A Incapacidade Científica - parte 2

A Ciência segundo a Teologia e os erros mais comuns desta relação

Expomos na última edição as falhas da metodologia científica e, portanto, a incapacidade da ciência em criar teorias gerais que reflitam a realidade. Também na última edição, ensaiamos uma definição de ciência segundo as Escrituras e a comparamos com a ciência segundo os homens.
Partimos, nesta edição, para o meu objetivo formal neste discurso: Delegar a ciência o seu lugar devido - uma ferramenta para fins práticos - evitando assim, os erros comuns de colocá-la como oposta ou estranha à Fé Cristã. Como já foi exposto, a ciência não tem nenhuma condição de alcançar a Verdade Última, nem de alcançar um conhecimento final sobre algo; logo, aquele homem hipotético do início do texto, (um cristão professo que não crê na historicidade de Gênesis, notando especificamente isto quanto a Adão), na verdade, se afastou do ensino geral da Escritura e ausentou sua mente da capacidade crítica de um exame lógico do que lhe é apresentado, adotando uma fé cega e mundana na ciência. Ao contrário do que pensa, baseando-nos no que aqui já foi exposto, tal homem não é em nada mais sábio ou racional que os homens fiéis que crêem nas Escrituras; antes, é um tolo que não percebe o quanto está em contradição (se um verdadeiro cristão se encontra em tal estado, está espiritualmente doente por não submeter integralmente sua vida à Escritura, e não tarda a receber de Cristo e da Igreja a devida repreensão e um correto ensino, para que se arrependa. Contudo, o mais provável é que um homem assim seja um ímpio iludido que professa Cristo, sem crer sequer no que Cristo mesmo pregava). Tornar a ciência uma forma de explicar o sentido ou a origem do mundo, ou uma forma de determinar o que é verdade, é delegar a ela uma tarefa impossível, pela própria natureza da ciência. Quando assim se procede, as conclusões encontradas exigem uma credulidade obtida por complacência e culto à ciência (ou muita ignorância) e não são mais racionais do que a explicação religiosa das Escrituras. O que é pior para os seguidores da ciência é que a congruência interna das proposições científicas, na medida em que se coadunam em um sistema, é muito inferior àquela apresentada pela Sã Doutrina Bíblica quando o mesmo ocorre. Verdadeiramente “Deus tornou louca a ciência do mundo” (cf. I Coríntios 1:20). Assim, a fé que a ciência exige é uma fé em algo escorregadio, instável, sem uma forte estrutura, que, em menos de uma vida, trai seus seguidores – os darwinistas do século XIX, por exemplo, já em 1920 se diziam “os últimos darwinistas” pois a teoria havia sido tão modificada (quando comparada ao seu aspecto original, conforme elaborada por Darwin), que aqueles de 1920 abandonaram os do século XIX, e os consideravam arcaicos e tolos. Portanto, a todos quantos se chamam Cristãos, tenham firme certeza de que tomar a explicação científica em detrimento ao Texto Inspirado é negar a glória de Deus revelada e trazer trevas sobre a própria mente.
Todavia, assim como há um cientificismo maligno e uma boa ciência, há uma teologia Cristã fiel às Escrituras e uma teologia pseudo-Cristã de interesses humanos. A pura teologia Cristã, como venho aqui para torná-la conhecida, limita a ciência ao que ela realmente é, contudo, ainda aproveita-lhe a aplicação prática, e a louva como manifestação do espírito racional que Deus criou no homem (e em nenhuma outra criatura). A boa compreensão da Escritura vê, na própria necessidade de explicação do Universo, uma prova cabal de que o homem foi construído para algo mais do que o natural. Tudo isto porque a ciência, em uma sadia cosmovisão Cristã, cumpre o mandato cultural de Deus - que é a ordem dada pelo Senhor para que o homem faça bom uso da Criação, guardando-a e produzindo através dela. A Escritura diz: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra.” Gênesis 1:26, domínio este que é exercido através da tecnologia e da ciência. Notemos o que diz Gênesis 2:10-15E saía um rio do Éden para regar o jardim ... onde há ouro ... bdélio e a pedra de ônix. Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o lavrar e guardar.”. Deus pôs Adão em um Jardim onde proveitosamente havia minerais e outros recursos naturais, ordenando a Adão que fizesse bom uso de tudo o que havia lá - tanto para o trabalho com a terra quanto para o trabalho com os minerais seria necessário o desenvolvimento de ciência e tecnologia. Gênesis 2:19 diz: “Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todo animal do campo e toda ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome.” o que, mais uma vez nos mostra Adão em um trabalho de produção e sistematização de informações que hoje chamamos ciência, principalmente quando consideramos as evidências lingüísticas e bíblicas (Gênesis 2:23, 3:20) de que Adão não deu aos animais nomes aleatórios, mas organizadamente e com significado os nomeou. Portanto, estamos seguros em afirmar que em uma teologia bíblica, há lugar útil e definido para a ciência, lugar cujo pleno proveito se expressa quando o cientista ao elaborar a pesquisa, ou o entusiasta ao admirá-la, puder ler “Santidade ao Senhor” em cada fórmula, postulado e aplicação produzidos, uma vez que, segundo o que vimos em Gênesis, o objetivo bíblico da ciência é fazer o homem cumprir, agradecido, ao que o Senhor deseja para ele e para o Universo que criou: refletir Sua Glória e Seus Divinos atributos.
Há diferença (como trataremos mais pausadamente em um capítulo mais adiante) entre a Terra criada em Gênesis e a Terra na qual vivemos. A Terra na qual Adão foi posto era perfeita. Nela não havia pecado nem mal algum. Contudo, Adão pecou e nisto abriu as portas da corrupção, que como um parasita, adentrou e afixou-se no Universo. Assim, a Terra, pelo pecado, se tornou maldita e produziu, ela mesma, males, rebelando-se ao domínio humano e, por fim, alimentando-se do próprio homem em sua morte (Gênesis 3:17-19). A Criação geme e não deseja o estado em que se encontra, ela aguarda a redenção pela revelação dos filhos de Deus (Romanos 8:19-24). Essa redenção se dará, plenamente, na revelação de Cristo (Romanos 3:24, 8:25, Efésios 1:7, 1 Coríntios 1:30) contudo, na medida em que os Santos glorificam ao Senhor em tudo o que fazem e manifestam no mundo a mente de Cristo que neles habita, tal redenção se manifesta em parte. Assim, pela reconciliação com Deus que há em Cristo, podemos afirmar que a boa ciência e a tecnologia devem objetivar, segundo a Escritura, um papel duplo na glorificação de Deus:

1) Manifestar a redenção que temos em Cristo - ao operar a misericórdia de Deus em mitigar as conseqüências da queda de Adão, que corrompeu o cosmos, reconstituindo pela ação de mentes santificadas em Cristo parte da pureza e ordem originais da Criação. Pois em Cristo há uma Nova Criação da qual os Crentes são as primícias.

2 ) Manifestar o favor de Deus ao mundo por Cristo – na face do bem, do cuidado, e do amor de Deus que vêm, igualmente, sobre os ímpios e justos, e por meio de ímpios ou de justos. Em Sua Soberania, o Senhor Deus, paciente, benevolente e sustentador, provê o mundo de boas dádivas e refreia a corrupção que o pecado almeja, enquanto aguarda que todos os que escolheu se salvem.

Na Cruz, ao morrer para nos Salvar, Deus nos deu o sumo exemplo de amor, constrangendo-nos a ter semelhante amor pelo próximo, em Cristo. O Senhor nos mostra que devemos alimentar os famintos, vestir os despidos e curar os doentes. E, pela compreensão e ação racional da Escritura, segundo a operação do Santo Espírito nos Cristãos, a ciência, investida de amor, mostra-se uma ferramenta da Divina Providência para todas estas coisas. Logo, em ambos os papéis aqui propostos para a ciência e a tecnologia, seja ao Senhor a glória e o louvor, pois Ele é Deus sobre a ciência e a tecnologia para manifestar-se nelas, tanto pelos Cristãos que cumprem seu dever de submetê-las a Cristo, quanto por ímpios quando a graciosa vontade do Senhor assim determina. Daí, compreendemos que mesmo quando, sem intenção, providencialmente o homem descobriu a penicilina, Deus operava ali pela redenção que há em Cristo. E quando o homem, com pesquisa, trabalho e razão, utilizou-se cientificamente desta providência e encontrou aplicações benéficas para o produto descoberto, Deus foi glorificado. Quando, sem intenção, providencialmente o homem descobriu a capacidade das microondas de 2,4ghz, Deus operava ali. Quando o homem, com pesquisa, trabalho e razão, utilizou-se cientificamente desta providência e encontrou aplicações benéficas para esta freqüência de ondas, Deus foi glorificado. Louvemos, o Senhor é Deus sobre os tratamentos médicos e sobre as técnicas cirúrgicas, dEle tudo provêm, sim! O Deus das Escrituras é Deus sobre as chuvas e os mares tanto quanto o é sobre a internet, a energia elétrica e os aviões – somente a Ele toda a glória para sempre!
Novamente pensando a respeito das teologias pseudo-Cristãs e, ao mesmo tempo, resumindo a reflexão feita até o momento, apliquemos nosso conhecimento em:
1 ) Nos afastarmos da teologia que separa a obra humana da obra Divina.
Há mais filosofia grega do que sabedoria de Cristo quando se divide a vida em compartimentos como: “secular” e “religioso”; ou “tecnológico” e “espiritual”. A realidade na qual o Senhor nos chama é a da santificação de todos os aspectos da existência e a submissão de toda Criação a Cristo - não percamos isto de vista. O Reino de Deus conquista almas aos céus, mas essas almas não transcendem imediatamente os limites da carne se tornando seres alheios, arrebatados que andam pela terra. Pelo contrário, o Reino de Deus se expressa nos Cristãos pela conquista de todas as coisas para Cristo. Os Cristãos são estrangeiros e peregrinos neste mundo, mas estão neste mundo – cabe ao Cristão, pela mente de Cristo que se forma nele, conquistar, em amor e santidade, tudo o que é “secular” para que seja redimida a existência que geme pelo pecado – o Cristão, segundo seu talento e atribuição, deve fazer e apreciar a ciência como quem serve a Deus, deve desempenhar seu trabalho como quem serve a Deus, deve fazer e apreciar a arte como quem serve a Deus; deve em tudo dar glória ao Senhor.
