Esperança em Tempos de Apostasia – Parte 3

O que é apostasia?

Há duas edições tenho falado de falta de esperança, de uma crença que tomou de assalto a Igreja, uma crença de que o amanhã é incerto e tenebroso. Isto é comum em todas épocas de apostasia – e é isto que estamos vivendo hoje. Uma época de afastamento, uma época onde a verdadeira religião está mais associada, visivelmente e na mente do povo, às falsificações deploráveis do que à verdadeira igreja, uma época onde os falsos mestres exploram o povo, devoram os pobres como se fossem pão, mentem, trapaceiam, pregam falsas doutrinas, causam escândalos, restabelecem costumes do Velho Testamento abolidos em Cristo, e, no entanto, aparentemente nenhum mal lhes sobrevêm. Isto é uma época de apostasia. Também é comum, quando a Igreja se afasta da sã doutrina de Cristo, que o amor se esfrie, que os ânimos se apaguem, que menos homens entreguem suas vidas pela fé, que menos dedicação, menos santidade e menos glória sejam vistos no meio do povo que se chama pelo nome do Altíssimo. O mundo também padece por causa da apostasia, pois, se a Igreja é a luz do mundo, quando esta luz está fraca, todo o mundo habita em trevas. As luxúrias então substituem o prazer divino da Palavra de Deus, e o orgulho substitui a constrição e o arrependimento. Isto é uma época de apostasia e é visível a todos olhos que vivemos numa destas épocas. Teria a Verdade mudado, ou a Escritura perdido Seu poder? Obviamente não. A Igreja sofre por causa daqueles que são seus aparentes membros, é a apostasia individual que abastece a miséria do abandono geral da Verdade. São os homens que introduzem cerimônias que nunca foram ordenadas no culto ao Senhor, são os homens que toleram e elogiam os lobos em pele de cordeiro e não repreendem o mal com o vigor que deveriam, são os homens que não vivem conforme a justa representação que deveriam fazer da Verdade e da Santidade de Cristo Jesus. Em suma, o problema somos nós. O problema sou eu, meu pecado, meu fraco combate, minha falta de fé. O problema é você. Não basta olhar para a igreja ao lado nem para o irmão do banco da frente; em primeiro lugar, nós mesmos somos a apostasia. O Senhor nos adverte: “Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão” [Lucas 6:42]. Devemos temer que Ele olhe para nós e declare "insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos " [Tito 3:3]. Ah, povo de Deus! Nação eleita desde a eternidade: Teria Cristo sangrado em vão, para comprar homens e mulheres que consideram Seu sangue um artigo barato? Teria Cristo sangrado e sofrido na Cruz para nos comprar uma reuniãozinha social aos domingos e nos livrar das coisas que fazem mal para nós mesmos como fumo, bebida e farra? Ou teria Ele trabalhado arduamente em Sua alma para comprar para Si homens e mulheres cujos passos sejam os mesmos de Estevão e de Filipe, passos de fé conforme o Evangelho - humildade, temperança, benignidade, zêlo, cruz? Não diminuamos a exigência que nos é feita! A Escritura é clara: todo aquele que foi Salvo pela Fé anda conforme as obras da luz e dá sua vida pelo Reino de Cristo, nega-se a si mesmo e segue seu Salvador, perdendo a própria vida para ganhar a que já lhe foi dada. [cf. 1 João 1:6, Mateus 10:32-39] Porém, andar em uma rua larga, com uma vida regalada, junto a multidão sem número, todos justos aos seus próprios olhos, é andar na estrada da apostasia rumo ao tormento do inferno e as câmaras da morte. Para olharmos a Esperança bendita que a Escritura anuncia para a Igreja, devemos ter a segurança da bendita Esperança de Cristo em nós. Devemos ter a clara certeza e o claro testemunho de que as obras da carne não são manifestas em nós, de que as obras da carne não prosperam em nossa vida, de que não vivemos em "adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas" [Gálatas 5:19-21]. Porque estas são as abominações derramadas como pragas sobre toda multidão de apóstatas e “os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus” [Gálatas 5:19-21]. Ou vive em nós o poder do Evangelho segundo a piedade, em uma vida plena em Cristo, ou teremos sérios motivos para listar nossos próprios nomes entre aqueles que renunciaram a Graça e a Sabedoria do único Senhor e Cabeça da Igreja. Isto é apostasia – o fruto podre da hipocrisia, da presunção de salvação através de um exercício externo de religiosidade. É no coração pecaminoso de cada um de nós que ela começa e é lá que ela deve ser combatida primeiro.

