Esperança em Tempos de Apostasia - Parte 15

"Quando, pois, vos conduzirem e vos entregarem, proponde, pois, em vossos corações não premeditar como haveis de responder, mas, o que vos for dado naquela hora, isso falai, porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo. Porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem. E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai ao filho; e levantar-se-ão os filhos contra os pais. Até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós. E de todos sereis odiados por causa do meu nome; Mas não perecerá um único cabelo da vossa cabeça. E quem perseverar até ao fim, esse será salvo. Na vossa paciência possuí as vossas almas." [Marcos 13:11-13; Lucas 11:19]

Na última edição do Jardim Clonal examinamos a primeira parte deste trecho do Discurso Profético, especialmente tomando como exemplo e instrução para nós a dependência do Santo Espírito a que nosso Senhor incita Seus discípulos; e que seja uma grande vergonha para nós o fato de os Santos Apóstolos, sob risco de tortura e morte, serem fiéis e pregarem somente as Palavras que o Espírito Santo dá, abrindo mão de si mesmos, (enquanto nós tão comumente negociamos a verdade e inventamos um evangelho mais palatável aos homem moderno, mais científico ou mais inclusivo, ou com menores exigências e menos riscos; e isto enquanto vivemos em uma época e país sob paz, onde desfrutamos de plena liberdade para pregar a Verdade). Todavia o poder que o Santo Espírito de Deus tem para converter pecadores, este poder do qual, pela Graça de Cristo Jesus, podemos participar se fielmente andarmos diante do Senhor, abrindo mão de nós mesmos para portar a Sua Palavra, seja para nós um conforto sempre. Pois tanto a Soberania quanto a bondade de Deus para Salvar pecadores nos devem ser de grande alento, especialmente quando estamos desfalecendo em uma longa batalha pelas almas dos homens, lutamos, já há muito tempo, pela conversão de alguns dos visitantes de nossa congregação ou por alguém de nossa família. Não será com nossa palavra e com nossa sabedoria que poderemos alcançar estas pessoas, mas especialmente pelo Espírito de Deus: Em constante oração, em constante súplica, pelo simples anúncio da Palavra – que condena pela Lei todo homem, (pois vivemos sob o pecado), mas oferece a gratuita e perfeita Justiça de Cristo a todo o que, com arrependimento, alcançar a fé. Não devemos deixar esmorecer nossa esperança pela conversão dos perdidos: é melhor um cão vivo, do que um leão morto, nos diz a Palavra. Porque para o vivo ainda há esperança. Por mais que os pecados se acumulem, e as ofensas contra nosso Senhor aumentem, e o homem se entregue à blasfêmia, ignorância, crueldade e zombaria; por mais que se atole em adultérios e em todos os desejos da carne; não há maldade que não possa ser perdoada pelo infinito amor de Deus e não há pecador cujos pecados o tornem inalcançável para a redenção comprada pelo sangue do Filho de Deus ou que esteja além do poder do Senhor para fazer nascer vida e santidade onde antes havia apenas morte e perdição. É completamente contrário ao Evangelho considerar que alguém, seja bêbado, meretriz, assassino ou a mais vil pessoa, esteja além do alcance do perdão que há em Cristo Jesus e esteja além de ser chamado pelo Espírito de Deus ao arrependimento. Nosso Senhor não tem uma classe preferida de pessoas, os quais mais facilmente ele converte dos maus caminhos – antes, como vemos dentre os próprios Apóstolos, nosso Senhor chama ao arrependimento e conduz à uma nova vida tanto aqueles que outrora foram religiosos hipócritas (como os discípulos convertidoe de entre os Fariseus), quanto os que foram corruptos cobradores de impostos, ou os que eram simples trabalhadores que honestamente O buscavam; ninguém está além do Seu poder ou fora do Seu bondoso interesse. Nosso Senhor, desde a Eternidade, não elegeu para Si somente um tipo de pessoas, repito; Ele elegeu toda sorte de pecadores, de todas as nações, de todos os povos, com toda sorte de vícios malignos – não são os justos que necessitam de arrependimento, não são os sãos que necessiam de cura, mas os pecadores necessitam de reconciliação, os doentes necessitam de um médico. Nosso Deus escolheu para si, desde a Eternidade, toda sorte de homens, Ele os elegeu para manifestar a grandeza da Sua Graça e para exaltar o Seu poder único de trazer luz e calor onde antes havia destruição e o gélido vazio das trevas.

Contudo, se não há a Palavra do Espírito Santo, se há somente as palavras e filosofias dos homens, então nem toda a filosofia, nem toda a retórica, nem todos os argumentos do mundo poderão fazer nascer esta nova vida na alma do homem; é possível convencer um homem a abandonar algum de seus pecados, entretanto jamais a palavra humana poderá mudar a natureza humana e desferir um firme e mortal golpe na pecaminosidade e depravação do seu coração, de onde novos e os mais terríveis pecados não tardarão em brotar. Não nos desgastemos por nossa própria força, não confiemos em nossos métodos e pretensa sabedoria para alcançarmos aos perdidos mas, como o Senhor instruiu aos Apóstolos, repito, confiemos no Espírito Santo de Deus, busquemos a sabedoria e as palavras dEle, nos extenuemos em oração; e conheceremos este poder na Verdade para a libertação dos homens. Noites inteiras em sinceras orações por alguém que está perdido e rumando para o Inferno são mais eficazes do que milhares de insistentes e desgastantes debates e convites. Um coração humilde e quebrantado, que não se exalta sobre os outros homens mas percebe que como todos os outros perecerá se estiver fora da Graça de nosso Senhor é amado por Deus; enquanto os soberbos, com todos os seus métodos e planos, serão por Ele destruídos.

