Esperança em Tempos de Apostasia - Parte 14

“Quando, pois, vos conduzirem e vos entregarem, proponde, pois, em vossos corações não premeditar como haveis de responder, mas, o que vos for dado naquela hora, isso falai, porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo. Porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem. E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai ao filho; e levantar-se-ão os filhos contra os pais. Até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós. E de todos sereis odiados por causa do meu nome; Mas não perecerá um único cabelo da vossa cabeça. E quem perseverar até ao fim, esse será salvo. Na vossa paciência possuí as vossas almas.” [Marcos 13:11-13; Lucas 11:19]

É realmente importante compreendermos este padrão de interpretação que estamos descrevendo aqui a partir desta exposição do Discurso Profético de nosso Senhor no Monte das Oliveiras. Santos homens de Deus no passado já se deixaram confundir e impressionar por eventos que paralelizavam com os do Discurso Profético – cabe lembrarmos aqui, como um exemplo, do grande Puritano dos Estados Unidos da América chamado Cotton Mather. Durante a vida do senhor Mather houve: um terremoto de uma magnitude de aproximadamente 7.5 pontos cujos efeitos foram sentidos ainda por três dias; uma grande fome nos anos seguintes ao terremoto; com a fome, vieram as doenças como escarlatina e varíola; duas grandes guerras se deram no mesmo período, uma contra os índios da tribo Wampanoag e outra contra os franceses; o número de dissidências religiosas aumentou grandemente, e os papistas atacaram com grande ímpeto aos protestantes em todo o mundo (inclusive na Inglaterra, onde o movimento Puritano foi sufocado pelo Ato de Uniformidade) e um “surto” de autoproclamados feiticeiros causaram uma grande histeria em determinadas regiões dos EUA, especialmente em Salém; soma-se a isto o fato de o cometa Halley, com grande visibilidade e brilho, haver cruzado os céus. Ora, aparentemente o quadro estava completo – fomes, guerras, perseguições, apostasia e mesmo “sinais no céu” - e isto levou Cotton Mather a crer que o fim estava próximo. Foram necessárias algumas décadas e a aproximação da própria morte até que Mather concebesse, em conjunto com outros teólogos e ministros da Palavra, uma visão mais clara e condizente com a perspectiva histórica Reformada e Puritana de outros eminentes estudiosos do passado, como os amados João Calvino e John Owen. Infelizmente este equívoco deixou uma triste mancha na história de Cotton Mather e o apocaliptismo inspirado por ele perturbou não poucas vidas de homens e mulheres simples que Deus entregara aos seus cuidados pastorais e a sua influência como grande teólogo da Igreja naquele país. Tenhamos em mente este exemplo para que não sejamos levados por uma hermenêutica experiencialista que interpreta a Palavra de Deus em função das notícias dos jornais; antes, sejamos sóbrios e vigilantes para submeter nossa visão de mundo à Palavra de Deus, entendendo e reagindo a tudo o que ocorre, instruídos pela Escritura.
Destarte, a partir do que tem sido ensinado nestas últimas edições do Jardim Clonal, continuemos a examinar o texto paralelo dos Evangelhos a respeito do Discurso Profético, sabendo que aquelas coisas que examinamos até agora foram ditas especialmente com respeito a fundação da Igreja Neotestamentária e, em paralelo, a destituição da ordem Veterotestamentária, agora envelhecida e contaminada pelo judaísmo apóstata. Entretanto, ainda que não sejam ditas especialmente a nosso respeito, as palavras deste Sermão de nosso Senhor, tem suma relevância para nós, pois quando Tempos de Apostasia chegam, e a Ira de Deus é derramada com furor, e fomes, guerras e perseguições se acumulam mais ainda do que o normal, encontraremos nestas mesmas palavras, forças, instrução e esperança, para agirmos com sabedoria e suportarmos os tempos maus (sabendo que, como o tempo de provação do primeiro século redundou no progresso do Reino deCristo e foi sucedido por eras mais tranqüilas por algum tempo, da mesma forma o tempo de provação em que Cotton Mather viveu redundou no progresso do Reino de Cristo e foi sucedido por um século de grandes homens como Jonathan Edwards, William Carey, David Livingstone e, apesar de certas ressalvas, seria injusto não citar outros como Whitefield e Rowland).
Até este ponto fica claro que os Apóstolos deveriam ter por certo que seriam perseguidos: antes da Destruição do Templo, antes da plena fundação e revelação da Igreja de Cristo; antes, eles padeceriam perseguições. E não somente isto mas, nas mãos de uma Igreja Apóstata, vendida aos poderes de um Estado pagão, eles seriam levados ante os Conselhos Eclesiásticos e antes as autoridades seculares, para serem ameaçados e tentados a dissuadir da Fé. Nosso Senhor, conhecendo o coração dos seus discípulos, para firmá-los e prepará-los para estes confrontos, lhes dá preciosas orientações a respeito de como eles deveriam agir quando pressionados para tornarem-se Apóstatas. E que grandes confrontos seriam estes! Pois homens simples, pobres percadores das regiões rejeitadas da Palestina, teriam de enfrentar os grandes e poderosos (e, diga-se de passagem: justos aos seus próprios olhos) sobre a Terra, teriam de defender, diante destes tais homens - homens versados em discursos e em políticas - a Verdade do Evangelho. Ora, perante tal quadro, o que fariam os discípulos? A resposta desafia a lógica humana, mas igualmente descansa no mistério de Deus: “Não se preocupem com o que irão falar, não será a sabedoria humana que convencerá a estes homens.”. A salvação ou a condenação das almas pertence somente a Deus [Jonas 2:9], não sujeita-se ao que foi dado aos homens, não está em nosso alcance, ou no poder de nossa sabedoria [1 Coríntios 2:10-13]. Não seria pelo estudo das religiões e visões políticas dos ímpios que os confrontavam que os discípulos alcançariam convencê-los; não seria pelo diálogo intererreligioso, não seria pela retórica e pela pena afiada da lógica humana, nem seria pelos seus sentimentos, nem com terror ou com promessas de toda sorte de bênçãos: não! Bastaria o que o Espírito de Deus lhes desse. E, caso houvesse algum rei ou governante ou concílio a ser convertido pela pregação, assim o seria - e isto segundo a vontade e o poder de Deus. Mas também se houvesse de ser endurecido o coração dos ímpios e punido com açoites, prisão e morte todo aquele que prega a mensagem de Cristo, assim o seria. Nenhum homem alcança a humildade necessária ao Cristão, exceto se extirpado de sua autoconfiança; e que poderosa operação esta a de humilhar os discípulos, de conclamá-los à dependência e ao descanso no Senhor ante o perigo de serem submetidos às torturas, à execração e à morte! E, se os discípulos que andaram lado a lado com nosso Senhor necessitaram desta lição, oh quanto mais nós também carecemos do mesmo! Em verdade é tão necessária esta abnegação que poderíamos afirmar que a pregação do Evangelho sem ela é impossível: se o Evangelho não for pregado com a sabedoria do alto, ele deixa de ser o Evangelho para se tornar mais uma mera filosofia humana. Cabe meditarmos em algumas palavras do amado Reformador João Calvino:
“Mas devemos trazer a mente que aquilo que Paulo escreveu na Primeira Carta aos Coríntios, a saber, que a pregação do Evangelho é loucura para os homens, que vêem a si mesmos como sábios [1 Coríntios 1:18,23]. Em verdade, desta forma, Deus nos humilha por causa de nossa tolice. Porque há suficiente sabedoria e boa instrução, se nós nos importarmos em atentar para tal, no céu e na terra ao redor de nós; porém nós somos cegos e fechamos nossos olhos para a sabedoria de Deus exibida na natureza. É por isso que Ele abriu para nós um novo caminho para atrair-nos até Ele mesmo – através de algo que reputamos loucura!”
O que Calvino explica aqui é que, uma vez tendo Cristo Jesus, o Filho Eterno de Deus, sendo naturalmente cheio de toda santidade e glória, se tornado maldição por nós e suportado a Ira de Deus e toda a ignomínia para nos Salvar, então parece claro que o caminho que Deus elegeu para a Salvação da humanidade não é um caminho de acordo com o mero raciocínio humano. Há uma razão espiritual que ultrapassa a lógica, seja a lógica helenista ou a lógica de qualquer tradição dos homens, e que é, em si, a vera lógica da qual todas as outras são inúteis e obsoletas sombras. Devemos aprender de Jesus Cristo, nosso sumo-Mestre e único Salvador, dEle que é manso e humilde de coração, devemos aprender dEle e mesmo apreender da mente dEle, para raciocinarmos com a lógica da Cruz, que humilha os homens e exalta a glória e a graça do Deus Altíssimo. Assim, João Calvino prossegue:

“Então, nós não devemos julgar o que temos lido aqui, a respeito de como o Filho de Deus tomou sobre Si a maldição que era nossa; não devemos julgar isto pela razão humana. Em lugar, nós devemos nos deleitar em tal mistério e dar glória a Deus, por ter amado tanto nossas almas ao ponto de redimí-las a tal inestimável custo para Si.”