A Razão da Esperança
Agora, se somos a verdadeira Igreja de Cristo, se temos combatido arduamente nossos pecados, com todos os meios espirituais que o Senhor nos provê, se temos tido vitórias e mortificado cada vez mais nosso Velho Homem, então há razão para Esperança, há razão para regozijo, para aguardar no Senhor que Ele nos visite e habite a Sua Igreja com a Glória que só Ele possui. Graças ao Senhor por que a nossa esperança em Cristo não se limita apenas à esta vida [cf. 1 Coríntios 15:19], mas conhecemos o poder dAquele que ressuscitou dentre os mortos e reina hoje, para ressuscitar conSigo sua Igreja quando ela, aparentemente, está derrotada [Apocalipse 11:11]. Soberanamente, Deus opera a vivificação de nosso espírito, conforme Seu Santo querer, e a vivificação de Sua Igreja, conforme Lhe apraz em Sua vontade. Cabe a nós nos humilharmos diante dEle, com corações quebrantados, arrependidos; cabe a nós orarmos, jejuarmos, clamarmos e nos dedicarmos à Deus com todas as forças e todo entendimento da Escritura, e esperarmos nEle. A Soberania de Deus é a razão da nossa esperança – o Seu poder que não foi vencido nem pela morte, nem pelo inferno; a Sua mão que não pode ser impedida, esta é a nossa esperança; esperança anunciada pela ressurreição de Cristo Jesus, da qual tomamos parte pela fé, e a qual prenuncia a vivificação da Igreja, a redenção que ela operará no mundo e a redenção final e cósmica na Nova Jerusalém.
Contudo, muitos perguntam: Como pode ser lícito orar por vivificação e restauração, e esperar tal coisa se as profecias anunciam que tudo se tornará cada vez pior e que estamos vivendo a Grande Apostasia antes do fim? Respondo: primeiro, que a Escritura não é precisa em suas datas proféticas (nem tem o intuito de nos fazer conhecer o futuro através de datas) e segundo, de que há profecias a respeito da vitória da Igreja e do Evangelho (e que tais profecias não manifestaram ainda seu maior grau de cumprimento). Ademais, ao relembrarmos nossas últimas edições percebemos que a hermenêutica experiencial e a influência de teorias como o arminianismo e o futurismo são os maiores responsáveis pela idéia corrente de que o futuro da Igreja é tenebroso. Não há, portanto, razões bíblicas para nos acuarmos e aguardarmos o retorno iminente de nosso Senhor - nosso Salvador não voltará sem que antes certos eventos, eventos de um rica bem-aventurança na Igreja, ocorram. Não é em nossas forças e métodos, nem em nossas riquezas terrenas, nem em uma igreja visivelmente próspera que devemos confiar, mas devemos manter nossos olhos fitos nos céus, junto ao trono de nosso Senhor que, como já citamos na outra edição, aguarda até que Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés [cf. Atos 2:33-36].

