Milagres! - Parte 1

Um mundo científico e racional?

Vivemos em uma época onde agrada aos homens classificarem-se como modernos, racionais e científicos. É uma época na qual todos pedem provas de tudo, onde todos querem explicações racionais. Seguindo o espírito desta época, muitos têm se voltado contra o Cristianismo, dizendo que a Bíblia não oferece provas suficientes, nem mesmo explicações racionais do que ela diz. Infelizmente, estas pessoas não percebem que a base deste pensamento a favor da racionalidade e a condição necessária para a existência de provas estão na própria religião Bíblica a qual tentam contradizerfora da explicação bíblica que põe a causa da racionalidade humana na imagem de Deus impressa na alma do homem [Gênesis 2:7], não há sequer racionalidade verdadeira a qual se apegar. Na série A Incapacidade Científica, abordamos este assunto mais profundamente. Como pudemos aprender nesta já publicada série, é uma situação muito triste usar a base do pensamento Cristão (sem saber que se está fazendo isto), e tentar tornar esta mesma base de pensamento contra a própria Bíblia, sendo que esta é a sua origem. É triste e ridículo, porque mostra a fragilidade do indivíduo contemporâneo, mostra quão grande é a sua ignorância ao mostrar-se arrogante e certo em uma discussão sobre um assunto que mal compreende. Imagine como seria ridículo para um mecânico profissional ter de suportar os palpites de uma criança qualquer, com seus oito anos de idade, uma criança que nunca desmontou nem seus carrinhos de brinquedo mas que, por ignorância e imaturidade, teima em ter certeza sobre todos os detalhes do automóvel de seu pai (e isto, por causa de umas poucas palavras que o próprio mecânico lhe dissera). É exatamente assim que o espírito desta época leva as pessoas a se portarem em relação à religião – sem nenhum conhecimento de Teologia e Filosofia, elas ousam discordar de grandes gênios da antigüidade (e de grandes gênios do último século também) e ousam inventar suas próprias concepções religiosas, sem base alguma. O que ocorreria se todos se portassem assim em relação à Biologia? Imagine quão bizarro ver homens falando:

- Eu não acredito em células e mitocôndrias! Eu tenho estudado por minha conta, no meu tempo livre, os livros de segundo grau do meu filho e encontrei meu próprio conceito de Biologia com o qual eu tenho me sentido muito bem. Eu acredito até que exista um Sistema Nervoso, mas ninguém me convenceu que existam células. Decidi-me, inclusive, parar de tomar remédios feitos por médicos que crêem em células.

Qual a resposta que o espírito moderno inventou para este meu exemplo? Eles dizem:

- Não. A Biologia não é assim porque é uma ciência. Mas religião não é ciência; a religião não é baseada em fatos, mas somente na fé.

Cuidado! Esta é a armadilha do pensamento viciado do modernismo e do pós-modernismo – ele finge que não tem uma filosofia própria, finge que é imparcial, mas na verdade esconde a filosofia a que adere, esconde a parcialidade com que o método científico pode ser usado e com que estas idéias da modernidade foram concebidas. A Teologia e a Filosofia são ciências tão nobres e (apesar da redundância) tão científicas quanto a Biologia e a Matemática. Na verdade, sem Teologia e Filosofia não haveria Biologia nem Matemática, porque o método científico em si, assim como a forma da articulação das idéias e os pressupostos de todas as outras ciências, provém da Teologia e da Filosofia. Quando nos imaginamos no lugar daquele homem hipotético, que tem a sua própria concepção de Biologia, e quando repensamos o espírito moderno por este ângulo, percebemos que esta ideologia não é tão racional e científica assim. Claro, os defensores deste espírito repetem aquela mesma resposta que deram acima, eles a repetem levemente modificada:

- Uma célula é objetiva, pode ser observada pelo microscópio, ninguém pode duvidar que ela exista!

Ao que, repondo:

- Ela é objetiva para um observador informado, com o instrumento adequado. E, ainda assim, ela só é uma célula porque alguém a denominou assim. Para alguém que não tenha ou não esteja usando sua visão, ou para quem não tem ou não use um microscópio, ou para quem possui uma outra fonte de informações, a célula não é tão óbvia ou objetiva assim. Ademais, mesmo a observação da célula não prova nada exceto que a observação ocorreu.