A sabedoria que vem do alto, o santo e fiel discurso que provém de um coração quebrantado, e a unção e iluminação, ainda que na parca medida – se comparada com o derramar do Espírito sobre os Apóstolos - que nos é entregue, são mais eficazes para os propósitos Divinos do que toda eloqüência, técnica ou ciência de todos os sábios segundo a carne. Nosso Senhor deu aos santos Apóstolos e discípulos uma excepcional e ímpar boca e sabedoria e palavras do Espírito Santo para realizarem Seu propósito; e ainda hoje, por Amor a Seu Nome, o Santo Espírito distribui liberalmente uma especial sabedoria aos homens que O obedecem e buscam a Glória dEle, e nos dá a Sua Palavra escrita, Palavras do Espírito Santo, para que ninguém nos resista ou contradiga, mas para que a Sua Igreja e o Evangelho prosperem sobre a Terra.

Esperança em Tempos de Apostasia - Parte 13

Nesse tempo, muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão. E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará. [Mateus 24:10-12]


Temos aprendido que as tribulações servem a um bom propósito, e que os verdadeiros Cristãos devem esperar por tribulações, porque é impossível haver conformidade entre o Cristão e o mundo - o Cristão não fala da mesma forma que os ímpios [Zacarias 8:16; Tiago 2:12, 4:11; 1 Pedro 3:15], não se veste da mesma forma que os ímpios [1 Pedro 3:3,4; 1 Timóteo 2:9], não tem as mesmas preocupações dos ímpios [Mateus 6:25-34], em suma, em tudo ele contraria o procedimento comum daqueles que estão ausentes de Deus e em tudo denuncia que há irreconciliável separação entre as obras da carne decaída e as obra do espírito redimido. Agora, não pensemos que a aflição e a perseguição, embora operem o bem do Cristão, o fazem de forma imediata e visível para toda a Igreja. Não há dúvidas que os eleitos do Senhor são aperfeiçoados pelo sofrimento, por causa do Espírito que a eles assiste e ensina, por causa da Palavra que o Espírito inspira e ilumina, pelo eterno desígnio de Deus em santificá-los e pelo amor ao Senhor que lhes foi gravado na alma. Contudo, há também prejuízos temporários, visíveis, especialmente a aparência da Igreja, os quais podem demorar ainda a se revelarem benéficos para os Santos; porque a Cruz é uma ofensa para todos quantos não são verdadeiramente chamados pelo Senhor, e isto os levará:

1) À Apostasia, ou seja, ao abandono do ensino bíblico. A perseguição, a aparente derrota, a fraqueza, e tudo o mais que remonta à Cruz, são pedras de tropeço para aqueles que não têm o coração totalmente em Cristo. Nos dias de hoje vivemos em tempos de Apostasia, como efeito das tribulações e perseguições que a Igreja sofreu nos séculos XIX e XX - principalmente perpetradas pelos adeptos do modernismo, materialismo, humanismo, pós-modernismo e demais filosofias e subdivisões filosóficas centradas no homem; as quais, com a multiplicação do conhecimento e da informação, pelo endeusamento do conhecer e dos meios de conhecimento, se propuseram entremear à alma e a Revelação, tentando impondo condições as mais diversas (e ímpias) ao conhecimento de Deus pela Escritura. Reitero, portanto, que as perseguições, essencialmente políticas, econômicas e sociais, sofridas pela Igreja , cujos arautos foram tais filosofias acima citadas, geraram a Apostasia. Quanto ao gênero deste afastamento da Doutrina Bíblica, especificamente posso nomear o Liberalismo Teológico, o NeoLiberalismo, o Ecumenismo, o NeoCalvinismo e o Misticismo (Darbista, Quaker, Oriental ou Pentecostista) como frutos teológicos do mau fermento filosófico. Ora, veja que é isto de tal maneira: pressionados nestas perseguições, os Apóstatas, para que não sejam afligidos com os demais integrantes da Igreja, tomam um de dois caminhos - ou renegam a Fé, associando-se abertamente com os inimigos; ou alteram a Fé, eliminando de seu escopo aquelas doutrinas e ações que mais ofendem o mundo e despertam a ira das nações, ou exacerbando as que mais fazem frente ao presente ataque (ainda que às custas de mentiras). Quantas das congregações de nossos dias cantam os Salmos, como fez a Igreja Cristã em todos os séculos e como a Escritura nos ordena? [Efésios 5:19; Colossenses 3:16] Quantas das congregações de nossos dias rejeitam o uso de instrumentos musicais no culto (porque tais instrumentos pertenciam ao culto no Templo, ao sacerdócio Levítico, como o incenso e outras especificidades cerimoniais) [1 Crônicas 25:1-6; 2 Crônicas 5:12;9:11; Neemias 12:27; Salmos 137:1-4], como também os rejeitavam os Reformadores e Puritanos, e os antigos Cristãos, e como nos ensina a Escritura? Quantas das congregações de nossos dias seguem suas Confissões de Fé, usam seus Catecismos, e reconhecem a Fé Cristã Histórica, mesmo em suas doutrinas mais simples e basilares, como a doutrina da suprema autoridade da Escritura? [2 Timóteo 3:16]. E quantas pregam a Palavra da forma com a Escritura comanda - com dura repreensão do pecado, com aplicação das doutrinas bíblicas, com o devido respeito pelo contexto, com solenidade e temor? E quantas rejeitam o ministério feminino, a teologia da prosperidade e o pelagianismo? Antes, todas estes erros aqui numerados se tornaram tão comuns que há mais estranheza quando falamos do que é correto e bíblico, do que quando se ensina e pratica o erro. Ora, o afastar-se daquilo que a Igreja, seguindo a Escritura, praticou e defendeu em todos os séculos, e o aproximar-se daquilo que sempre foi condenado (porque contraria a Escritura) é Apostasia; e somente a Graça de Deus em Cristo Jesus pode nos impedir de cair como todos tem caído, e pode, ao contrário, nos incitar para corrigirmos, com arrependimento, quaisquer erros que ainda estejamos cometendo e combater o mal que ainda toleramos. Vivemos em tempos de Apostasia, e tais tempos começaram com perseguições. Não desprezo, contudo, a influência dos grandes eventos e aflições mundiais nesta Apostasia (como as duas grandes guerras e as recessões), como também não nego que, sejam nas causas imediatas ou nas mais distantes, ou seja na própria Apostasia, a mão poderosa do Senhor esteja agindo. Assim, conforme os motivos aqui expostos, vemos que a perseguição, as aflições e tribulações fazem aflorar os falsos mestres e falsas doutrinas com temporário prejuízo para a Igreja Visível, e, muitas vezes, com uma grande e notória confusão; entretanto, confiamos no Senhor nosso Salvador, que por estes que saíram de entre nós, não eram de nós, e que, quando este tempo determinado houver passado, a Igreja emergerá purificada e fortificada.

Nesta porção dos Evangelhos que examinamos, vemos que foi também um tempo de Apostasia aquele do nascimento da Igreja Neotestamentária; um tempo em que a Igreja dos Judeus estava em Apostasia (porque adicinaram mandamentos de homens à Lei de Deus e renegavam ao Senhor Jesus Cristo - e, portanto, ao que Deus prescrevera na Velha Aliança que eles achavam honrar), e um tempo em que, pelas sucessivas tribulações, mesmo a Igreja NeoTestamentária sofria seus Apóstatas (judaizantes, gnósticos, nicolaítas, etc). Também naqueles dias, haviam homens estavam conosco, mas partiram de nós, porque nunca foram verdadeiramente nossos [1 João 2:19]. Quanto a isto advertiu nosso Senhor aos discípulos na profecia que aqui analizamos: que com as tribulações e perseguições, os traidores e impostores seriam expostos (porque renegam e negociam a Fé antes de perderam a vida pelo seu Senhor) e muitos se escandalizariam com o fato de que sofrimentos estão apontados sobre o povo de Deus, para os aperfeiçoar, porque não alcaçarão a Coroa da Glória, sem antes carregar a Cruz - exatamente como nosso Mestre fez, abrindo-nos o Caminho vivo que nos permite, pela Graça, participar das aflições dEle pela Igreja.