2 ) Fugirmos da armadilha da teologia que confirma a Escritura através da ciência e, assim, delega a ciência o veredito final, ainda que o faça apenas nos casos onde a Escritura e a ciência concordem. Pois, se delegarmos à ciência a capacidade de confirmar a Escritura, acabamos por afirmar alguma superioridade da ciência sobre a Escritura, ou alguma dependência da Escritura em relação à ciência. Além disso, se o fizermos, ficará subentendido que concordamos com o método científico (que já vimos ser falho) e que cremos que por este método pode-se alcançar a Verdade. É muito mais proveitoso e sincero argumentar usando a Escritura como prova dela mesma, (porque ela é perfeita) e usando as falhas da mentalidade do descrente contra ele mesmo, pois todo não-Cristão crê em algo cujas bases são tão frágeis que, se corretamente confrontadas, cairão pelo próprio peso. Se há de se utilizar a ciência em conjunto com a Escritura, que seja para uma baixa crítica textual, para uma melhor compreensão histórica do ambiente de determinada época a qual se refere o Texto Sagrado ou algo semelhante.
3 ) Evitarmos a teologia falha que confronta a ciência com mistérios.
Não é a falta de explicação ou de conhecimento a respeito de certas questões da natureza que nos farão (ou aos ateus e agnósticos) ver Deus; há muito mais sentido em vislumbrarmos o Criador em um Universo tão complexo e tão explorado, por ser isto (tanto a complexidade quanto a exploração) fantástico demais para ser fruto de uma coincidência, do que apreendermos a existência de Deus a partir de um Universo obscurantista onde cada ignorância se torna uma idolatria; o fato de não se conhecer, por exemplo, a real natureza do átomo não faz com que Deus esteja no átomo mais do que se o desvendássemos completamente - quando não conseguimos compreender uma questão científica, o mundo precisa de quem aprofunde-se com paixão e temor no assunto e não de quem o encerre e dogmatize declarando “isto pertence a Deus somente”, ainda que muitas coisas realmente pertençam só a Ele e nunca venham a ser cientificamente compreendidas. Quando, em alguma parte anterior deste texto, deixamos claro a incapacidade do método científico para alcançar a verdade, não estamos defendendo o obscurantismo e exaltando um completo mistério como certeza de Deus. Estamos, sim, estabelecendo o sistema teológico bíblico como a única cosmovisão Cristã possível, e, por isso mesmo, a única cosmovisão lógica, pura, útil e plenamente verdadeira, por ser a única fonte clara e certa das questões últimas da existência.
Nossa conclusão, neste texto é: O Cristão não é inimigo da ciência, nem da tecnologia, mas deve batalhar para que ela seja compreendida e aplicada em um lugar útil - como ferramenta dos homens para cumprir o mandato de Deus, dominando sobre a Criação por amor, para o bem, segundo a redenção que lhes foi dada em Cristo Jesus. A ciência é dinâmica e nunca encontra o fim de sua jornada, em contraste, a Verdade Cristã é imutável e completa na obra de Cristo, alardeando as Boas Novas da Graça de Deus, de que o homem pecador pode encontrar descanso e alívio no Senhor pela Cruz do Calvário. Cremos e desejamos que a ciência, os cientistas e os entusiastas tecnológicos se fixem na Rocha e não construam suas casas sobre a areia.
E isto é bem diferente de demonizar a ciência como um todo ou exaltar a Deus apenas nas falhas humanas que forem internas às diversas cosmovisões cientificistas.

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