores destas verdades; o que dirá dos puritanos? Se um homem houvesse sido um arminiano nesta época Ele teria sido reputado como o pior dos hereges, mas agora nós somos vistos como hereges e eles como ortodoxos. Nós temos regressado à antiga escola, podemos trazer nossa descendência até os apóstolos (...) podemos correr uma linha de ouro até Jesus Cristo passando por uma lista de poderosos pais, os quais todos sustentavam estas gloriosas verdades. Pergunto: ''Onde acharemos homens melhores e mais santos?'' (...) Nada faz um homem mais virtuoso do que uma fé na verdade. Uma doutrina mentirosa levará a uma prática mentirosa. Ninguém pode ter uma fé errônea sem daqui a pouco ter uma vida errônea também; eu creio que uma coisa naturalmente leva à outra. De todos os homens, aqueles que têm uma piedade desinteressada, uma reverência mais sublime, uma devoção mui ardente, são os que crêem que são salvos pela graça, sem as obras, mediante a fé, e que isso não vem deles mesmos, mas é dom de Deus.


Texto traduzido, adaptado e resumido por Marcos Siqueira.
Autor: Pr Charles Haddon SpurgeonExtraído de: Spurgeon´s Sermons

Fonte:
www.PalavraPrudente.com.br