2) À impiedade - pois é fácil professar a Cristo sob a luz do sol, quando somos benquistos pela nossa religiosidade e nenhum sacrifício é feito pela Fé; quando a sociedade cristianizada considera a religião como somente mais uma das boas coisas a se fazer para o bem do próximo, e alguns exercícios moderados de piedade são incentivados e aplaudidos por todos; mas, quando as trevas de uma tempestade se aproximam, e o Nome de Cristo se torna sinônimo da inimizade com o mundo; quando sacrifícios tem de ser feitos e os olhos têm de serem abertos para a miséria de nossos irmãos e para a desgraça daqueles que não conhecem a verdadeira Religião; quando não há ocasião para disfarçar a prática da piedade, e as frontes se enrugam para aqueles que buscam agradar ao Senhor, então até mesmo a mais fraca profissão do Nome de Cristo se torna rara e aquilo que o Senhor tem por bom, mas o mundo tem por mau, é desprezado; pois aos ímpios importa agradar ao mundo e não a Deus. Quantos Cristãos vemos hoje guardando seriamente o Dia do Senhor? E quantos temos visto exercendo a autoridade ordenada na Palavra sobre suas esposas e filhos e, com a devida autoridade e poder, sob a Aliança de Deus, conduzindo sua família sob a lei da Aliança da Graça? Quantos temos visto que se vestem de forma modesta e decente, que falam de forma contida e cuidadosa, que gastam suas posses buscando o bem alheio e que afastam-se dos entretenimentos do mundo para remir o tempo? Desobedecer ao que o Senhor estabeleceu em Sua Palavra é impiedade. Por mais, quando a tempestade finalmente chega, e o desejo de perserguir a Igreja é francamente manifesto, e os homens, como rios de água que brotam da boca do Dragão Satanás, saem à caça daqueles que amam ao Senhor, então, como uma doença malígna, a impiedade alia-se a crueldade e se tornam a regra; todos se tornam suspeitos uns para com os outros e inimigos multiplicam-se mesmo dentre os mais próximos familiares. Assim foi visto ocorrer nos países Comunistas há algumas décadas atrás (como em alguns rincões até em nossos dias), e, para citar novamente a Ilha da Madeira, tal arroubo de ímpia malignidade foi visto pelo Rev. Kalley em seus dias, quando populações inteiras eram incitadas pelos arautos do AntiCristo à destruição dos Calvinistas - o que, por fim nos mostra como a Apostasia e a Impiedade caminham juntas, sob uma mesma influência pecaminosa.

Isto também os discípulos logo conheceram e experimentaram em seus dias, conforme a Profecia de nosso Senhor. Traições e ódio, marcas de quem tem o Diabo por Pai, cresciam mais e mais enquanto se aproximava o dia em que a Igreja NeoTestamentária seria revelada em Cristo Jesus. Ainda nos últimos dias da Igreja Judaica, os traidores avultavam-se; as facções multiplicavam-se; as disputas cresciam. Os Judeus vendiam uns aos outros para defender suas visões políticas e religiosas; e logo, tomando os Cristãos como uma facção útil para ser odiada, logo estenderam e multiplicaram suas impiedades também sobre estes; o que, igualmente, fizeram os pagãos.

3) Ao Esfriamento, pois, quando a impiedade se multiplica e a Igreja diminui em sua influência e em sua visibilidade, então, a imoralidade consome os homens e o amor de muitos esfria, perdendo a Esperança de que o Senhor venha a trazer luz, novamente, sobre o Seu Povo. Sim, infelizmente é comum que pela multiplicação da iniquidade, pelo mal ensino e destruidor testemunho dos falsos mestres e de suas falsas igrejas, pela destruição na alma que é causada por um "outro evangelho" que, em verdade, não é Evangelho algum, por todas estas coisas, o amor de muitos esfria, e o seu zelo se vai, e o desejo e a batalha por uma Igreja Pura e correta segundo a Palavra, por um Povo Santo e cheio de boas obras, enganosamente parece uma perda de tempo. Quantos, dentre os discípulos, se escandalizaram com a tribulação, quantos não suportaram que a Igreja de Cristo fosse vitoriosa em espírito, mas nem sempre em número e visibilidade? Quantos acharam o discurso de nosso Senhor "muito duro" e pensaram que ninguém suportaria cumprir o que Ele exige? Graças ao Senhor e toda glória seja a Ele, porque Ele edifica e preseva Sua Igreja; Ele consola e dirige os Seus para que o zelo e o amor de Seu povo encontre, ainda que nos tempos mais difíceis, amparo e vida na Palavra.


Tendo, agora, observado mais estes versículos da Profecia vemos que, ao contrário do que muitos gostariam, há menos mistério nestas palavras e, sem dúvida, mais piedade, mais enunciação dos deveres Cristãos, mais exaltação da Glória de Cristo. Não há nada sobre nosso futuro, nada sobre o que esperar para nossos filhos ou os filhos de nossos filhos; nada, exceto aquilo que se pode esperar de cada Cristão em cada geração - que haverá muitas batalhas e dificuldades, que estreita é a porta e estreito o caminho que conduz ao céu; e que tal caminho não poderia ser trilhado por alguém cuja natureza permanece em pecados, mas somente por aqueles que, pela Fé somente, pela Graça de Deus, foram transformados e receberam, mediante o ouvir da Palavra, poder do alto, dos céus, para viverem de forma Santa, em franco contraste e desafio àquilo que o mundo considera desejável. E, o que para nós é a realidade de dois mil anos de Igreja, para os discípulos era o desvelar de um novo mundo, pois o velho mundo logo se desfaria em chamas, trazendo à lume a plena realidade da Igreja. Esta plena realidade que aqui contemplamos, universal em lugar de nacional, espiritual em lugar de política, era uma grande novidade para a mente daqueles homens. Portanto, esta Profecia lhes falava ainda mais profundamente do que nos fala e, sinceramente, se a maravilhosa realidade da Igreja e os deveres aqui expostos de mortificação e de consagração obtidos deste texto, não te movem em nada - preocupa-te, porque falta a vida em sua alma; preocupa-te muito, porque podes estar separado do Inferno por apenas poucos passos, e em risco de precipitar-te no Abismo sem fim tão logo sua vida se encerre em um instante.


Porém, para todos quantos têm contemplado ao Senhor e o conhecem; e para quem o busca e deseja conhecer, aprendamos, por fim, como Deus suscita Sua Glória pela tribulação e sofrimento de Seu Povo:


1) A perseguição e a tribulação trazem notoriedade para o povo de Deus; muitas atenções se voltam para aqueles que seguem o Caminho têm, suas vidas observadas minuciosamente, motivos são buscados para os difamar - e quando os inimigos vêem somente o bem em suas vidas, quando a perseverança na Fé e no Amor de Cristo demonstra a certeza das promessas de Deus, então o Nome do SENHOR é glorificado, e a verdadeira religião exaltada grandemente. O povo de Deus é transformado por Ele em um testemunho vivo do poder do Altíssimo [Lucas 21:13]. Muitos, ainda na época dos Apóstolos, quando se cumpriu o que foi predito no Dirscurso Profético de nosso Senhor, foram atraídos à Palavra pelo silencioso e fiel testemunho dos Cristãos que, mesmo sob perseguição dura, mesmo sendo lançados às feras e torturados publicamente, mantinham-se mansos e resolutos, amáveis e corajosos; oh, que belo testemunho os discípulos nos legaram; e quão grande a nossa vergonha que, sendo perseguidos de uma forma que ainda não é física, não demonstramos a Fé que professamos.


2) A perseguição e a tribulação fazem a Palavra ser divulgada entre os perseguidores; diante de reis e tribunais, e diante do povo quando a situação permite. Quão precioso foi o testemunho dos mártires da Reforma na Inglaterra, e como impressionaram seus inquisidores, torturadores e o público de suas execuções com discursos firmados na Escritura, com um claro e poderoso anúncio do Evangelho, com pias orações e conversas. Em tudo o Senhor os assistiu e, em lugar de desespero e blasfêmia (como é comum entre os Apóstatas mesmo ante a menor tribulação) apresentaram palavras cheias da Sabedoria que vem do alto.


Tomemos, pois, todas estas coisas como exemplos, e nos exercitemos em toda piedade e em toda a Sã Doutrina; não negociemos nossa Fé, nem nos rendamos ante às pressões da sociedade; não diminuamos as exigências que o Senhor faz, não neguemos os preceitos da Aliança. E não nos desesperemos por causa das tribulações, da Apostasia, do amor de muitos que esfria e da impiedade generalizada; porque o Senhor tem preciosas promessas: Ele nos sustentará mesmo ante as mais malignas gerações, Ele fará fiel o nosso testemunho, Ele suscitará (e tem suscitado) para Si aqueles que O obedeçam e preguem o Evangelho, sofrendo por isso mesmo grandes perdas, e entregando tudo o que tem por amor ao grande tesouro que encontram em Cristo Jesus, nosso Salvador e Rei.