Como foi explicado na série A Incapacidade Científica, o método científico empírico tem, em si, uma grande falha lógica. Por isso, muito me alegro que você, amado leitor, destacou-se da multidão que caiu na armadilha do pensamento modernista e começou uma jornada que pode levá-lo aonde você jamais imaginou: se você não desfalecer, nem desanimar, mas investigar tudo o que for apresentado aqui, com insistência e cuidado, você estará caminhando para conhecer ao Deus Criador do Universo, conforme Ele mesmo estará trazendo você à Verdade. Como diz a Escritura Sagrada: quem de si mesmo ousaria aproximar-se de mim? [Jeremias 30:21].


Surge o Conflito

Este mundo que se diz racional e científico (mas que em verdade não o é), encontra seus primeiros conflitos com a religião Bíblica quando, ao passar pelos textos da Escritura, se depara com o que chamamos de Milagre. A moral da Escritura é razoavelmente tolerada pelo mundo moderno, a sabedoria da Escritura é bem-vinda pelo mundo moderno, mas os Milagres da Escritura e a Soberania do Deus da Escritura são completamente rejeitados pelo mesmo mundo moderno. Do faça-se a Luz em Gênesis, passando pelo nascimento virginal de Cristo e estendendo-se até ao Apocalipse, o mundo não aceita quando a Escritura diz que Deus opera com a realidade da maneira como Ele quer. Por isso, o desejo comum deste mundo é cortar a Bíblia em partes, jogar fora as referências à Majestade de Deus fora, e usar a sabedoria e a moral bíblicas em proveito próprio. Porém a própria Escritura Sagrada não permite isto: se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro [Apocalipse 22:19]. E, pelo contrário, a Escritura diz: Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra [2 Timóteo 3:16.17]. É, portanto, por causa daquela mesma ignorância, da qual já falamos, que um homem pensa que há algum sentido em aceitar as partes da Escritura que não apresentam Milagres (ou onde a Soberania de Deus não se mostra tão óbvia), enquanto rejeita as outras. Esta, contudo, não é uma ignorância desculpável e sem malícia, pois estas duas doutrinas que causam temor e rejeição são duas doutrinas poderosas – juntas, elas asfixiam até a morte o espírito moderno em todas as suas atuações; apagam, explicam e respondem todas as suas alegações. Perceba, por exemplo, que a Soberania de Deus (que é a justificação dos Milagres na Escritura) corta a raiz de todas as religiões centradas no homem e de todas as formas de pensamento centradas no homem. Como o espírito moderno é totalmente centrado no homem, o entendimento da Soberania de Deus desfere-lhe um golpe mortal. Mas o que é a Soberania de Deus? É o ensino de que Deus é governante absoluto do Universo – Ele é a causa primária de tudo o que ocorre no Cosmos e o sustentador de todas as coisas. Nada acontece fora da Vontade de Deus e tudo o que Deus deseja, Ele faz. Esta afirmação – de que Deus é o governante absoluto de todas as coisas – causa dois conflitos específicos quanto ao espírito moderno, no deslocar do eixo da existência dos homens para Deus:

1) O espírito moderno, como já citei, em lugar de ser imparcial e oposto à religião como alega, na verdade é comprometido com noções Teológicas e Filosóficas contrárias às do Cristianismo, noções ligadas ao Paganismo, dentre as quais se destaca o chamado Naturalismo. Assim, para o espírito moderno, a questão não é ser científico ou não, mas ser pagão ou não! Como a Bíblia definitivamente não é pagã, então ela é constantemente atacada. Esta forma oculta de paganismo no modernismo é centrada no homem, pois ao fabricar milhares de deuses falsos e fracos (como eram os deuses pagãos), os homens encerram por não reconhecerem e não se submeterem ao Deus Verdadeiro (e, sem reconhecer e se submeter ao Deus verdadeiro, o homem pensa poder reinar absoluto como seu próprio deus, evocando esquemas e poderes que manipularão aqueles milhares de deuses falsos e fracos). Por isso, o homem moderno pensa que pode criar sua própria religião – ele tem esperanças de ser o seu próprio deus.