Estamos na iminência da Volta de Cristo?
Em Atos dos Apóstolos está escrito: “Esse Jesus, que dentre vós foi levado para o céu, há de vir assim como para o céu o vistes subir” [Atos 1:11]. Portanto, sabemos que nosso Mestre voltará. Este testemunho, esta esperança da glória final, é uma das mais basilares doutrinas Cristãs. Além de Atos (também em Atos 17:31), nós a ouvimos também nas Epístolas de São Pedro, São Paulo, São Tiago, São João e no Apocalipse. E podemos encontrá-la no Credo Apostólico: “de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos”. A volta de Cristo é, ainda, como consumação de toda a escatologia e como toda escatologia deve ser, uma doutrina para nos dirigir à santidade, para nos desligar da confiança naquilo que se pode ver e nos centrar em Cristo, para que tudo façamos por amor a Ele. A escatologia segundo a piedade versa que, como, quanto ao mundo, “todas as coisas hão de ser desfeitas”, devemos viver “em santo procedimento e piedade” e nos empenhar para sermos “achados por Ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis” [cf. 2 Pedro 3:11,14]. Toda nossa reflexão neste tema deve ser tão profunda de tal modo que produza mudança sensível em nosso proceder diário. O santo Apóstolo Pedro nos diz que devemos viver de maneira que apressemos a vinda do Senhor Jesus [cf. 2 Pedro 3:12]. A tradução desta passagem é diferente em algumas versões da bíblia, porém a palavra grega aqui usada no original (speudo), segundo o contexto e seu uso mais comum, significa apressar e não ansiar ou desejar ardentemente - como alguns dispensacionalistas tentam mostrar. Outras traduções inseriram o pronome vos, criando a expressão apressando-vos. Este pronome também não está no texto original e, se a tradução for ao menos honesta com a intrusão, você notará o itálico no pronome vos impresso em sua Bíblia, indicando que este pronome não faz parte do texto original. Assim, o sentido original do texto grego é simples e direto, ainda que desafie a teologia de certas tradições dispensacionalistas ou fatalistas, pois neste texto, o Deus Eterno mais uma vez nos ensina que Seus decretos imutáveis incluem os meios comuns. O Santo Espírito de Deus ordenou tais palavras nesta passagem e Ele nos comunica aqui que uma espera diligente, ativa, por parte da Verdadeira Igreja, é um sinal da vinda de Cristo. Uma espera passiva, acuada, é um sinal de esfriamento espiritual e de que Cristo não está às portas. Isto nos mostra que o conselho eterno de Deus, no qual Deus Pai determinou o dia da volta de Cristo Jesus foi, como toda a História, decretado em conjunto com outros elementos, com todo um cenário histórico montado por Deus. Foi assim na primeira vinda, que só se concretizou depois que o tempo profético – a plenitude dos tempos – chegou. O santo Apóstolo Pedro nos mostra aqui que a vinda de Cristo demora porque Ele é longânimo para conosco [2 Pedro 3:9] e aguarda com que todos os seus eleitos sejam chamados pelo anúncio do Evangelho [Marcos 13:10]. Uma Igreja que ora pelo cumprimento da Grande Comissão [Lucas 11:2], obedece ao Senhor com uma vida santificada em Cristo [2 Pedro 3:11], e evangeliza toda raça, povo, tribo e nação [Apocalipse 5:9;7:9] apressa a volta de nosso Amado. A esperança da Nova Jerusalém que desce dos céus, a esperança dos novos céus e da nova terra, onde habita a justiça, é a esperança desta Igreja, destes crentes, que já vivem de maneira condizente com esta esperança e já almejam e trabalham pela redenção do mundo, pela justiça e santidade que os aguarda em plenitude no estado futuro perfeito. Concluímos, portanto, que:
1) Eventos importantes deverão ocorrer antes que o Senhor Cristo Jesus retorne;
2) Nós somos parte ativa da realização destes eventos;
3) A volta de Jesus não é iminente.
Mas a Epístola aos Hebreus capítulo 10, versículo 37 e o livro de Apocalipse capítulo 22, versículo 7, dentre outras passagens, ensinam que Cristo virá “logo e sem demora”. Não se surpreendam com o que vou dizer, mas Cristo virá logo e sem demora! Sim, quando olhamos o mundo da perspectiva do Eterno para quem “mil anos são como um dia” [2 Pedro 3:8], então Ele virá logo. Todavia, quando olhamos pela perspectiva temporal, então há uma mudança, há uma cronologia, há uma demora. No capítulo 24 do Evangelho de São Mateus, os discípulos perguntam para nosso Senhor: “Quando será o dia de Sua vinda?”. Este capítulo deve ser examinado minuciosamente porque, embora Cristo soubesse exatamente o que o panorama futuro Lhe reservava, os discípulos estavam confusos e ainda não haviam aprendido a distinguir o futuro do Israel segundo a carne, e o futuro do Israel segundo o Espírito; eles confundiam a bem-aventurança do povo da Jerusalém Celestial com a bem-aventurança do povo da Jerusalém Terrena. Nosso Senhor lhes responde traçando um corte no tempo, sobrepondo e contrastando com o futuro da Igreja e o futuro de Israel. Voltarei a este capítulo em outra edição, mas por hora é suficiente notarmos algumas coisas na resposta que nosso Senhor forneceu aos Seus discípulos:

1) Sua vinda será precedida pela evangelização dos gentios: “E este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim”. Todas as nações terão testemunho do Evangelho, haverá discípulos de Cristo, conhecedores de Deus e da Verdade das Escrituras e haverá verdadeiras Igrejas, fiéis na Palavra e nos Sacramentos testemunhando a todo povo, raça, língua e nação [Mateus 8:11;13:31,32;28:18-20, Marcos 13:10,Lucas 2:32; Atos 15:14; Romanos 9:24-26; Efésios 2:11-20].

2) Sua vinda será precedida pela evangelização dos judeus: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério: ... que veio o endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo...” [Romanos 11:25,26]. É verdade que quanto ao poder e alcance do Evangelho não há diferença entre judeu e gentio [Gálatas 3:28], e que a Aliança de Deus não está mais confinada ao âmbito nacional ou étnico, mas, agora claramente, é universal e espiritual [João 4:21;Romanos 9 e 10]. Ainda existe, no entanto, um grupo de pessoas que estão arraigados no Velho Testamento, chamando-se pelo nome de judeus e praticando a religião da extinta nação de Israel. Este povo, que ainda guarda as leis abolidas em Cristo e permanece com um véu sobre seu coração de pedra, verá ser chamado de entre eles um remanescente, segundo a eleição da Graça, que, junto da “plenitude dos gentios”, sem qualquer privilégio especial, integrará a Igreja de Cristo, a chamada Israel de Deus [Gálatas 6:16] referido no versículo acima como “todo o Israel”. Junto aos gentios eles participarão desta espiritualmente próspera e notável Igreja que a promessa de Deus fará visível no futuro [Zacarias 12.10; 13.1; 2 Coríntios 3.15, 16; Isaías 27:9,59:20-21; Jeremias 31:33,34].


3) Sua vinda será precedida pela ira de Satanás: “Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar contra os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” [Apocalipse 12:17]. Quanto mais Satanás vê seu tempo se esgotando, tanto mais se encoleriza. Por isso, imediatamente antes da vinda de Cristo, após a bem-aventurança da Igreja, a falsa Igreja com seus falsos profetas e o mundo, se unirão de tal maneira nunca vista e terão o firme propósito de destruir a Igreja de Cristo, com todo o poder de Satanás e seus prodígios de mentira. Será um tempo de perseguição como nunca antes visto e a batalha se tornará tão terrível nestes últimos tempos de existência do mundo, que estes dias serão abreviados. Graças ao Senhor que Sua Igreja será cheia de santidade, fé, perseverança e amor como nunca antes fora.

Vemos, nestes sinais que a Escritura nos dá, que a vinda de nosso Senhor não é iminente. Que há um futuro de triunfos na perspectiva profética da Igreja. Que por mais que as forças do mal se levantem, o propósito de Deus é a vitória do Evangelho em todo o mundo. A partir da próxima edição, cada um destes pontos será detidamente exposto com seus devidos textos da Escritura para que conheçamos mais da nossa esperança futura e nos empenhemos em trabalhar para realizar o propósito dAquele que nos tem chamado, o firme propósito de nosso Senhor a quem foi dada toda a autoridade no céu e na terra [Mateus 28:18]. O firme propósito de que Sua Igreja seja Santificada no Espírito, cheia da Palavra, com um só coração e uma só mente, para revelar ao mundo o caráter e a glória de Cristo Jesus.