Esperança em Tempos de Apostasia - Parte 11

Os versículos seguintes dos textos sinóticos dos Evangelhos, examinados em nosso presente estudo, continuam falando dos sinais e dos tempos proféticos. Mais uma vez ressalto que os Judeus em geral esperavam que com o advento do Messias, acompanhado de algum cataclismo, seria estabelecido o Reino Teocrático em Israel e a nação governaria sobre todos os povos do mundo; eles esperavam que esta era de ouro, este mundo porvir, fosse imediatamente e plenamente introduzido com o advento do messias, que destruiria toda a presente ordem dos séculos. Entretanto, biblicamente, iluminados pelo Espírito com a mais clara luz do Novo Testamento, aprendemos nestes nossos estudos que o mundo porvir, sendo de natureza espiritual, é um Reino supranacional e invisível, uma nação santa espalhada por toda a Terra (e além dela, nos domínios celestiais onde habitam os Cristãos já falecidos), composta de todos os homens chamados pelo Evangelho e unidos, pela Fé, a Cristo Jesus, o Rei e Sumo-sacerdote de nossa confissão; e que, portanto, o Reino de Cristo e o mundo vindouro são uma realidade presente, não introduzidos pela destruição da primeira Criação, mas pela Nova Criação (fruto da obra Redentora de Cristo Jesus), aplicada pelo Espírito de Deus nas almas dos homens que Ele chama eficazmente ao arrependimento e à fé. É muito triste quando, à semelhança da cegueira daqueles Judeus, os homens que professam ser Cristãos em nossos dias, têm seus olhos voltados para os poderes políticos, as riquezas e o fluxo das nações, quando têm seus olhos fixos na beleza das construções dos seus luxuosos templos, na pompa e ritualismo das suas cerimônias e nos números das multidões que atraem com seus artifícios criados para entreter e exaltar os homens. É triste porque a Escritura nos deixa claro que o vero templo está em Cristo Jesus, que os Cristãos devem habitar, viver e reunir-se humildemente; que a presença de Deus está na Palavra retamente pregada do púlpito, ministrada nos sacramentos e vivida pelo povo. Devemos ter nossos olhos no Reino de Cristo, e não naquilo que é passageiro e temporal; devemos desejar e buscar a substância da vida Cristã e não nos contentarmos com as sombras e os restos que agradam aos pagãos. Veja que o mundo porvir sobrepõe-se à presente era, eles coexistem para que, tendo sido chamados por Cristo enquanto habitando a presente era, morramos para o mundo e vivamos segundo a natureza do nosso celestial e eterno chamado. Tendo ainda em vista que estas realidades coexistem somente enquanto o Reino, como a rocha que cai sobre a estátua vislumbrada em sonhos por Nabucodonozor, despedaça primeiro os pés de ferro (coexistindo com a o resto da estátua) e cresce, pouco a pouco, até esmiuçar todos os reinos ali representados até finalmente estender-se por todo a Terra [Daniel 2:34,35]. Hoje, tendo já destruído a força e a expressão dos antigos rudimentos – a religião, o Estado e o templo judaicos, assim como a religião e o Estado romanos - o mundo porvir cresce, em Cristo, destruindo os outros rudimentos, os reinos e estados e templos antiCristãos, em uma série de duras e longas tribulações e batalhas. Tudo o que é falso, tudo o que é meramente humano, toda a riqueza, todas as multidões que buscam seus interesses mesquinhos em lugar de buscar a glória de Deus, todos estes artifícios, invenções, imaginações, sombras e restos, tudo isto perecerá com o passar dos séculos e seus ímpios autores sofrerão a mais horrível condenação no Dia da Ira de Deus. Seja nosso coração aplicado à certeza da realização das promessas do Evangelho - mesmo aquelas que sequer vislumbramos - e seja nossa alma afastada de toda cobiça, avareza e mundanismo, de toda glória exterior e assim prossigamos a examinar o Discurso Escatológico de nosso Senhor:

"Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino. Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam estas coisas. Haverá pestes, terremotos em vários lugares e também fomes. Mas o fim não será logo, todas estas coisas são o princípio das dores." [Mateus 24:7,8; Marcos 13:8; Lucas 21:9]

Quando o Senhor deu estas palavras a Seus discípulos, o ano provável era 29 ou 30 d.C. Passou-se ainda mais de duas décadas antes que todo o mundo houvesse sido tomado de revoluções e guerras, precisamente como o Senhor houvera predito. Quanto mais se aproximava o fim da era judaica e a plena revelação da Igreja de Cristo, mais a ordem política e social se desintegravam no Império Romano. A presente era mais e mais era abalada pela aproximação da Revelação da Igreja; conforme o Altíssimo mesmo disse que faria quando prometeu abalar as fundações e as montanhas da Terra com Sua ira, para exaltar a Cristo e a Seu Povo [Salmo 18:7]. O reinado de Tiberius, ainda na terceira década do século I, foi perturbado por suas crises paranóicas, pelas quais plantara as sementes de futuras conspirações e desavenças; morrera no ano 37 d.C., sendo sucedido por Gaius (mais conhecido como Calígula), que logo tornara-se patentemente insano e terrivelmente cruel, terminando seus dias assassinado no ano 41 d.C. O caos crescente encontra no reinado de Nero ainda mais instabilidade, opressão e loucura, que culminam no seu suicídio no ano 68 d.C. Durante este reinado, na Judéia, sob o governo de Festo, a anarquia predominava; sacerdotes rivais competiam pela autoridade religiosa entre os Judeus e seus seguidores batalhavam na ruas e cidades. Albino, o sucessor de Festo, seguia de perto a crueldade e tirania de Nero, porém, substituído por Floro, foi ainda superado em violência e imoralidade por este último. Em tal cenário, com o suicídio de Nero, a Revolta Judaica, incitada por tantos daqueles falsos cristos e falsos profetas dos quais falamos na última edição, conflagrou-se uma guerra civil; os batavos, povo guerreiro de uma província na região aproximada da atual Holanda, também se rebelaram e diversas batalhas internas irromperam por toda a extensão do Império, mesmo na Capital. Acompanhando as sangrentas guerras civis, veio a fome, causada tanto pelos ataques contra as fontes de suprimento, como pelo desvio dos recursos para alimentar as tropas. Porém, com o julgamento Divino, uma grande fome antecedeu o reinado de Nero [Atos 11:28], tornando escassos os suprimentos desde antes das guerras; vindo então as revoluções e revoltas, a escassez, ainda que não tenha se tornado tão intensa como aquela prevista por Agabus (e que já houvera passado) tornou-se vasta e generalizada em todo o Império. Contudo, o mais terrível episódio destas fomes foi, sem dúvida, durante o cerco à Jerusalém: o ápice da Ira de Deus derramada sobre o judaísmo hipócrita, quando as coisas mais degradantes voltaram a ocorrer dentre os Judeus, como aquelas citadas pelo profeta Jeremias [Lamentações 4:3-5;9-10]. E, destas acumulativas violências e fomes, não é estranho que brotaram pestilências; como parte dos julgamentos vindos do Altíssimo, as pestilências ceifam mesmo aos que se abstêm das lutas ou os que são mais robustos e resistentes à inanição. Não bastasse isto, à todas estas coisas somou-se a devastação causada pelos terremotos, que tornavam as casas dos homens em suas sepulturas e cidades inteiras em cemitérios. Não foram poucos os tremores naqueles dias próximos ao nascimento da Igreja, quando, mediante a voz do Senhor, abalaram-se os céus e a terra [Hebreus 12:25], tanto naturais quanto espirituais, para sacudir dos Seus domínios os ímpios [Jó 38:13], e fazer vir o longamente desejado Messias e Libertador às nações com grande glória em Seu vero Templo - a Igreja [Ageu 2:6-7]. Vemos estes abalos no Capítulo 4 de Atos dos Apóstolos e, posteriormente, no Capítulo 16; além destes registrados no Novo Testamento, houve terremotos em Roma (51 d.C.), Phlegon (60 d.C.), Campânia e Crete (63 d.C.), e ainda outros mais em Smyrna, Miletus, Chios, Samos, Laodicéia, Hierápolis, Colosso e Judéia - alguns destes causando a destruição de cidades inteiras. Mas o fim não viria logo. Estes sinais foram somente o início das dores - "odin" é o que diz o grego original e significa " dores de parto" - porque a Ira de Deus que começou a ser derramada sobre aqueles que recusaram o Evangelho, não mais se recolherá até que todos os inimigos de Cristo sejam postos por escabelo de Seus pés [Salmo 110:1; Hebreus 10:13]; com dores de parto cada vez mais freqüentes e fortes até o dia do seu julgamento, Jerusalém foi destruída e a Igreja fortalecida (como já temos feito notar nestes estudos); com dores de parto cada vez mais freqüentes e fortes, cada nação e cada homem rebelde serão julgados, e os eleitos chamados e convertidos, assim será até o dia do Julgamento Final [Isaías 66:7-9; Romanos 8:22; Gálatas 4:19; Apocalipse 12:2-6]. Dores de parto, súbitas em seu aparecimento, porém freqüentes e cada vez mais violentas depois disto, anunciando um nascimento que pode tardar, mas certamente virá; dores de parto que são um sinal da Queda [Gênesis 3:16] e, ao mesmo tempo, são o sinal da esperança da Redenção [Gênesis 3:15].