Ah, como isto denuncia que temos uma grande tristeza na Igreja dos dias de hoje! Como isto denuncia toda nossa incredulidade, toda nossa dureza de coração! Pois, por um lado somos pressionados ao racionalismo, pela cultura mundana que desconsidera a existência de tudo o que é espiritual, que desconsidera que Deus reina sobre Sua Igreja, a dirige e a preserva; por outro, somos desafiados pela supersticão e credulidade do Romanismo e do Pentecostismo. Ora não é cedendo ao racionalismo do mundo que venceremos esta batalha, e muito menos copiando o misticismo barato e paganizado dos Romanistas e Pentecostistas; antes, temos de nos refugiar nas Escrituras Sagradas, conhecendo o poder de Deus ali descrito, não nos deixando levar pela mente carnal, nem para viver o ateísmo prático daqueles que pensam e vivem como se Deus não interferisse ou governasse sobre tudo o que ocorre, nem para supervalorizar as ações extraordinárias de Deus e as ocorrências espirituais como se nós mesmos e as ações ordinárias de Deus não devessem ser consideradas.

Tenhamos, portanto, uma firme confiança no Senhor, sabendo que Ele é poderoso para agir em defesa da Sua Igreja e para o progresso do Seu Evangelho. A Igreja Cristã está, em todos os séculos, tentada a abandonar a "loucura da pregação", a afastar-se da direção do Espírito, deste entregar-se à Verdade da Escritura e rejeitar a sabedoria centrada em si mesmo. Ouvimos hoje os clamores que nos tentam a usar música rock ou contry ou seja-o-que-for para atrair os pecadores, que nos tentam a usar teatro, filmes, acampamentos, festivais de comida típica e toda outra sorte de entretenimento para atrair os pecadores, que nos tentam a usar métodos de marketing, administração, psicologia para atrair os pecadores, que nos tentam a usar milagres, sinais, prodígios e promessas de bênçãos para atrair os pecadores; porém não é isto que vemos nosso Senhor Cristo Jesus fazendo e ensinando, não é isto que os Apóstolos fizeram! Eles usaram suas vozes, muitas vezes roucas e cansadas; não usaram a música, nem o teatro grego, não usaram o método de discurso dos filósofos, nem a forma de sabedoria rabínica – em lugar, pregaram somente o Evangelho Puro e Simples, tão estranho para a natureza decaída dos homens naqueles dias, quanto hoje ou daqui a cem anos será. Somos todos igualmente indignos da bênção Divina, igualmente indignos tanto da redenção que recebemos para servir ao Senhor, quanto de sermos utilizados por Ele para o serviço da Sua Obra; somos sim igualmente indignos, tanto o religioso cujo coração ainda está cheio do mal, mas cujas mãos temem de o praticar, quanto o mais desgraçado dos ímpios, cujo corpo é morada de legiões de demônios; somos igualmente indignos, mas a Graça de Deus e o valor do Sangue de Cristo derramado para a Salvação dos homens pode tão facilmente libertar qualquer um de nós destes cativeiros. Tão certo quanto Cristo hoje vive, pode a Sua Igreja estar revestida do Seu Poder, para, com impetuosidade e fidelidade, não haver razão em perder-se a esperança de que Ele pode e irá, sempre, converter, pela pregação do Evangelho e ação do Santo Espírito, tantos pecadores quanto Ele desejar chamar; e, sejam centenas em uma cidade, ou cinco em outra região, devemos manter-nos fiéis, vigilantes, humildes, quebrantados e insistentes em oração e no conhecimento da Escritura, sabendo que nosso Deus habita em Sua Igreja e peleja por ela. Não devemos ceder, não devemos trocar a pura pregação por métodos e ideias humanas, trocar a confiança no Senhor Eterno pela confiança nos homens. Nunca esqueçamos que não há tempos mais difíceis para Aquele que criou todos os Tempos, e todos os Ímpios, e todos os Santos; nunca devemos nos deixar roubar a Esperança de quem crê no Deus Altíssimo e Soberano, e que, segundo Seu propósito e não segundo a aparência do mundo, pode tanto trazer para Si e para Sua Igreja, centenas de homens, quanto pode deixar entregarem-se aos mais odiosos pecados, países inteiros. Tenhamos, portanto, uma mais firme fé e um mais profundo senso de humildade e dependência; dobremos nossos joelhos, não como quem repete uma pose ensaiada, mas como quem cede sob o peso do conhecimento da própria miséria. Não sejamos como o fariseu hipócrita que orava dizendo "agradeço ao Senhor que não sou como os outros homens" [Lucas 18:11]; em lugar, nos esforcemos em reconhecer nossa própria miséria, nossa pecaminosidade, nos esforcemos em destruir a altivez de nossa natureza humana e em nos vermos tão dependentes de Deus quanto verdadeiramente somos. Não sejamos sábios aos nossos próprios olhos, nem cheios de louvores a nosso próprio respeito, mesmo que, como o fariseu, disfarcemos esta soberba com a frase "dou graças ao Senhor". Não menosprezemos os que se humilham, não menosprezemos os que são fracos na fé, os que claramente dependem do Senhor. Somente se nos esforçarmos - pela Palavra e oração, pelo ouvir a pregação, pelo meditar na Palavra, estando estas coisas sob a Graça de Deus - em alcançar um coração assim morto para nós mesmos e entregue ao uso que Deus, provaremos que temos realmente abandonado a vã sabedoria humana e buscado agir de acordo com o que o Espírito nos revelou na Sagrada Escritura.