2) O espírito moderno, dentro destes seus comprometimentos, está aliado também ao Empirismo. Conseqüentemente, a questão contra a Bíblia, mais uma vez, não é se ela é científica ou não, mas se ela apóia o Empirismo ou não. O Empirismo é completamente centrado no homem e é uma peça chave no arcabouço filosófico que o homem moderno usa para tornar-se a si mesmo em um deus, já que o Empirismo reza que o Universo só pode ser desvendado e compreendido através do uso das faculdades mentais humanas na análise daquilo que os homens compreendem em seus cinco sentidos.


O Problema do Naturalismo

Voltemos-nos à primeira das duas questões propostas: o problema do Naturalismo. Primeiro, vamos entender o que é este Naturalismo que o espírito moderno tenta nos vender apressadamente. Atente bem para esta questão do Naturalismo, porque o espírito moderno apresenta constantemente este produto filosófico, e sempre insiste muito que não o examinemos, desvia-nos com toda sorte de conversas e sempre repete o slogan de que seu produto já funcionou com muita gente antes e não precisaria ser testado de novo. Pois bem, este tal produto filosófico de segunda mão chamado Naturalismo é a crença de que o Universo é um grande relógio que funciona sozinho e que desenvolve suas próprias peças de reposição e ampliação. Para o Naturalista o Universo é um grande robô, cego, mecânico, determinado a seguir certos rumos previsíveis de ação. O Universo do naturalista está aprisionado por suas próprias leis e criações, é uma vítima de si mesmo em um processo infindável e cíclico de desconstrução e reconstrução. Vê-se que este é um conceito tipicamente pagão. Os deuses hindus, segundo a mitologia deste povo, viviam em um Universo exatamente como o Universo do Naturalista – um Universo que funcionava sozinho, como um relógio, como um moinho puxado por animais. Os deuses gregos, segundo a mitologia deste povo, também eram apenas atores em um palco Universal que não dependia deles. Tanto os deuses gregos quanto os deuses hindus estavam sujeitos a Natureza e obrigados a operar de acordo com determinadas leis: ao deus das tempestades, por exemplo, não era permitido comandar sobre vulcões; e sobre todos estes falsos deuses, dominava a concupiscência de suas paixões. A própria palavra natureza, em sua origem romana, traz em si o sentido de autonomia – no latim, natura significa nascido, o que remete à idéia de algo que brota por si mesmo; em grego, physis está ligado a crescimento, remete ao brotar da semente, o crescimento da planta. Em ambos os casos, a idéia pagã de natureza se expressa e tenta se referir a algo que ocorre de si mesmo, espontaneamente. Na Escritura Sagrada, no entanto, a linguagem Semítica se refere ao Universo como Criação (não como Criador ou co-Criador, não como espontâneo) fazendo uma clara distinção entre Aquele que governa o Universo e a Criação que é governada por Ele, e deixando claro que esta Criação não brota ou cresce por si mesma. Na Bíblia, nenhuma palavra semelhante a natureza nunca é usada para se referir ao Universo ou às supostas leis que o regem. Perceba que esta diferença crucial de conceitos faz com que qualquer discussão de um tema mais complexo seja inútil. Por exemplo, quando um descrente diz que a Escritura Sagrada não poderia ter sido inspirada por Deus, sua crítica real não é voltada contra o texto da Escritura mas contra a idéia de que Deus governa sobre o Universo. Se a discussão prosseguir nos termos do descrente, ele conduzirá os argumentos sempre no sentido de provar que Deus não interfere no Universo. Por causa desta concepção inicial errada a discussão inteira será inútil, até que o descrente compreenda que é absurdo discutir sobre a interferência de Deus, quando, na Verdade, Deus permanentemente governa sobre todas as coisas. Desta forma Deus é o poder que causa e sustenta todos os livros do Universo, e não só a Escritura. Na Escritura a diferença não está na quantidade de governo exercido por Deus, mas na quantidade de Verdade que Ele determinou que o autor expressasse ao escrever.