Cabe a cada um de nós atentarmos para estes sinais, tendo em mente esta dicotomia - Queda e Redenção - e nos apropriarmos dela entendendo-a tanto em relação à nossa união com Cristo (e, portanto, na nossa incorporação nos atos de Redenção que Deus opera através da Igreja), quanto em relação à nossa pessoal Aliança com o Senhor. Cabe a cada um de nós, ao nos depararmos com as guerras, terremotos, pestes e fomes, clamarmos ao nosso Senhor para que "Seu Reino venha a nós" e "Sua vontade seja feita", para que Ele vivifique Sua Igreja e nos capacite, individualmente e como organismo, a levar fielmente a Palavra que é capaz de trazer a vera paz e afastar a Ira de Deus de sobre as nações. Cabe a cada um de nós, ao sermos acometidos pelas guerras, terremotos, pestes e fomes, clamarmos ao nosso Senhor por misericórdia, porque nossa individual maldade, a maldade no meu coração e no seu, é o motivo de todos estes julgamentos [Gênesis 6:5-7]; cada um de nós merece (eu mereço, você merece), tanto mais sofrimento quanto o causado por cada ato da Divina vingança contra nossos pecados; nós somos a vera causa dos males do mundo. Cabe a cada um de nós, ainda tendo enxergado por estes sinais a marca da nossa própria miséria, olhar para Cristo, o Senhor, que deu Sua vida para tomar para Si algumas destas miseráveis criaturas - que somos nós - e constituir nelas, com o poder de Seu precioso Sangue, uma Nova Criação, uma natureza redimida, liberta da escravidão dos pecados, chamada para a Santidade. Cabe a cada um de nós olharmos ainda para as guerras, tragédias, doenças e privações pessoais e enxergar nelas, novamente, a nossa miséria e, a partir desta denúncia, buscarmos o arrependimento e a humilhação diante do Salvador, estendendo para Ele as mãos trêmulas e necessitadas, de quem, além do pecado, não tem nada em si que possa apresentar com sinceridade ao Senhor e aguardar na misericórdia e graça dEle, para que nos perdoe, acolha e vivifique, na Sua obra de Redenção; que nos faça, ainda que com muitas dores, ainda que com dores sofridas e compartilhadas com aqueles que pela Igreja e por aqueles que por nós oram e trabalham [Gálatas 4:19; Romanos 8:18; Colossenses 1:24], nos faça nascer de novo, convertendo-nos verdadeiramente do mal caminho de nossa alma, firmando-nos os pés na estreita, porém reta, estrada que leva à Vida Eterna.

Esperança em Tempos de Apostasia - Parte 12


"Haverá também coisas espantosas, e grandes sinais do céu. Mas antes de todas estas coisas lançarão mão de vós, e vos perseguirão, entregando-vos aos concílios, às sinagogas e às prisões para serdes atormentados e açoitados; conduzindo-vos à presença de reis e presidentes para lhes servir de testemunho - sereis odiados de todas as nações por amor do meu nome. Nesse tempo, muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão."


[Mateus 24:9-10; Marcos 13:9-10; Lucas 21:11-13]



Há certa controvérsia quanto às "coisas espantosas, e grandes sinais do céu". Não porque o registro da profecia seja impreciso ou porque faltem dados históricos, mas porque o racionalismo assaltou a Igreja de Cristo, especialmente desde o surgimento da Teologia Liberal. Digo isto porque os antigos homens de Deus, até por volta do século XVIII, não temiam afirmar que o inexplicável e o insólito existiam também fora das páginas da Escritura; não temiam dizer que, apesar de os dons e ofícios extraordinários (como o Apostolado, ou a Profecia) haverem cessado há muito (desde os tempos da fundação da Igreja neotestamentária), os milagres, ou seja, as ações de Deus que manifestam Seu controle sobre a Criação e Seu poder de operar sobre e através de quaisquer "leis naturais" teorizadas pelo homem (elaboradas usualmente com base na regularidade dos comuns acontecimentos e, portanto, alheias a qualquer firme fundamento senão o desta regularidade) não cessaram e jamais cessarão – são parte da prerrogativa da Soberania e Majestade do Altíssimo. O Reformador João Calvino, ao comentar sobre estes presentes versículos do Evangelho de São Mateus, encaminha o leitor para a obra chamada "As Guerras Judaicas" do historiador judaico-romano Flávio Josefo; advertindo que, embora não haja registro inspirado do cumprimento desta parte do Discurso Profético de nosso Senhor, há um registro histórico, tão confiável quanto pode ser qualquer escrito humano. Os Puritanos John Lightfoot e Matthew Henry fazem menção à esta mesma obra de Flávio Josefo. E o que há nesta obra que relaciona-se com a presente profecia, afinal? O referido livro - "As Guerras Judaicas" - narra sinais nos céus, estrelas ou cometas, dentre outros acontecimentos estranhos, que ocorreram em Jerusalém antes da destruição em 70 d.C. Ora o racionalismo, e mais específicamente a idéia de que não só a razão, mas a ciência deve explicar determinado fenômeno para que seja crido, impediu que tais relatos fantásticos de Flávio Josefo fossem tomados como relatos aceitáveis e consideráveis quanto ao cumprimento desta profecia. Esta elevação da ciência a um lugar que não lhe pertence, ou seja, o lugar de juíza da verdade e mãe de todo o conhecimento, causou ainda uma reação extrema em certo seguimento da Igreja; muitos, para negarem o racionalismo, se tornaram místicos e deificaram a ignorância, recusando qualquer evidência e informação, mesmo qualquer conhecimento, que esteja fora da Escritura e da sua revelação particular a respeito da mesma - o que, na prática, quanto ao presente caso, teve o mesmo efeito. Note que os Reformadores e Puritanos, não nos legaram nenhum dos extremos, como, em verdade, o consenso dos antigos mestres dos primeiros séculos da Igreja também não nos legaram. Antes, estes preciosos homens nos mostram, pela Escritura, que o conhecimento obtido pela experiência própria e pela experiência alheia deve ser testado pela Palavra e não por qualquer método naturalista, cartesiano ou seja lá o que for. Assim, muitas coisas espantosas e sinais dos céus, segundo o testemunho da História, e em acordo com a Profecia bíblica, ocorreram naqueles anos próximos a 70 d.C. para anunciar a grande obra que o Senhor realizou naqueles dias, a fundação da Igreja Neotestamentária e a revelação da Nova Aliança em Cristo Jesus: sim, a notícia do Evangelho e o poder para Salvação dos pecadores irromperam ao mundo, pela misericórdia, graça e ação de nosso Senhor, marcando para sempre aqueles dias como um tempo absolutamente único na História humana, verdadeiramente um tempo onde os poderes foram abalados e um novo céu e uma nova terra trazidos ao universo temporal.



Mas antes da Igreja estar plenamente fundada e antes mesmo do Evangelho correr o mundo anunciando nosso Salvador amado e o poder de Sua ressurreição, os discípulos e Apóstolos haveriam de padecer muito sofrimento. Veja que quando o Estado e a Religião interceptam os negócios um do outro, quando tal é feito na forma de instituições e hierarquias anti-bíblicas, quando tal é feito para domínio de um sobre o outro, então a Igreja sofre e o mundo triunfa. E esta era a situação da Igreja Judaica naquele momento, esta era a situação da Religião bíblica naquele momento - o Estado e a Religião Judaica se confundiam, se interceptavam; polêmicas teológicas logo se tornavam polêmicas políticas e partidos políticos logo se tornavam seitas do Judaísmo. Com o Evangelho sendo pregado e, portanto, desafiando as seitas predomimantes da religião Judaica a comprovarem se verdadeiramente seguiam a Escritura e obedeciam ao Senhor, logo esta questão teológica e religiosa atravessou as fronteiras da organização eclesiástica (os concílios e sinagogas), para os domínios estatais (prisões, reis e presidentes).

Quanto a isto, há duas lições para nós:


1) Que importa que com muitas tribulações se entre no Reino de Deus [Atos 14:22].


2) Que mais uma vez a natureza espiritual do Reino, que constrasta com as expectativas judaicas (conforme já vimos nas edições passadas), é tão destacada que aquilo que parece uma derrota, como as perseguições e as prisões, em verdade, fortalece a Igreja.



Com detalhes, reflitamos sobre cada um destes dois pontos, iniciando com a necessidade de muitas aflições para entrar no Reino de Deus.


Em primeiro lugar, note que o texto [Atos 14:22] diz que importa; não é opcional, não é facultativo, não é somente para aqueles homens que ouviram imadiatamente estas palavras (embora, sem dúvida, seja especialmente para estes) - antes, importa, é necessário, é uma condição. Igualmente, na profecia, a perseguição é certa e, como ordenada por Deus, necessária e boa. Todos os Filhos de Deus, todos os que entram no Reino de Deus, todos os Cristãos, devem esperar tribulações e perseguições neste caminho. Há uma aliança entre os reis mundanos, entre os líderes que propagandeiam o pecado, entre os povos e massas de não-convertidos; há uma união e um acordo deles no pecado, na vã imaginação, na revolta contra o verdadeiro Rei - Cristo Jesus [Salmo 2:1-3; Romanos 1:18-32] e, portanto, contra Seu povo. Há uma natural inimizade entre o Cristão e o ímpio, "O ímpio maquina contra o justo, e contra ele range os dentes. O ímpio espreita ao justo, e procura matá-lo." [Salmos 37:12,32]. Portanto, quando o Cristão se submete ao Reinado de Cristo, presente e espiritual (como já temos aprendido), quando o Cristão luta para que seja visível este reinado, para que venha a nós o Reino e seja feita a vontade de Deus na terra; quando o Cristão vive e traz consigo a Palavra, quando diz ao ímpio "Tu certamente morrerás" [Ezequiel 33:8a]; quando condena os prazeres dos ímpios, odeia os seus entretenimentos e se separa deles visivelmente; quando difere deles no vestir, no falar e no uso do tempo e do dinheiro; quando o Cristão, com força e poder, pela Graça de nosso Senhor, faz visível e audível a sua Fé, então o ímpio o considera abominável e o odeia [Provérbios 28:4; 29:27]. Portanto, importa sofrer tribulações, importa ser perseguido, importa ser odiado. Se o seu cristianismo é tão frágil e insignificante que não desperta o ódio do mundo e não te traz nenhuma limitação quanto a sua vida em sociedade, quanto às companhias que você desfruta, quanto à forma como você passa o Domingo, quanto às coisas às quais você expõe seus olhos, quanto aos objetivos que você nutre e para os quais se dirige; enfim, se o seu cristianismo não te traz nenhuma tribulação, tema! Porque um homem morto no meio de homens mortos conhece paz, mas um homem vivo não repousa entre cadáveres! Tema e veja se acaso os abutres não estão a devorar suas mãos ou a banquetear-se de seus órgãos, enquanto você engana a si próprio considerando-se um bom Cristão, porque a alma daquele cuja religião é somente um hábito, está corrompida em pecados! Importa sofrer tribulações e, se você não as tem sofrido, tema e busque arrependimento junto ao Senhor e fé e determinação, na Graça e no poder do Sangue do Senhor, para que Ele, no Seu Espírito, misericordiosamente sopre sobre você e te torne vivo. E assim, quanto àqueles que lançaram as bases de nossa Igreja, os Apóstolos e Profetas no primeiro século, tanto mais importou que neles se completassem as aflições de Cristo, pela Igreja [Colossenses 1:24]. O sofrer aflições por causa da retidão é precioso, e comprova que como ovelhas, somos entregues à morte todos os dias, porque reputamos nosso próprio bem por menos do que o bem ao próximo e, sobretudo, toda nossa vida na Terra por menos do que o valor de nossa alma e da alma daqueles a quem anunciamos à Cristo, e este Crucificado, como Aquele desejado das nações, o único que abre-nos caminho ao céu.


Ora importa sofrer por Cristo, importa sofrer pelos irmãos, importa sofrer pela Verdade, mas não é de se ter alegria se um Cristão sofre justamente, ou seja, se sofre porque seus pecados, erros e maldades exigem reparo diante dos homens e diante do Altíssimo Juiz. Ser atribulado porque você falhou na criação dos seus filhos e, fora da Aliança, eles gastam suas vidas em bebederias, casamentos desfeitos e brigas; ser atribulado porque você se entremeteu ambiciosamente em negócios ilegais ou imorais, em espertezas que te proporcionam uma rápida ascensão social ou satisfazem seus desejos de deleitar-se nos prazeres do mundo; ser atribulado porque não consegue controlar suas paixões e perde seu tempo, equilíbrio e dinheiro com loterias, diversões baixas, ou na aquisição de carros e motos que mal cabem em seu orçamento; ser atribulado por causa de seus pecados, isto não é o que está aqui sendo destacado, nem é uma característica distinta do Cristão; antes, é uma característica de quem tem a ira de Deus sobre si e, eventualmente, uma característica de um Cristão ainda displicente e negligente em suas batalhas; entretanto, é, propriamente característica de um ímpio. Assim, importa sofrer aflições, por causa da justiça e retidão, por causa do Evangelho e de Cristo em nós, por causa da Igreja, do amor pela comunhão dos Santos; mas não pela injustiça e pela maldade que praticamos.


Importava, portanto, que antes que os novos céus e nova terra onde habita a justiça se revelessam, os Apóstolos e discípulos fossem confirmados em suas almas e engajados a continuarem na fé, por meio de muitas tribulações. Tal é a Igreja Cristã, e tal é o Reino de Cristo, tão contrário aos Impérios da Terra, que não encontra seu crescimento pelo domínio, nem pela força, nem pelo número de seus exércitos; mas pela submissão às autoridades civis (mesmo àquelas que proporcionam o mal) [

1 Timóteo 2:1-2; Romanos 13:1-7; 1 Pedro 2:17], por fazer o bem aos inimigos e orar por eles (e não por perseguí-los física ou politicamente)[Mateus 5.44-48], pela fraqueza (que nos leva ao martírio e não às armas) [Atos 4;35;5:40-42; 2 Coríntios 12:9], pela pobreza (porque o que temos, entregamos para os pobres e empregamos em tudo o que traz benefício espiritual e, ainda quando ricos, nos fazemos todos pobres, tendo, não prata ou ouro, mas o poder da Palavra) [Atos 3:6; Deuteronômio 15:7; Tiago 2:6; Efésios 4:28], e pela loucura (porque Deus escolheu a loucura da pregação para converter ao mundo) [1 Atos 26:24; Coríntios 1:18-25; 2:14]. Ora, a tribulação confirma os Santos, em lugar de os desanimar e afastar, porque a natureza da Igreja não é natureza do mundo; eis um Reino Espiritual, que tem glória naquilo que o mundo rejeita e, quando sofre o que para o mundo seria uma derrota, na verdade triunfa. Tal natureza da Igreja é tão fixa que, ainda quando, em determinado tempo ou lugar, temos um grande número em nossas fileiras e abundância em nossas mesas, é nosso dever contar com as mesmas armas espirituais de antes, não confiando nas temporais providências, mas mantendo os olhos no Senhor e, em amor, compartilhando nossos bens e número com aquelas partes da Igreja que não se encontram sob a mesma bonança. A Igreja está sempre em tribulações, porque tudo está encerrado sob pecado, para manifestação da Graça, e sofrimentos determinados, para manifestação de Cristo em nós; sim, mais uma vez destaco - eis que temos um Reino Espiritual; mas não em luta contra um reino material, antes, sobre e além de todas as riquezas e recusos temporais. Assim, aqueles que com Cristo, nosso Rei, se assentam, aqueles a quem foi destinado o reino, há de ser aquele que serve e que, antes da glória, suporta a Cruz [Lucas 9:23; 22:23-30]. Como já constatamos, nada poderia constrastar mais com as expectativas Judaicas de um Reino Teocrático estabelecido pelo Messias, do que esta realidade constantemente frisada pelo Senhor em Seu Discurso Escatológico.


Logo após serem enunciadas estas preciosas palavras, vieram as perseguições por parte dos Judeus; posteriormente, vieram as perseguições por parte dos pagãos; e logo, como suas sinagogas e assembléias maldosamente usavam suas influências para manobrar os poderes políticos do mundo e uniam as mãos com aqueles que perversamente ocupavam o poder, maldosamente se colocando ao mau serviço dos líderes corruptos, servindo e obedecendo primeiro aos homens e depois ao Criador (se, no todo, chegassem a obedecer algo da Palavra), andando junto com aqueles que deveriam beijar o Filho e servir como instrumentos de Deus [Salmo 2:9-12]; por tanto logo vieram as perseguições por parte do Estado, inicialmente sob Nero César. Boatos e propagandas espalharam o ódio contra os Cristãos e era dito que "os Cristãos odeiam a humanidade", "crêem em uma superstição levada a limites extravagantes", "uma superstição mortífera"; que eram "ateus" e "canibais", "incestuosos e imorais". Chamavam ao Cristianismo de superstição porque suas filosofias e suas religiões tradicionais não explicavam a Verdade Cristã; diziam odiarmos a humanidade porque conhecemos a miséria do homem natural, morto em delitos e pecados, e anunciamos a Ira de Deus sobre a humanidade; éramos extravagantes e mortíferos porque o Cristão dirigia toda sua vida à estrita obediência a Escritura e estava disposto a desgastar-se pela Fé; ateus porque não criam no que a sociedade comumente acreditava e, por fim, canibais porque a carne e o sangue de Cristo, tomados no Sacramento, eram tidos com tão grande estima e temor, que, pela Fé, ao falarem sobre a ordenança, o faziam de tal forma que verdadeiramente convenciam os ouvintes a respeito da sacralidade do que ali performavam; e incestuosos porque a fraternidade que havia entre os Cristãos era tão notável, e o amor que os unia era tão genuíno que muitos criam que as comunidades Cristãs eram formadas por irmãos cosangüíneos, filhos de um mesmo pai terreal, e não por irmãos espirituais, filhos de um mesmo Pai Celestial . Assim, eram odiados e perseguidos, contrariavam o mundo e exaltavam a nosso Senhor. Como nos falta esta Fé hoje, como estamos distantes de tais acusações por termos negociado e abrandado nosso testemunho e esfriado em nossa piedade.

É verdade que há muitos que dizem que as perseguições e tribulações encontram fim quando uma nação se cristianiza; porém, se a comunhão nacional da Igreja se nacionaliza, em lugar da nação se tornar Cristã, então, isolada em seu território nacional e dividindo o coração entre a Fé e o nacionalismo, tal comunhão nacional encontra a paz ilusória de um sepulcro caiado. Agora, quando o Senhor concede prosperidade a Sua Igreja em determinada região, de tal modo que ela influencia e abriga a nação sob a sombra de suas folhas e tal comunhão nacional se entrega à defesa e auxílio das congregações que, em outras partes do mundo, sofrem e lutam para pregar o Evangelho e levar luz às trevas, então não lhes faltará aflições. Veja que a Ilha da Madeira, no século XIX, era um lugar pacífico; pessoas do mundo inteiro viajavam para aquelas terras para descansar e recuperar sua saúde, o clima era agradável e o relevo belíssimo; homens cultuavam ao Senhor em suas casas, estrangeiros reunidos pacificamente enquanto não pregassem para o povo da ilha, que permanecia sob as garras da Igreja Romana. Quando o Rev. Robert Kalley e, porteriormente, o Rev. Hewitson, chegaram aquele lugar e a Palavra foi manifesta ao povo, então, a paz daqueles que têm nome de Igreja mas não o são, se dissipou e podia-se ouvir novamente o clamor de que "Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui" [Atos 17.6]. Que nossas orações sejam para que o Senhor, em Sua Graça, nos conceda tal espírito, de transtornar a Terra e sofrer aflições por causa da Justiça e de nosso Amor a Cristo Jesus e ao Evangelho.

Esperança em Tempos de Apostasia - Parte 10

Na última edição do Jardim Clonal, nos concentramos na primeira parte do Discurso Escatológico de nosso Senhor, sobre a espiritualidade do Reino de Deus, e iniciamos o estudo sobre os sinais e os tempos descritos ali. É a partir deste ponto, sobre os sinais e os tempos, que prosseguiremos nosso estudo.

Segunda Parte do Discurso: Os Sinais e os Tempos (continuação)

Então, Jesus lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane. Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu! Eu sou o Cristo. E também: Chegou a hora! E enganarão a muitos. Não os sigais. E certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras, e revoluções; vede, não vos assusteis, porque é necessário que primeiro aconteçam estas coisas; mas ainda não é o fim, e o fim não será logo.” [Mateus 24:4-6; Marcos 13:5-7;Lucas 21:8-9]

Como é perfeita a Escritura! Somente o Espírito do Santo Deus poderia ter inspirado tais palavras, somente o Cristo, o Filho de Deus, poderia tê-las dito em momento tão oportuno – pois, enquanto os discípulos contemplavam a glória dos homens, pensavam nas coisas terreais e inquiriam curiosamente quanto aos secretos decretos Divinos pertinentes a História vindoura, nosso Mestre Jesus dirigiu-os para o cuidado com suas almas desde o presente e para as preocupações concernentes ao seu destino Eterno. Nosso Senhor (e seus Apóstolos, que sendo transformados pelo Espírito, assim também se tornariam posteriormente) é eminentemente piedoso – pastoral e prático, poderíamos dizer - professor da mais clara Verdade Bíblica, que nos alimenta a alma, e nisto frutifica visivelmente em nosso viver. Conhecer os sinais do fim dos tempos” é menos importante do que ter em si os sinais do novo nascimento” – sem o nascer do alto, jamais se pode ver realmente o Reino dos Céus, ainda que se conheça todos os seus sinais - por conseguinte, nosso Senhor Cristo Jesus começa Seu Sermão Escatológico com aquilo que ainda não é o fim [Mateus 24:6], mas que é, sobretudo, uma indelével marca de que haverá um fim, de que a Redenção da Criação ainda não se concretizou plenamente; de que o novo céu e a nova terra, que já adentraram a presente era, ainda estão sendo edificados para a Eternidade; de que o pecado ainda consome e destrói as almas dos homens; de que devemos temer por nossas almas e buscar, com verdadeiro arrependimento enquanto ainda há tempo, Àquele único que pode salvá-las. Deste modo, aquele que se preserva em Cristo e nEle, por meio de Sua Graça, aparta-se de todo mal – aquele que teme a condenação certa que paira sobre o mundo e sobre todos os que amam o presente século - resistirá a qualquer tribulação, seja qual for. Este é, portanto, o alerta de nosso Mestre: Vede que ninguém vos engane”; donde, entende-se “tenhais zêlo pela Verdade do Evangelho, que pode libertar-vos dos vossos pecados e desviar de vós a Ira de Deus; sigais-me e não sejais seduzidos para outros caminhos, mantenhais-vos atentos à Palavra.” Repito ainda mais uma vez: que precioso alerta nosso Senhor nos deu! Pois notemos que mesmo os discípulos já estavam, de certa forma, seduzidos por uma falsa esperança de segurança, uma falsa esperança de uma breve e descomplicada vitória [Marcos 10:37] - contaminados que estavam pelo fermento da doutrina Judaica - a qual, por sua vez, semeia a apostasia ao infundir nos homens tal confiança carnal, bem como a perversa impressão de que importa que Deus antes os livre dos seus perseguidores e das tribulações do que de seus pecados e indulgência. Os falsos mestres amam as elucubrações escatológicas complexas, as quais prometem apaziguar a carne e alimentam um maldito orgulho espiritual, dando aos homens a impressão de que decifraram os secretos decretos do Altíssimo [1 Tessalonicenses 5:1,2; 2 Tessalonicenses 2:2; Atos 1:7]. Ora, desde os dias dos Apóstolos até ao fim da História haverá falsos Cristos, falsos profetas e falsas igrejas. Muitos se arvoraram e se arvorarão em levantarem suas Bíblias e dizer Jesus Cristo é o Senhor”; muitos falsos mestres gritaram esta frase nas praças públicas e exaltaram a si próprios com extravagantes exorcismos [Atos 19:13], e muitos ainda gritarão; e escreverão, como já tem escrito, estes dizeres na frente de seus templos e na porta de suas casas; porém, não basta dizereem “Jesus Cristo é o Senhor”, e não basta ostentarem este lema (ainda que o escrevessem em suas próprias frontes), não basta acercar-se de milagres e grandes prodígios, não basta – antes, ter estes fenômenos em tão alto apreço é mais um tropeço do que um auxílio [João 4:48;20:29; Atos 8:13,18-23; 1 Coríntios 1:22-25; 2 Tessalonicenses 2:9; Apocalipse 13:13;16:14; Deuteronômio 13]. Em verdade, nem todo o que se proclama servo do Altíssimo é um Cristão [cf. Mateus 7:21]; pelo contrário, aqueles que tem aparência de Cristo, o manso Cordeiro, muitas vezes falam como o Dragão, que é Satanás, a antiga serpente [cf. Apocalipse 13:11]. Muitos se dizem Cristãos, muitos se dizem mestres, sábios e poderosos, “muitos virão em meu nome … e enganarão a muitos” [Mateus 24:4-6]. Contudo, em verdade, bem poucos são os Cristãos verdadeiros [Mateus 20:16; 22:14]. Deste modo, em Seu Discurso Escatológico, o Senhor Cristo Jesus aponta, em primeira ordem, para este grande perigo que são aqueles que podem nos desviar do Caminho e nos atrair, mesmo que temporariamente, para desvios mortíferos; para aqueles que utilizando o nome de Cristo, pregam falsas doutrinas e, pretensiosamente, clamam ter poderes e prerrogativas que pertencem somente ao Salvador; homens que se colocam em lugar de Cristo, ousando evocarem bênçãos e maldições, pretensamente condenarem e salvarem, e conclamarem os homens para que, por sua própria força, vontade e decisão, dominem sobre o mundo, como se a semelhança daquelas ilusões judaicas que quase seduziram os discípulos pudessem trazer o Reino de Deus à Terra (ou à si mesmos). Quando tais enganadores vêm, devemos resistí-los pela Palavra. Amados irmãos, se curvem somente ao que a Escritura ordena: não se deixem enganar por promessas de vitória e conquista, por devaneios e imaginações daqueles que pensam que Deus se agrada de ser adorado segundo as vontades dos homens - miseráveis e corruptas criaturas Suas. Vejam que foram promessas de instantânea paz ao mundo, de riqueza e poder temporais e imediatos; foram messianismos; foram ilusões de que Deus pode ser manipulado segundo os interesses humanos e de que as Suas Palavras podem ser usadas também segundo estes mesquinhos interesses; foram coisas como estas que, nos dias dos Apóstolos, irromperam em grande número, da forja corrupta que é a mente dos apóstatas. Sim, naquele tempo se levantaram inúmeros impostores [cf. Atos 5:36-39; 8:9-11; 2 Pedro 2:1-21; 1 Timóteo 1:3-11; 1 João 2:18], mais ainda do que temos visto hoje, e arrebataram multidões atrás de si. E assim, em todos os períodos da História, quando o julgamento de Deus visita-nos (para condenar os ímpios e aperfeiçoar os justos), Ele muitas vezes o faz através das tentações de apostasia e da ameaça dos inimigos da Fé [cf. Juízes 3:1,2]; e, quando sua Igreja, então provada e refinada, quebrantada e suplicante, levanta-se em Santidade, o Senhor nisto os abençoou e fortalecerá [cf. Êxodo 15:25; Juízes 2:18;Isaías 51:13-16;61:1-11; Jeremias 9:7; Salmo 66:5-12]. Como os ímpios rejeitam a voz dos verdadeiros profetas, cujas palavras estão permanentemente fixadas na Escritura, o Senhor os entrega aos falsos profetas [Deuteronômio 13:3; Isaías 29:10] para que sejam enganados e pilhados po tais; e tanto mais, tendo acumulado sobre si mesmos o sangue dos profetas do Senhor, e tendo chamado sobre si mesmos o Sague do próprio Senhor e Cristo, a Jerusalém foi, como parte e prenúncio da sua derrocada, rejeição e destruição, entregue aos falsos cristos e demais enganadores, que dividiram ainda mais o povo em partidos e facções rivais que fomentaram revoluções e reveldias tais que somente aumentaram e atrairam sobre si a espada do Império, que não era outra senão a espada da Ira de Deus.

Nosso Senhor alertou também para o que seriamguerras e rumores de guerras” as quais, igualmente, servem de instrumento em Suas mãos para provar os justos e para destruir os homens (e os reinos) malignos. Quando Cristo nasceu, houve uma grande paz entre as províncias de toda aquela região e isto foi uma grande obra da Providência para o progresso do Evangelho; mas não foi para trazer ou manter a paz que o Senhor veio ao mundo [Lucas 12:51], e, uma vez tendo sido perseguido pelos Judeus, uma vez tendo sido objeto de escárnio e afronta, então a paz foi então retirada de entre eles e não mais se apartou de seu meio a já citada espada da Vingança Divina. Ora, naquela grande Revelação da Glória, quando os velhos céus e a velha terra passaram (a saber, o Estado e a Religião Judaicas, cujas sombras prenunciavam a perfeita religião que há em Cristo Jesus), quando, pelas dores de parto se anunciava o nascimento da Igreja, então uma dramática quantidade de falsos mestres, falsos cristos e guerras assolaram o mundo conhecido, especialmente a região da Judéia; a paz, em todos os sentidos, foi retirada de entre aqueles povos (e isto foi de tal maneira que de 66 d.C. até 71 d.C, todo o Império esteve terrivelmente atribulado, e cinco césares se sucederam no trono, com um intervalo de poucos meses entre eles, tendo todos morrido de forma violenta). À cada nova visita e revelação da Glória, à cada nova visita, julgamento e vivificação que o Senhor, em Seu Espírito, traz ao mundo, pela Palavra e Graça, assim também, outras dramáticas guerras e outros falsos mestres e falsos cristos têm se levantado: assim foi no tempo da Reforma Protestante, quando Deus novamente visitou com glória Sua Igreja para vivificá-la e edificá-la, para exaltar a Cristo e fazer conhecido o poder de Sua Palavra; Reforma que foi acompanhada de malignos adversários da Palavra, hereges que desafiavam aos Reformadores e escandalizavam o Evangelho, bem como de muitas e terríveis guerras, com grandes julgamentos de Deus, (destruições enviadas sobre países inteiros, como as revoluções anabatistas e o saque de Roma); da mesma forma sucedeu no tempo dos Puritanos, com terríveis perseguições, revoltas e massacres na Inglaterra e Europa. Ouviremos de guerras e rumores de guerras e de falsos Cristos e falsos profetas em todas as eras da humanidade, enquanto o Senhor julga entre os povos e corrige as nações e estas convertem suas espadas em arados e não mais levantem a espada contra outra nação, nem mais aprendam a guerra” [cf. Isaías 2:4]: Isto é esperado a todos os que, como fizeram os Judeus do primeiro século, rejeitarem a Cristo Jesus e a Sua Palavra de Salvação portada por Seus ministros; sim, a todos os que recusarem a Salvação que o Evangelho anuncia e se fizerem rebeldes contra o Deus dos Exércitos, que lhes diz: Sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra. Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nEle com tremor. Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira” [cf. Salmo 2:10-12]. Portanto, nem nós, hoje, bem como nem os discípulos e os Apóstolos, naquele tempo em que o Senhor proferiu Seu Discurso Profético, devemos nos conturbar quando virmos estas entristecedoras marcas da Queda; antes, isto nos consolará pois, ainda que não seja o fim, é um firme sinal de que ele virá. Sim, não devemos nos perturbar, antes confiarmos no Senhor e vigiarmos para não sermos aturdidos em nosso progresso Cristão, na mortificação de nossos pecados, na edificação da Igreja; devemos descansar no Senhor, sabendo que Ele opera tudo para o bom propósito da Glória de Seu Nome e para a Salvação daqueles que Ele elegeu desde antes da fundação do mundo; sabendo ainda que é necessário que o Senhor derrame Sua ira sobre os povos (ainda que nem sempre o faça de maneira clara), para assim restringir a maldade do mundo e, como já foi dito, para assim acrisolar Seu povo; sabendo igualmente que é necessário remover, como outrora Ele o fez com Jerusalém, e abalar, as coisas antigas e velhas para que aquilo que é Eterno se estabeleça [Hebreus 12:11,27-29]. Outrossim, da mesma forma como a destruição de Jerusalém foi o fim do mundo antigo e a inauguração da revelação do mundo vindouro, este mesmo sinal se repetirá ainda muitas vezes, confirmando o que ele mesmo tipifica: que o Senhor cumprirá todas as promessas dadas pelos Seus profetas desde o início dos tempos. Haverá falsos cristos, falsos mestres e falsos profetas, haverá guerras e rumores de guerras, e isto ainda não é o fim; temos, portanto, razão para Esperança, razão para enfrentarmos cada tribulação, seja pessoal ou global, cada apostasia, cada heresia, sabendo que o Senhor nos prova em cada uma destas coisas e que, sendo boníssimo e misericordioso, Ele nos acrisola, como acrisola-se a prata, e retira de nós, por muitas batalhas, a escória que é o nosso pecado natural; sirva-nos isto de alerta para que fique suficientemente claro o quão corrupta é a natureza do homem, o quão grave é a morte a que nos levou a Queda de Adão e o quanto o Pecado é a pior de todas as pragas e chagas que o Universo conhece, sendo necessário combatê-lo por tão violentos métodos, tanto quanto são estes, os quais o Senhor, em toda Sua Sabedoria, Paciência e Amor, escolheu aplicar. Graças ao Senhor, e Glória e Louvores, pois Ele governa a História e jamais permitirá que tão peçonhento inimigo domine sobre Sua Igreja; pelo contrário, como veremos na próxima edição, os sinais e promessas a respeito do fim da História são doces, para que, em meio a esta guerra espiritual contra o Pecado, tenhamos uma firme visão da Vitória do Evangelho e do poder de Deus para fazer todas as coisas convergirem para a Glória de Cristo Jesus, nosso Rei, Profeta e Sacerdote Eterno.

Os versículos seguintes do nosso presente estudo continuam falando dos sinais e dos tempos proféticos. Mais uma vez ressalto que os Judeus esperavam que com o advento do Messias, possivelmente com algum cataclismo, o Reino Teocrático seria estabelecido em Israel, que dominaria todo o mundo; eles esperavam que esta era de ouro, este mundo porvir fosse imediatamente e plenamente introduzido por ocasião do advento do messias, que destruiria toda a presente ordem dos séculos. Entretanto, biblicamente, iluminados pelo Espírito com a mais clara luz do Novo Testamento, aprendemos aqui que o mundo porvir, sendo de natureza espiritual, é um Reino supranacional e invisível, uma nação santa espalhada por toda a Terra, composta de todos os homens chamados pelo Evangelho e unidos, pela Fé, a Cristo Jesus, o Rei e Sumo-sacerdote de nossa confissão.